quarta-feira, dezembro 06, 2006

DONA AMÁLIA BERNARDINO DE SOUZA: carisma e poder espiritual





Neide Hornung




Neide Hornung foi minha secretária no Pronaex e hoje vive uma bela história de amor nos States. De vez em quando o banzo a ataca e ela produz coisas muito interessantes como esta. Tem uma vida bastante inquieta assim como a minha. Também já foi inúmeras coisas. Agora ataca de professora de português pros gringos. Seja bem-vinda Mrs Hornung. H.C.

O Nordeste fervia naquele novembro de incertezas. Os quartéis preparavam um levante com o objetivo de derrubar o presidente Getúlio Vargas e instalar um governo socialista no Brasil. A capital potiguar era um dos epicentros do movimento.

O tenente Joaquim Bernardino Filho já se revelara um dos principais ativistas da Intentona. Agindo com muita bravura e disciplina, liderava os seus companheiros para uma ação que considerava justa e historicamente oportuna. O seu trabalho ia bem, dava bons frutos e já chegara aos ouvidos dos principais líderes do movimento e, por conseguinte, dos órgãos de repressão. Os seus passos eram acompanhados com extrema atenção por também ser amigo de outro potiguar e defensor das liberdades constitucionais: João Café Filho, que, mais tarde, foi eleito vice-presidente e assumiu a presidência da República com o suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954. Ao seu lado, o tenente Joaquim Bernardino participou de várias lutas e enfrentou os órgãos de repressão com a dignidade dos verdadeiros heróis.

Já quase no final do ano, após vários dias de completa reclusão no quartel em que servia, o tenente Bernardino fora passar um final-de-semana em casa, junto aos seus familiares, exatamante no dia em que se iniciou a reação do governo.

Em todo o Brasil começaram as prisões e perseguições aos rebeldes. Na capital potiguar, o tenente seria um dos primeiros. Estava descansando quando as tropas chegaram para prendê-lo. Tão logo o jipe do Exército parou no portão da sua casa - localizada na rua da Misericórdia, no centro de Natal - a sua mãe, Dona Amália Bernardino de Sousa tomou à frente na recepção aos enviados de Getúlio Vargas.

- O que querem?, perguntou-lhes.
- Viemos buscar o tenente, a mando do presidente.
- Ele não está. Podem entrar se quiserem, disse ao sargento que comandava a ação, abrindo-lhe o pequeno portão de ferro trabalhado.

A guarnição pediu licença, atravessou o amplo e bem cuidado jardim e vasculhou a casa. Mas, para espanto de todos da família, nenhum dos cinco militares viu o tenente, que assistiu a tudo do sofá da sala, boquiaberto e perguntando-se o que estava acontecendo. Ninguém sabia, ninguém nunca soube.

O fato é que a Dona Amália Augusta de Sousa fez com que o filho se mantivesse "invisível" aos olhos dos militares que vieram prendê-lo e que passaram ao seu lado na busca infrutífera.

Os parentes, vizinhos e todos que tomaram conhecimento chamaram o episódio de milagre operado pelo amor materno, que no momento certo, pediu a interferência divina para proteger o seu filho amado. Também nunca se soube se foi esse ou outro, o fenômeno. E este era apenas mais uma das diversas manifestações de força espiritual, dessa cabocla de fibra e beleza singulares, em cuja história constam inclusive casos de cura.

Muitos anos se passaram e o tenente mudou-se com a família para Boa Viagem, no Recife, mais precisamente para o local então conhecido como Sítio Mata-Cavalos, onde já residiam a sua irmã Glória e esposo, o seu pai, Joaquim Bernardino de Sousa. Hoje este Sitio é onde localiza-se a rua João Dias Martins.


Aos poucos toda a rua João Dias Martins foi sendo ocupada pela familia Bernardino de Sousa, numa época em que a rua era repleta de mangueiras, cajueiros e coqueiros, maçarandubas e sapotizeiros, além do manguezal que ficava no final da rua, aonde os netos e netas de Dona Amália iam pescar siris e caranguejos.

Nome eternizado - Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, no final do século 19, Dona Amália casou-se com o tambem Tenente, o Sr. Joaquim Bernardino de Sousa, com quem teve nove filhos, a quem cuidou com muito carinho e dedicação exclusiva.

Pelos raros registros fotográficos e relatos da família, teria sido descendente de mulatos, talvez de uma terceira geracão, pois havia uma certa ondulação nos seus cabelos e o nariz um tanto achatado.

Possuidora de uma força moral inquebrantável e de um carisma exemplar, Dona Amália Augusta tem o seu nome eternizado na denominação de uma rua do bairro,por iniciativa da sua filha, Bernadete Machado, que requereu a homenagem junto à Prefeitura. Além desta homenagem, também foi lembrada pelos proprietários da Padaria Amália, também localizada em Boa Viagem. São dois singelos e justos gestos de carinho e de afeto por aquela que sempre será lembrada por descendentes de todos os graus.

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