sábado, novembro 25, 2006

DEU NAS FOLHAS & OUTROS SUCESSOS

Hugo Caldas

Vez por outra, amigo me recrimina quando acho de comentar o que andou saracoteando na mídia, chamando a atenção desse pobre marquês, de uma maneira ou de outra.

- "Deixa isso pra lá, diz ele, já está escrito", vai escrever os teus. Mas às vezes não dá.

Recebi de outro amigo um PPS sobre envelhecimento. Existe coisa mais abominável do que um pps? Os slides se sobrepondo desfiando uma prece ou historinha edificante tudo isso marcado por trilha sonora para gáudio dos ouvidos de um débil mental qualquer. "Envelheço quando me fecho para as novas idéias, quando o novo me assusta e a mente insiste em não aceitar. Quando me torno impaciente, intransigente e não consigo dialogar." Será?

"Envelhecer é a prova de que o inferno existe, diz Neiza Teixeira, brasileira, filósofa, nascida na ilha de Parintins. Ou será que, como os vinhos, nos tornamos melhores e mais exigentes à medida que a idade avança? Não será então, a troca dos valores que parece estar emporcalhando tudo?
O que era certo virou errado e vice-versa? O belo virou feio...

Abaixo o relato de algumas notícias veiculadas por diversos jornais na semana. Confesso que ando bastante temeroso, roendo as unhas, quase em pânico, pelo rumo que as coisas poderão tomar. Na medida do possível não citarei nomes, apenas acontecimentos.

Folha 1 - 18-11

- Um sujeito aqui, no Recife, lança livro infantil com o belo alvitre de "subverter a idéia de histórias com começo meio e fim." O livro tem por tìtulo "Uma História Sem Pé Nem Cabeça," onde as questões se transformam em um poema-história que "problematiza" a arte de escrever. Ora, vá...

- Diz o autor: "Não há muito que explicar como as histórias nascem. Elas aparecem do nada, não se sabe como nem o porquê, e vão a lugar nenhum."

- Tenho pra mim que sei para onde vai isso tudo aí.

Vai é entortar a cabecinha dos nossos putos (depressa, chama o Aurélio) que são em última análise o futuro "deste país". Já temos gerações de tresloucados e aloprados, teremos mais outras de candidatos a cargos eletivos desde governador, senador. Tudo cabeça ôca! Presidente nós já temos. Se virar moda é aí que reside o perigo. Sabemos que lá na Corte reina um monarca que nunca abriu um livro sequer, um Almanaque Capivarol, nada.

À propósito, a historieta que segue abaixo aconteceu mesmo!

- Corta para a beira de uma piscina onde estavam uns rapazotes a conversar, sobre assuntos vários (deles) quando alguém se saiu com a citação de uma música gravada por Engenheiros do Hawaii que falava "Não vou deixar pro meu filho a pampa pobre que eu herdei do meu pai." Antes que eu pudesse colocar os meus poucos neurônios para funcionar, um dos garotos, que se achava um pouco distanciado berrou de lá:

- E não é pra deixar mesmo! "Dá o maior problema de carburação."

- Ainda ouvi um resto de discussão..."o problema é que é muito difícil pensar!"
Oh, céus, oh dor!

Folha 2 - 21-11

A exposição de pintura tem o sugestivo nome de: "Ausência Substantiva".

- Mas, não é que me aparece, assim, que nem assombração, uma pintora que "liberta-se do uso da cor!?"

- Diz a crítica especializada: "Poderia-se (sic) dizer assim, que a mostra é dividida em dia e noite, simbolizados pelos tons opostos explorados pela autora."

- Diz a autora: "Na verdade eu trabalhava com tinta guache colorida. Mas a cor me atrapalhava muito, foi aí que resolvi extraí-la e explorar o cinza."

- No que obrou muito bem, digo eu. Já imaginaram a Última Ceia de Da Vinci toda em cinza? Os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina tudo cinzentinho da silva? Quem sabe, obras como "A Persistência da Memória," "São João da Cruz," "O Grande Masturbador," de Salvador Dali, tudo no mais belo e puro cinza? Van Gogh e mais uma plêiade de energúmenos que somente sabiam e como, trocar tintas, mas nunca imaginaram a singeleza de poder "evocar essas pinturas contemplando-as com forte teor minimalista?" Eu, hein!?

É o que eu digo: Já que não mais cultuamos a ética que pelo menos se respeite a estética...

Folha 3 - 16-11

Desculpem, mas dessa vez terei que falar o nome do santo.

- Ariano Suassuna foi e está sendo notícia "neste país" semana que passou. Andou elogiando o coronel de fancaria, Hugo Chavez, por haver ressuscitado Simão Bolivar, para ele, (Ariano) o homem mais importante da America Latina.

- Como, cara pálida? Como seria possível ressuscitar alguém que nunca morreu?
É só dar uma passadinha por Caracas para se certificar que Bolívar vive ainda no coração e na mente de todos os venezuelanos e demais países bolivarianos. Mas, como se pode elogiar um Bufão daqueles, professor?

