sexta-feira, agosto 31, 2007

RECUERDO 23 - O CAPUCHINHO NAZISTA


HUGO CALDAS

Não me tomem por iconoclasta. Não é o caso. Coisas que ficaram por uma vida inteira "varrumando o meu miolo", realmente aconteceram. Precisam e devem ser contadas. Daí a razão pela qual as relato. Não sou evangélico, muito menos católico, considero-me cristão por um mero acidente histórico-geográfico. Nascí em uma terra descoberta e colonizada por cristãos. Acho até que sou uma boa pessoa, um bom "cristão". Como poderia ter nascido no Oriente e hoje seria apenas e tão somente um bom Mulçumano.

O "Capuchinho Nazista" em epígrafe não é outro senão o tão propagado Frei Damião de Bozzano. Nascido Pio Giannotti, em Bozzano Itália, em 5 de novembro de 1898, radicado no Brasil desde o final da década de 30 até a sua morte em 1997. Camponês, filho de camponeses interrompeu seus estudos eclesiásticos para ir à guerra de 1914/1918. Combateu pelo exército italiano. Será que matou alguém? É bem provável. Ninguém vai à guerra levando flores para o inimigo.

Ao final das hostilidades volta ao seminário e torna-se padre em 1923. Diplomado em Teologia (sic) vem para o Brasil em 1938 e aí se inicía toda uma imensa loucura. Frei Damião de Bozzano era, nada mais natural, inimigo declarado do comunismo, era contra a minissaia, contra o sexo antes do casamento porém, o mais grave, era fanáticamente, useiro e vezeiro em perseguir evangélicos e tudo o que eles representavam.

Conta-se que Frei Damião, junto com outras autoridades católicas, mandava cercar, incendiar, cortar a energia, e apedrejar templos protestantes os quais após tamanha agressão, e sofrimento ainda conseguiam se reerguer das cinzas. Essas agressões e cercos às vezes duravam horas. Muitos desses agressores gritavam insultos aos crentes, que na época eram chamados de “bodes” pelos católicos. A maioria usava túnicas marrom-escuro, típicas dos capuchinhos e gritavam palavras de ordem exaltando Frei Damião.

Aliás, muito antes dele, essas perseguições já aconteciam em pleno Século Dezenove. A escritora Leonice Ferreira da Silva em seu livro "Primeira Igreja Batista do Recife, Episódios De Sua História" relata:

..."No interior, vigarios e autoridades tomavam-lhes as bíblias que eram queimadas nas feiras livres. Em 1892, em Pernambuco, estão no auge as perseguições na Capital e no Interior do Estado. No Recife, levantou-se o Frei Celestino de Pedavoli, criando a Liga Anti-Protestante, que realizou queima de bíblias, uma no pátio da Igreja da Penha e a outra, por causa dos protestos e das reações, inclusive dos não crentes, na horta do convento..."

A minha participação nessa historiada toda:

No início da década de sessenta, eu trabalhava em um escritório do exército norte-americano e involuntariamente tomei parte em uma dessas histórias malucas tendo o "piedoso" frade como protagonista. Por qual razão um Doutor em Teologia se transforma no mais fanático adepto das práticas nazistas, é dificil acreditar.

Se não me falha a memória, o caso a seguir quase teve implicações diplomáticas, e se deu em Pesqueira, interior do Estado, quando ele, Frei Damião de Bozzano chegou ao paroxismo de excomungar os leiteiros da cidade que tivessem a audácia de vender leite para as famílias protestantes. Perceberam a gravidade e a crueza do ato? Sem leite, com o tempo, as crianças iriam definhar e naturalmente a morte sobreviria. O imbróglio envolveu o Consulado Geral dos Estados Unidos e o Arcebispado. Vale ressaltar que todas ou quase todas as igrejas protestantes eram apoiadas pelo Consulado Americano visto a presença de pastores norte-americanos na implantação dos templos. Não obstante as inúmeras reuniões e encontros entre as partes Cônsul - Arcebispo, "segure esse maluco", chegou a declarar o Cônsul para o Arcebispo que teve de engolir calado por conta das barbáries cometidas pelo "santo homem". Ficou acertado, em vista da grave situação, que o governo americano iria daquela data em diante, enviar sacos de leite em pó, distribuidos pela Aliança para o Progresso - àqueles mesmos que os gringos sacodem dos aviões para os esfomeados que conseguem escapar dos seus bombardeios. Eu mesmo despachei dois caminhões enormes com o tal leite para o interior. O problema foi sendo esquecido e terminou sem maiores consequências como tudo neste país, e ficou o dito pelo não dito.

