sábado, setembro 02, 2006

O JORNAL

VALDEZ JUVAL


Apanhei o jornal e levei comigo como companhia. Acessei a varanda do apartamento e lá tudo que queria já estava a postos. Minha eficiente secretária colocara o litro de rum, a coca, o isopor com gelo e rodelas de limão em um pires, alem de meu copo preferido.

Antes que preparasse a dose, comecei a verificar a importância daquele jornal em minhas mãos. Meu companheiro, meu debatedor, meu informador, meu amigo que faria esquecer momentos de solidão. Surpreendí-me com fatos que até então ignorava e que a própria internet não havia me comunicado (ainda).

De qualquer forma comecei a me deleitar com o que estava lendo, o que escrevia os cronistas, especialistas em suas colunas. Outro mundo que concordaría ou não, mas não tínha tido o prazer de conhecer.

Fui, pouco à pouco, entre goles da bebida que havía preparado, sentindo aquela existência existindo ao meu redor. Pena, e que pena! O jornal me sujava as mãos e as vestes. Tinta preta que soltava e me fazia sujo e portador de sujeira. Não gostaria que fosse assim. Fui me lavar algumas vezes até que resolvi não mais usá-lo.

Lamentável decisão! O jornal, meu companheiro, amigo, confessor (?) (revelava segredos que somente ele me fazia chegar ao subconsciente) teria que ser desprezado, jogado ao lixo pois me deixava marcas que forçava o abandono.

Pensando melhor: não teria mais valor o que ele me fazia ler que a simples tinta preta que me colocava nas mãos e nas vestes? E para a minha solidão? Que outra companhia teria se o jogasse fora? Lógico que não pude abandoná-lo e sinto sempre como é bom tê-lo diante dos olhos e em minhas mãos.

Ainda acho que não é de se trocar um jornal que nos suje as mãos por notícias divulgadas em um computador.

(EXCLUSIVO para os Sites “eltheatro”, ”semfronteiras” e o Blog “Unlimited”)

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