quinta-feira, julho 20, 2006

Recuerdo 03 - MAMBEMBANDO

Hugo Caldas

Outra das minhas melhores lembranças é que estando de plantão no Aeroporto dos Guararapes, em uma bela manhã de sol, encontrei todo o elenco do Teatro do Estudante da Paraíba, a caminho de mais um Festival e de mais um prêmio. O pessoal todo fardadinho, tudo nos trinques. Para mim foi uma festa vê-los. Festa que terminou assim que continuaram a viagem, e eu fiquei no aeroporto a morrer de inveja, olhando o avião desaparecer por completo atrás das nuvens. Entrei de férias em alguns dias e me mandei para Brasília, com viagem marcada para Buenos Aires. Pensava encontrar o pessoal do TEP. Dito e feito. Brasília era uma festa. O restante da viagem foi cancelado ali mesmo no aeroporto.

Eram os tempos do “IIº Festival Nacional de Teatro de Estudantes”, que neste ano, com Paschoal Carlos Magno à frente, logo após a inauguração da cidade, seria realizado na jovem Capital Federal, a “Novacap”.

Ao término do Festival em Brasília cada grupo recebeu um roteiro com algumas cidades a serem visitadas no trajeto Brasília – Niterói onde o Festival efetivamente deveria terminar. Seguimos de ônibus pelo Triângulo Mineiro e nossa primeira parada foi uma cidade chamada Perdizes. Parecia mais ilustração de conto da carochinha pelo seu tamanho. Era uma pequena rua em L. Mas tinha tudo. Prefeitura, cinema, até uma “Praça de Touros”, menos um teatro. A função daquela noite teria mesmo que ser no recinto do cinema, vetusto prédio cinza, porém simpático.

A peça era “Isabel do Sertão” de Luís Jardim e usava muitas palavras regionais, o que talvez dificultasse o entendimento das pessoas do país mineiro. Fui incumbido então de ir à frente do pano, dizer o motivo da nossa presença e agradecer as autoridades, na pessoa do Senhor Prefeito, a acolhida recebida, ao mesmo tempo em que explicava o significado dos vocábulos nordestinos.

Para o fiel cumprimento da minha tarefa procurei saber com alguém do cinema o nome completo do prefeito e demais autoridades. De posse da informação corri a cumprir o que por pouco não se constituiu em uma tragédia. Quando na frente do pano explicava tudo, passei então a agradecer a colaboração da cidade, “em nome do senhor prefeito, fulano de tal”, notei que um burburinho se espalhava desde a entrada até às primeiras filas. Pessoas tossindo, falando alto, mudando de posição nas cadeiras, enfim, algo estranho estava acontecendo. Final da minha apresentação fui lá pra fora fumar um cigarrinho. Foi quando um sujeito com cara de simpático se chegou e perguntou quem havia me dito o nome do prefeito. Disse-lhe que não sabia e ele com um ar de riso bem matreiro retrucou: pois meu caro você escapou de boa. O nome citado por você é o do sujeito que “come a mulher do prefeito e manda na prefeitura”. Todo mundo aqui sabe disso. Daí então, tremendo de alto a baixo compreendi o motivo de toda àquela agitação”.

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