Ao final da sua vida de "romarias e pregações" vivia Frei Damião conluiado com os políticos matreiros que se aproveitavam e tiravam fotos ao lado dele, a fim de mais tarde serem usadas para estampar santinhos de campanhas eleitorais. Collor e Nilo Coelho recebiam o seu apoio e costumavam usar o odioso expediente das fotos.

O processo de beatificação que já está bastante adiantado, é o primeiro passo para receber a canonização ou seja, o frade vai terminar recebendo o brevet de santo. Este ano se comemoram os dez anos da sua morte. Precisam ver a caravana de ônibus com placas de todo nordeste atrapalhando o trânsito aqui no bairro do Pina onde existe o Mosteiro de São Félix de Cantalice e onde o frade está enterrado.

Este fim de semana a cidade de São Joaquim do Monte, no agreste pernambucano, está promovendo mais uma romaria dos devotos do frade. Com missas, terços, ladainhas, (está virando atração turística) e uma estátua enorme, mal ajambrada, pobre arremedo, débil paródia de outra estátua maior ainda, de outro malucoide, o Padre Cícero Romão Batista, o Padim Ciço do Juazeiro, que boa coisa também não era.

Espero, se realmente existir alguém lá em cima, que este alguém tenha piedade desses dois desarrazoados.

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domingo, agosto 26, 2007

O TITANIC E A MAIONESE HELLMAN'S



HUGO CALDAS

Semana passada a minha TV a Cabo reprisou pela enésima vez o filme "Titanic". Com todo aquele aparato, efeitos especiais repetidos ad nauseam, mais o insosso canastrão Di Caprio, etc. Logo em seguida uma outra estação também reprisou uma versão inglesa da década de 50, com atores desconhecidos, em preto e branco e sem as armadilhas modernosas. Aí realmente a coisa mudou de figura. O que eu vi foi uma história bem contada, com começo meio e fim. Bem mais dramática, bem mais convincente.

Sobre o canastrão Di Caprio, forçoso será citar que quando da sua vista ao Brasil, o energúmeno cismou de passar uns dias em plena selva, coisa de gringo deslumbrado, e para lá se foi devidamente acompanhando por La Bündchen. O Morubixaba que recebeu o nobre casal no coração da reserva o chamou de lado e teceu críticas meio penalizado, por ele estar ao lado daquela mulher magrela sem atrativo nenhum. Absolutamente sem graça. Saco de ossos. Ato contínuo, recrutou umas das moçoilas da tribo bem mais chegada às gordurinhas e lhe entregou de presente com o seguinte rompante da maior sabedoria indígena:

"Mulher tem que ser gorda que é pra gente se afundar nas banhas."

Há muitas histórias relacionadas ao naufrágio do Titanic. Algumas apareceram agora devido ao sucesso do recente filme. Outras levam um tom meio sobre o anedotário. Acredito que muita gente boa não tem conhecimento do que passarei a relatar... Atesto, para os devidos fins que é a mais pura expressão da verdade.

Por volta de 1912, a maionese Hellman's era fabricada na Inglaterra. Durante a sua famosa viagem inaugural, o Titanic estaria transportando cerca de 12.000 potes do condimento para a devida entrega em Vera Cruz México, próxima parada do grande navio após deixar o porto de Nova Iorque.

A mexicanada (sem ofensas, patrulheiros) estava na maior excitação pela perspectiva da entrega, quando não mais que repente, tudo ruiu. Todo mundo se viu absolutamente inconsolável pela terrível perda. Das vítimas do acidente? Que nada. Por motivos outros. A comoção foi de tal forma que o Governo Mexicano declarou o Dia Nacional de Luto que eles ainda observam até a data de hoje. Pelos mortos e desaparecidos? Pela perda do "navio do século"? Qual, o que. Agora, olho no olho, você pode não acreditar mas, é sabido que o povo mexicano ainda observa o Dia Nacional de Luto porque eles, jamais esqueceram os 12.000 potes de Maionese Hellman's que se perderam no naufrágio.

