domingo, outubro 01, 2006

PLANTA PARA O JARDIM

LUIZ GONZAGA LOPES

O homem que me atendeu foi solícito, sorridente, talvez pelo desejo de realizar a venda, aliviar o estoque de suas mercadorias, sobretudo sementes. Abriu o tosco armário de grossas madeiras, arrastou de dentro dele um gavetão tão rude quanto o armário, e se entregou ao trabalho de procurar o produto solicitado por mim. Revirava as pequenas sacolas em forma de envelopes, onde estavam contidas as sementes. Com dificuldade lia os rótulos, desajeitadamente remexia na gaveta, recomeçava a busca, por fim decidiu desistir. “Está em falta” disse, com ar de decepção, “mas posso providenciar para amanhã, ou depois, se o senhor desejar”.
Despedi-me do prestimoso homem, prometi voltar na próxima semana, talvez lá ele já tivesse conseguido repor no estoque de seu pequeno comércio a semente solicitada por mim.
Segui meu caminho.
Não foi preciso andar muito, no outro lado da rua avistei um estabelecimento similar.
Ao invés de um prestimoso senhor, fui recebido por uma amável e linda jardineira, moreno-clara, de olhos verdes e belo sorriso branco. Antes de formular meu pedido, conversamos sobre diversas espécies de plantas decorativas ali expostas, algumas próprias para sol, outras, para dependências internas.
Após ouvir variadas explicações, e muito aprender com a agradável moça, expliquei a ela que na parte da frente de minha casa, ao lado da piscina, eu havia reservado uma área para arborização. No meio dessa área, na verdade um grande canteiro, eu desejava plantar uma árvore que me parecia a mais adequada para o local, de acordo com o que estava idealizado em minha cabeça. Ao término da exposição, pedi-lhe a semente da já comentada árvore. A moça não pensou um segundo sequer, foi brevíssima na resposta: “não temos, nem nunca ouvi falar da existência dessa semente”.
Despedi-me frustrado, mas esperançoso. Se as duas sementeiras visitadas não dispunham do produto, outras, possivelmente, teriam. Levei no capricho a empreitada de realizar meu desejo, afinal o canteiro havia sido preparado com amor, nele um gramado bem verdinho, circundado por seixos rolados, de tamanhos uniforme, todos brancos, um primor. No centro, deixei como marca um pequeno círculo sem qualquer vegetação, destinado a receber a semente ou, numa hipótese ainda melhor, receber uma muda já crescida da almejada árvore.
Sempre fui persistente em minhas pretensões, só deixo de perseguir meus intentos depois de convencido da absoluta impossibilidade de realizá-los, não por esgotamento de minhas forças, mas por razões que escapam à lógica do possível. Com essa determinação entrei em diversas outras floriculturas, até que, em uma delas, a atendente, revelando-se pessoa das mais competentes, trouxe lá de dentro um enorme catálogo, espécie de dicionário de todas as plantas do mundo. Pela ordem alfabética abriu o enorme livro na letra indicada, precisamente a letra “G”. Percorreu com dedos e olhos, as páginas de cima a baixo, por fim abanou a cabeça em sinal negativo, “não tem”, ela disse.
Não convencida, resolveu dar outra pesquisada no volumoso catálogo. Para evitar qualquer vestígio de obscuridade, pediu que eu repetisse o nome da árvore desejada.
Não só tornei a falar do modo mais claro possível, como empunhando uma caneta, escrevi bem legível, em letras de imprensa:

ÁRVORE GENEALÓGICA.

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