Onde o Ariano de anos atrás? Onde o Ariano que durante Festival de Teatro no Recife na década de cinqüenta, se sentindo boicotado de alguma forma, escreveu uma fala no verso de papel prateado de um maço de cigarros e reduziu mais da metade do ato. Eu decorei aquela fala.

O Auto de João da Cruz estava sendo encenada pelo Teatro de Estudantes da Paraíba. Era uma peça pesadona mesmo. Mais para ler do que encenar. Não tinha o vigor e a leveza de A Compadecida. A platéia se retirava durante a encenação. Não deve ter sido fácil para ele naquele momento. Como não está sendo fácil agora, para mim vê-lo hoje, tecer elogios ao falastrão Chavez. Lamentável! E vamos, por favor, deixar de lado essa tal "latinidad" que já era velha no tempo de Nabucodonosor e só funciona quando toca um bolero. De preferência com a Sonora Matansera. Y viva Agustin Lara, viva Simon Diaz, y Gregório Barrios, y Bienvenido Granda y Lucho Gatica y más y mucho más!

Amiga que mora nos States me envia e-mail abaixo e pede comentários.

“Já foram muitas as vezes em que ouvi a pergunta: “mas o que há de poesia nisso?”. Esse “nisso” torna o rap algo pequeno e insignificante, ao contrário do que ele realmente é. Mas para muitos é fácil de entender porque na área de Letras estudamos os cantos indígenas brasileiros e de tribos africanas (que também compõem um grupo socialmente excluído), por exemplo, mas é quase impossível entender porque estudar manifestações da periferia brasileira e, mais difícil ainda, fazer ceder o preconceito para poder enxergar que na periferia se faz poesia de ótima qualidade.” Marília Gessa: estudante do curso de Letras da Unicamp ”Pesquisadora do projeto: "A poética do Rap brasileiro: uma abordagem sociolingüística.

N.R. Como essa turma gosta de complicar, não? H.C.

Bem senhora Hornung, andei pesquisando e descobri que RAP significa, na língua das ruas, em inglês Rhythm and Poetry ritmo e poesia, "expressão musical-verbal" da cultura Rhythm And Poetry. O Rap é um "gênero musical" surgido no início dos anos 70 nos Estados Unidos. A "música rap" é um dos elementos do "hip hop"; é uma espécie de texto com rimas "falado em ritmo" com instrumentos musicais.

Desculpe cara senhora, mas não posso levar à sério uma coisa que dizem ser um dos elementos do Hip Hop, seja lá o raio que isso signifique. Pensava, honestamente, que hip-hop fosse uma doença estomacal que se manifestava através de repetidos soluços.

Nestes termos....










4 comentários:

Unknown disse...

Carissimo amigo Hugo,

Voce arrasou mesmo nos seus comentarios sobre o hip hop. Eu tinha certeza que os seus neuronios iriam me agradecer. Voce realmente pesquisou e tenho certeza que deu boas risadas.
Consegue imaginar neuronios exercendo a gratidao???
Sorria, gargalhe...

Hugo Caldas disse...

Aviso aos Navegantes: O amigo Clemente não conseguiu postar o comentário e me autorizou a fazê-lo por ele. O texto segue abaixo: Hugo

Amigo Hugo,
Tentei enviar um comentário sobre seu último texto no blog, mas meu analfabetismo em computadores não me permitiu enviar o escrito, apesar das suas instruções. Falhei na hora de "despachar" a minha nota.
Eu dizia que estou de acordo com sua avaliação do novo surto de "porralouquice" que nos assola,e, como velho racionalista, já escrevi sobre coisa semelhante, em julho de 1976 (ver meu ensaio "A Nova Onda Irracionalista", publicado no Correio das Artes e no meu livro "Coco de Roda").
Sobre Ariano, temos que perdoar a sua ingenuidade política. Parece que, como penitência pelo seu já remoto passado conservador, ele se sente obrigado a apoiar incondicionalmente tudo o que imagina ser "de esquerda". E tais conceitos mudaram muito, em nossos dias. Por outro lado, como ele próprio já admitiu, humildemente, até um vereador interiorano é capaz de "enrolá-lo". Quando penso que contribuí para a "conversão " dele... (ver meu ensaio "A Solidão de Ariano Suassuna"). A única praia dele é mesmo a arte e a literatura.
Abraços e parabéns.
Clemente Rosas.

Neiza Teixeira disse...

Caro Hugo, agradeço a leitura que fez ao meu texto "A velhice é a prova de que o inferno existe, ou melhor, é algo entre o céu e o inferno, vá lá...", apenas lamento que não tenha pensado na sua proposta, pois o que ali se encontra não é aceitação da primeira parte da grande diva do teatro brasileiro Bibi Ferreira.
Neiza Teixeira

Hugo Caldas disse...

Professora Neiza
Não foi o meu propósito deixar de lado seu belo trabalho. Apenas não me competia aprofundar, não era o propósito da minha nota para o Blog. Simplesmente achei a frase linda, perfeita. Espero me desculpe se involutariamente não respeitei o texto completo.
Cordialmente, Hugo