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sábado, agosto 18, 2007

O SÉCULO VINTE MORREU


HUGO CALDAS

Saibam todos quanto o presente virem, ou dele tomarem conhecimento, que no dia 15 de Agosto de 2007, um pouquinho após as oito da manhã, foi de fato e de direito, decretada a extinção do Século Vinte. Morreu, quando estava dormindo em sua casa, Joel Silveira um dos maiores, senão o único, o mais importante repórter do país. Quem sabe o derradeiro, o legitimo representante de uma classe atualmente em extinção. O Correspondente de Guerra. Com ele se foram os últimos vestígios da Segunda Guerra Mundial, 1939-1945.

Joel Silveira lançou um total de 40 livros, como Dias de Luto, 2.ª Guerra: Momentos Críticos, Memórias de Alegria e O Inverno da Guerra. Vale salientar, como testemunho jornalístico, a entrevista feita com Getúlio Vargas 15 dias antes do suicídio, em Agosto de 1954. O seu corpo foi cremado na quinta-feira no Crematório do Cemitério do Caju, no Rio. Não houve também velório, de acordo com o desejo dele próprio.

Não é o caso de querer aqui fazer um necrológico. Até porque não me acho capacitado para tal empresa. Apenas desejo fazer saber a grande admiração que sempre nutri por ele. Homem de opiniões fortes, as quais fazia valer e das quais não guardava segredo. Não importava se as suas opiniões desagradavam a gregos e troianos, ele não estava nem aí. Se por acaso não gostava de alguma coisa ou alguma pessoa, declarava alto e em bom som para todo o mundo ouvir. Somente isso já basta para qualificá-lo como pessoa singularíssima o que lhe valeu o epíteto de "Víbora". Inteligente, tinha o respeito de todos aqueles que conseguem enxergar algo mais do que apenas a nuca do companheiro da frente. Levava ao extremo sua missão de bem informar indo em busca da notícia onde quer que ela estivesse. Mesmo no campo de batalha. Joel Silveira foi enviado como correspondente dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand para cobrir a FEB na Itália.

Algumas de suas famosas tiradas:

"Não entendo o fenômeno João Gilberto: é um dos mistérios que minha inteligência não consegue alcançar. Eu até me esforço para entender tanta idolatria, porque, como sou repórter, gosto de saber das coisas. Mas confesso que não consigo. "Eu não o levaria de forma nenhuma, para uma ilha deserta. Com aquele violãozinho, uma coisa horrorosa. Aliás,o melhor talvez fosse mesmo deixá-lo na tal ilha deserta, sem violão!"

- E a frescura de implicar com o ar condicionado por conta da afinação do violão?! Aliás, não entendo também a idolatria por Gil, Caetano, Gal, Bethania, Novos Baianos (estão em liberdade?) - a voz do Chico Buarque é uma derrota. Uma coisa trágica. Como entender isso tudo? Me parece é que na época, eles chegaram cantando o que nós queríamos ouvir. Sinceramente, não acredito no sucesso em "tempos normais". O Tom Zé? Um chato de galochas.

"Ridículo é o velho que quer parecer moço - aquele que pinta cabelo, rebola e faz uma operação plástica por mês".

- Pois isso de viver de aparências é realmente outra tragédia. Maracujá de gaveta todo enrugadinho mas o cabelo, azulado. À propósito, lembro uma frase do ator Robert Redford ao se referir a cirurgia plástica: "Algo da sua alma em sua face, vai embora."

"O Brasil tem apenas dois grandes autores, dignos de serem chamados de escritores: Machado e Graciliano Ramos. O resto é o resto."

"Conversava muito com Graciliano, sempre amargo, gostava muito de uma cachacinha. Era uma figura fabulosa. Depois da morte dele, entramos na entressafra literária. Há um ou outro que tenha publicado um bom livro, mas não um conjunto de obras como tinham Graciliano, Machado de Assis, José Lins do Rêgo."

"Jorge Amado é uma porcaria, sempre foi. Fui amigo do Jorge, depois rompemos. Não gostava da sua maneira de agir, ele não era imoral, era amoral."

- Jorge Amado também nunca me fascinou. Dizem que ele fez sucesso, porque o partidão estabeleceu como "tarefa" todo mundo comprar os livros dele. A comunistada obedeceu, como sempre. Dos Amado, prefiro o Gilberto, seu primo. Suas memórias, História de Minha Infância, Minha Formação no Recife, Mocidade no Rio e Primeira Viagem à Europa, Presença na Política e Depois da Política, são de fundamental importância na memorialística brasileira. De Jorge apenas consegui ler um conto: "De Como O Mulato Porciúncula Descarregou O Seu Defunto."

"Até hoje, acho que o Brasil só tem três grandes prosadores realmente digno deste nome: Machado, Graciliano e Monteiro Lobato, o resto é segundo time."

"Guimarães Rosa eu acho que é truque. Ele é o Joyce cabloco. Inventou uma língua que ninguém fala".

"Nunca consegui chegar ao final de “Os Irmãos Karamazov.”

- Nem eu! Aliás, nunca consegui também, passar da segunda página da Bíblia.

"Agnóstico, alisto-me entre os que concordam sem vacilar com o que disse o poeta Murilo Mendes : "Deus existe, mas não funciona."

Na seara das unanimidades burras como diria Nelson Rodrigues.

- O Paulo Coelho? Jacques Chirac, ex presidente da França, Bill Clinton, ex idem dos EUA, o Premio Nobel Kenzaburo Oe, a cantora (sic) Madonna e mais uma récua de "celebridades," tecem as maiores loas e pelo que se sabe conseguem ler o "mago." Como se vê, o mau gosto não é prerrogativa de ninguém.

- Temos ainda o "Cavaleiro da Esperança," com a sua confissão em ordenar o "justiciamento" de uma garota de 16 anos de idade, apaixonadíssima, que diariamente, qual boa samaritana, ia levar uma comidinha melhor para o alemão Harry Berger, preso logo após a famosa "Intentona". A "amizade" com Getulio ao sair da cadeia, apoiando o ditador, no estádio do Vasco da Gama em memorável comício. Enquanto isso sua mulher Olga havia sido entregue aos alemães pelo chefão Filinto Müller do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, eufemismo da "inteligentzia" do Estado Novo.

- Niemeyer e sua ideia fixa para com o concreto armado. Ache quem quiser modernismo eu considero uma pobreza. Aqui no Recife, andou o indigitado, cogitando um projeto para um parque à beira mar com 70ha da área ocupados com teatro, palcos de eventos tudo no mais puro concreto armado. Felizmente houve reação e me parece que o tal projeto está em fase de novos estudos.

Pois é. Aprendi com Joel Silveira a não mais engolir sapos. Considero que ao ficar do seu lado estarei em muito boa companhia.

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quarta-feira, agosto 15, 2007

ALQUIMIA

Texto que fará parte do próximo livro A MORTE CEGA, de Djanira. H.C.

DJANIRA SILVA

Preciso pontuar minha vida antes e depois do nada. Entre os dois pontos e as reticências me crucifico. Coloco-me entre aspas e parênteses. A vírgula e o ponto e vírgula, me perseguem.
Calculo o tamanho dos meus passos para não cair nos abismos nem nas certezas. Tenho medo de dormir e acordar esquecida do que pensei, do que sonhei. Sempre esqueço. Nunca sei onde estão as coisas já pensadas. Gastas? Rotas? Ou não pensei?
O pensamento inventa, mistura idéias e sonhos sem começo e sem fim, parte-se, multiplica-se.
Escrava desta alquimia escrevo e vigio, caminho nas linhas para não cair nos espaços vazios. Seguro as palavras, domino-as, sufoco-as. Igual às crianças elas precisam de controle, de freio dos castigos da pontuação
Um dia escrevi a história de uma menina que fugiu de casa correu sem parar entrou no mundo pela porta da frente e saiu pela de trás desceu subiu degraus e desapareceu nas curvas dos caminhos sem pontos sem vírgulas sem nada.
Assim quero minha alma, alegre, fugidia, livre e ligeira, passando por todas as portas pulando todos os obstáculos, livre de pontuações.
Preciso apenas dos sinais: atenção pare, siga, ou de linhas paralelas, pare, olhe escute.
Vírgula, indo e voltando. Ponto. Afinal!

domingo, agosto 12, 2007

RECUERDO 22 - JOÃO PESSOA - ALGUMAS COISAS QUE GUARDEI...


HUGO CALDAS

(Foto: Mazaomi Mochizuki).

João Pessoa. Guy Joseph meu dileto primo, que me perdoe pelo uso da denominação arranjada em 1930. Mas eu prefiro. Razões sentimentais. Também sou paraibano e não nego. Há porém, um sentimento que me perturba o coração e a mente desde que, em Abril de 1959 decidi vir morar no Recife, mercê ter passado em um concurso da Panair do Brasil, já lá se vãos os tempos em que fazíamos concurso para atuar na empresa privada. O sentimento que até hoje me assalta é o de que, não importa a quase perfeita integração, aqui casei e tive filhos, ainda tenho a mais perfeita noção de que serei um eterno forasteiro na Mauricéia. Por outro lado, todas as vezes que volto a João Pessoa, seja a passeio ou negócio sinto, apesar do carinho dos amigos que ainda moram lá, que não mais pertenço às hostes Tabajaras. É um sentimento angustiante.

Mas, o que fizeram da minha cidade?

O primeiro chute na cara é quando porventura tenho a desdita de passar pelo Ponto de Cem Réis. Quem teve a infeliz ideia, a audácia de transformar um lugar tão belo e aconchegante nesta coisa deprimente, emparedada? Cadê o bonde dando a curva em frente ao Parahiba Hotel? Cadê o relógio no centro da praça? Cadê a "Esquina do Pecado"? O que fizeram com o Café Alvear? A Sorveteria Florida? O Bar Havaí? O Cine Plaza?

Aqui vão umas poucas coisas, que eu guardei com o maior carinho, desde os meus sete anos de idade, a respeito desta mui amada cidade que à época parecia querer extrapolar os muros da casa de número 47, da Rua Capitão José Pessoa, residência do meu avô, em Jaguaribe, onde ele abrigava sua família, suas filhas e eu, então seu único neto.

- Oswaldo Pessoa, era o prefeito da cidade e morava perto da nossa casa. Familia numerosa, várias filhas e Candinho, seu único filho, e um dos meus herois, juntamente com o Super-Homem e o Capitão Marvel, mas na verdade um malandrão de quatro costados.
Certa vez ouví Candinho numa conversa, dizer que lavava as mãos antes de ir dormir. Achei supreendente, não sei bem porque.

Em frente morava Lourdinha Flores sua namorada, em um sobradinho meio sombrio, que mais tarde seria a morada de Dr. Napoleão Laureano. Depois foi residência de uma tia minha que afirmava por todos os anjos do céu e os diabos dos infernos, ter visto almas penadas passeando pelos corredores e salas escuras da casa.

Certo dia correu na rua um boato, dando conta de que Candinho, praticamente noivo de Lourdinha Flores, havia avançado o sinal e comido a merenda antes da hora do lanche. Pode-se bem imaginar o tipo de falatório, a mofa, o disse-me-disse, sobre semelhante acontecimento contra os bons costumes e as regras do bem viver em plena década de 40. Como um chiste, o seguinte diálogo apareceu na boca do povo:

- Candinho, você quer casar com Lourdinha Flores?
- Não senhor, meu pai.
- Mas sabe que vai casar com Lourdinha Flores?
- Sei sim senhor, meu pai.

Casaram. É bem verdade que o casamento não durou muito tempo, mas...enquanto isso assumo devem ter sido felizes. Lourdinha Flores era uma moça muito bonita.

- Nas quarteladas da vida e em qualquer tumulto da direita, o Dr. Santa Cruz era sempre o primeiro a ser preso. Lembrava o filme Casablanca, quando o Capitão Renault, (Claude Rains) vira-se para o ajudante e diz: "Prenda os suspeitos de sempre". Em pleno abril de 64, "revolução" em marcha acelerada, feito serpente recém-saída do ovo, pediu o Dr. Santa Cruz que sua esposa lhe preparasse uma valise com algumas roupas, sabonete, pasta de dentes, escova, estojo de barba etc, mais alguns remédios e postou-se no terraço à espera do inexorável camburão do exército. Dito e feito. Não deu meia hora apareceu um tenente recém-saído das fraldas (havia sido seu aluno na faculdade de Direito) com um aparato militar de fazer corar um senador da república.

"Mas tenente, era preciso mesmo essa parafernália toda apenas para prender um velho professor? Bastava ter dado um telefonema que eu iria. Não carecia de o senhor se preocupar..."

- Por onde anda Fernando Macedo? Ele juntamente com Breno Mattos, eram os "comunistas" mais manjados da cidade. Fernando, nos shows produzidos pelo Teatro de Estudantes, vestia uma roupa colada ao corpo, camisa aberta ao peito, mangas frufru, ao mesmo tempo em que empunhava duas maracas nas danças cubanas, num requebrado pra lá de sensual. Breno era chegado a fumar cigarros americanos bebia uísque e dançava rock and roll, dá pra acreditar? Certa vez, Lindaura Pedrosa encenou "O Boi e o Burro a caminho de Belém", um auto de natal de Maria Clara Machado, e convidou Fernando para o papel de um dos pastores. Eu fazia um dos Reis Magos. Estavamos sempre perto um do outro. Durante a encenação, ao ar livre, no adro da Catedral, Fernando devidamente trajado como pastor, saiote de estopa, pequeno carneiro nos braços, cordas enrodilhadas nas pernas à guisa de sandálias, sentiu que alguém alisava as suas coxas. Foi maior tumulto. Gritaria, empurra-empurra e de repente o canto mais limpo. O "pastor" deixa a cena, correndo atrás de um sujeito baixnho com cara de tarado. Debalde. O nefando indivíduo perdeu-se no meio da multidão e Fernando ainda foi devidamente admoestado por uma Lindaura furiosa, pelo absoluto desrespeito ao Auto de Natal, aos princípios cristãos e à tradição teatral.

- Os doidos da minha terra. Pombú do Pé Roxo, Cristóvão Pé no freio, Oscar Aragão, Pão de Bico, Ariranha, Imbuzeiro, Daniel, Dr.Mario, Mocidade, uma plêiade. Havia categorias.
Doidos políticos: Mocidade, Dr. Mario e especialmente Daniel, contínuo da Secretaria da Fazenda que irrompia o sagrado recinto dos bares aos gritos de "forca com eles, casacudos e venais da república", e malucos pela própria natureza como: Pão de Bico e Ariranha, que ao ouvir o grito "amostra Ariranha", levantava saia e mostrava as partes ditas pudendas. Certa vez Pão de Bico, católico/carola até a medula, vinha todo compenetrado, acompanhando uma procissão, com o seu passinho característico na ponta dos pés, rezando e cantando, missal em uma mão, terço na outra, fita vermelha com medalha de São Severino pendurada no pescoço...

"o meu coração é só de Jesus
A minha alegria
(alguém grita - "Pão de Bico," ele emenda, no ritmo e no tom)
é o cu da mãe"

A última lembrança que guardo de Mocidade: Íamos os dois descendo no bonde do comércio quando ao final da viagem ele foi reclamar do cobrador o troco ainda não recebido... "Chega de roubalheira nesta República"!

Imbuzeiro, alto, moreno carapinha branca, olhos desencontrados, eternamente babando, ia diariamente numa passada característica, de Jaguaribe à pé, até o velho Ponto de Cem Réis com uma geringonça de madeira e papel às costas, que amarrava em um poste elétrico fazendo as vezes de cartaz do filme em exibição à noite no Cine Jaguaribe. Pombú e Cristóvão eram exímios no uso das mais variadas palavras de baixo calão, que berravam aos quatro cantos, onde quer que estivessem e ouvissem a menção dos seus respectivos apelidos. Oscar Aragão era uma mansidão de cordeiro. Ia sempre à missa na Catedral ocasião em que ajoelhado, soltava uma série de "puns" desagradáveis e sonoros. Não tinha um dente na boca e cantava o Hino Nacional todas as vezes que algum jovem mais cruel o chamava de comunista. Uma pândega. E uma crueldade, por suposto. Esta a João Pessoa que gostaria de rever. Esta a João Pessoa que ainda me faz muita falta. Reafirmo: "Sou paraiba e não nego".

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MODIFICARAM O LICEU, MAS NÃO MODIFICARAM A SAUDADE


ANCO MARCIO DE MIRANDA TAVARES

(Foto: Abdo Hamdam)

Por força de trabalho voltei ao Liceu onde estudei longos anos de minha vida. A mesma fachada imponente, a mesma rampa, o mesmo relógio, quase os mesmos vitrais, as mesmas portas de metal, aquele ar circunspecto de colégio antigo, tudo mantido por força de tradição e História.

As salas são as mesmas, mas com carteiras mais modernas, uma porção de grades cerceia a liberdade dos estudantes, na porta um solene guarda abre e reabre mil vezes por dia um velho cadeado, sem existir mais aquela liberdade de ir e vir que se tinha antigamente. Os adolescentes, os mesmos de sempre.

Os mesmos assim olhando de longe, pois não vejo o Gordo, não vejo Vilmar, nem Valderedo, nem Valdenice nem a outra, Nira, não vejo Magdala, Salete, as meninas de minha época devem ser hoje gordas e respeitáveis matronas e não mais meninas que eram no meu tempo de menino também.

No pátio o solene busto de Getúlio Vargas que viu passar gerações e gerações, aquele sensação de saudade ao hoje poder entrar na sala dos professores que hoje sou, e antigamente, como aluno, não me era permitido, a velha escada interna com seu corrimão em metal dourado que deixa um cheiro de azinhavre na mão.

No lugar que mais me interessa , o auditório com seu palco, onde comecei a fazer teatro, pouco mudou. Mudaram as cadeiras, píntaram os vidros de preto, mas o palco, o sagrado palco, continua o mesmo com seu fundo abobabado, suas cortinas escuras e seu local para se colocar o "ponto".

Sozinho na imensidão do auditório, quase me vejo menino de quatorze anos no palco, magro, mirrado, mas com uma força de vontade enorme. Hoje, dirigo os meninos no local onde Rubens Teixeira nos dirigia. Afinal de contas no Liceu eu serei apenas um simples ator de minha própria vida...

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sexta-feira, agosto 10, 2007

APRECIAÇÀO DA OBRA LITERÁRIA DE DJANIRA SILVA

Por iniciativa da União Brasileira de Escritores, a obra literária da acadêmica Djanira Silva foi homenageada dentro do projeto "A Cultura e a Arte em Pernambuco" no último dia 06 de agosto, na Livraria Cultura - Paço Alfândega. O texto que se segue é de autoria de um dos escritores escalados para a devida e justíssima homenagem. HC


LUIZ GONZAGA LOPES


Ao iniciar esta apreciação sobre a Obra Literária de DJANIRA SILVA, faço-o felicitando a mim mesmo pela ventura que me foi proporcionada de ler diversos livros dessa extraordinária Escritora.

Para fazê-lo, começo repetindo algumas palavras usadas por mim, quando escrevi a contracapa de seu último livro, um ótimo paradidático que na pia batismal recebeu o título de Do Quintal Para o Mundo.

Foram estas as minhas palavras: “Quando cheguei à última página do livro A Magia da Serra, como que movido pela magia do texto, senti-me encantado. Este foi o meu primeiro contato, o marco inicial com a obra literária de DJANIRA SILVA. A partir daí tornei-me leitor obrigatório dessa premiadíssima escritora. E nada mais me surpreendeu vindo dela, cada livro seu revelou-se uma obra de primeira grandeza. Só uma inteligência viva e versátil como a de Djanira seria capaz de engendrar tantas estórias, e com tanta perfeição, que chegam a deixar o leitor em dúvida se as situações apresentadas são imaginadas ou vividas. Constata-se isso no premiado O Olho do Girassol, no brilhante Pecados de Areia, no magistral Memórias do Vento, no delicioso A Maldição do Serviço Doméstico, no poético Em Ponto Morto . . . “

Já ouvi da boca de seguidores de algumas religiões, a afirmação de que as pessoas morrem e tornam a encarnar em épocas futuras. A ser verdade essa assertiva, na geração passada eu devo ter nascido e vivido em uma cidade pequena, dessas onde a gente conhece todos os viventes, desde o barbeiro até o farmacêutico, desde o padre até dono da mercearia, desde o professor até o sargento delegado de polícia, e assim por diante, sem esquecer o bêbado, o mentiroso e o doido — figuras fundamentais em urbe pequena que se dá a respeito.

A prova disso é que, sem haver nascido, ou mesmo vivido em uma cidade com estas características, escrevi um livro sobre o dia-a-dia de uma comunidade diminuta, A Cidade do Homem-Só.

Se alguém cometer a imprudência de fazer um paralelo entre o meu escrito e o belo texto de A MAGIA DA SERRA, logo sentirá que tudo quanto relatei não passa de pura imaginação. Já sobre a narrativa de DJANIRA, poderá dizer, com segurança, que se trata de pedaços da vida, pois representa a mais autêntica literatura de costumes. Além disso, tem a força indiscutível da História, representa a fotografia social de uma época. As páginas são reveladoras de nomes de ruas, de logradouros, de instituições, de personalidades, de pessoas comuns e até de doidos como Machadinho e Adelina, esta sempre “enfeitada com flores de papel crepom e as bochechas pintadas de vermelho”. DJANIRA registra ainda, em suas memórias, a presença de Pé de Bode, outro doido, que pedia comida chorando porque estava com fome, e depois chorava porque estava de barriga cheia. Todos esses tipos, acontecimentos e situações foram presenciados ou até vividos por DJANIRA.

Li e reli tudo. Li e reli porque muito me agradou. De fato, o livro é uma beleza.

Em seguida, veio Memórias do Vento. Para comentar este trabalho, uso aqui, não as minhas palavras, mas as palavras da Autora: “Numa noite de insônia, conversando com o vento, prometi-lhe escrever suas memórias”. Com seu espírito de elevado humor, DJANIRA passou a perna no vento, e ao invés de contar as memórias dele, escreveu as próprias. Começou com as Memórias do Olhar, em que narra o início de tudo: sua chegada ao mundo. Seguem-se capítulos para agradar a todos os gostos, desde os mais poéticos até aqueles em que a Autora soltou todo o seu poder de humor, merecendo destaque O Boletim de Ocorrências, A Trama, e Liberdade Vigiada, entre outros. Após concluir a leitura desse magnífico trabalho, cheguei a pensar não haver mais espaço para crescimento literário de DJANIRA SILVA. Puro engano de minha parte, pois logo surgiu Pecados de Areia. Com esse livro, a Autora se superou, surpreendeu os leitores ao mostrar toda a fertilidade de sua imaginação, sua capacidade de criação. A leitura de Pecados de Areia leva o leitor a afirmar: DJANIRA não se esgota.

A exemplo de como me aconteceu com outro livro que muito me marcou (Habemus Panem, de Ana Maria César), no decorrer da leitura de Pecados de Areia surgiram-me dúvidas sobre o conteúdo da obra. Fiquei sem saber se se tratava de memórias, de reminiscências, de autobiografia ou, puramente, de fantasias engendradas pela fértil imaginação da Autora. O Aurélio tirou-me as dúvidas, pois além de encampar tudo, deixou-me ciente de que em qualquer das suposições o livro é completo.

Tenho para mim que um bom livro é aquele que se nega a ser arquivado na estante, deve enfrentar sol e chuva para ser objeto de novas apreciações. Este é o caso de Pecados de Areia. Daí porque passei adiante o exemplar que havia em meu poder. Paradoxalmente gostei tanto, que resolvi não guardá-lo comigo. Passei-o às mãos de meu filho Tércio, residente em Birmingham, nos Ee.Uu., que posteriormente enviou-o a outro filho meu, Márcio, em Cincinnatti, também nos Ee.Uu. Depois de lido, Márcio fez o livro continuar circulando. Há poucos dias surpreendi-me ao visitar um amigo, o cardiologista Guilherme Marim, na cidade de San Diego, na Califórnia. Com ele estava o livro.

Não sei o que agrada mais nos textos escritos por Djanira: se o conteúdo de cada obra, se o estilo inconfundível como escreve, se a linguagem pura, de frases bem elaboradas e enxutas. Tudo isso, em meio a uma simplicidade de causar inveja, fatores que levam o leitor a ficar preso ao texto, da primeira à última página.

Para finalizar, surge-me uma dúvida: quem merece os parabéns? Nós ou DJANIRA?

terça-feira, agosto 07, 2007

UM DIA APARECEREI, É O QUE GARANTO

Everaldo Moreira Veras, poeta e ficcionista nasceu em Parnaíba
(PI) - ou terá sido em São Luís? Tem, segundo declarações suas, exercido ao longo dos anos dois oficios: O da Razão e o da Paixão. Engenheiro por profissão, para poder se dar ao luxo de ser também psicólogo e contador de histórias. Autor de frases memoráveis, "durante a manhã me dilacero" é um belo exemplo. Diz ainda, "de literatura não se vive. Ao contrário, morre-se". Já andou passeando por este Blog há algum tempo atrás. Tem cerca de 400 contos publicados. Ninguém se perde na volta. Seja bem-vindo meu caro. H.C.

EVERALDO MOREIRA VÉRAS

Embora ao lado das pessoas amadas, não sinto que isso seja suficiente, de fato constato que me falta um monte de exigências complementares, indispensáveis. O quê? Não sei direito o quê, e me preocupo.

Admito que precise ouvir o outro, ou seja, o estranho ser, aquele que, dentro de mim, também respira junto comigo. É bom quando conversamos lado a lado, exponho-lhe as incertezas, o desejo de construir o mundo particular, no qual eu seja gente, uma criatura humana. Seria possível?

É, claro que sim, não há do que duvidar.

Obrigatoriamente, ninguém morre perdido, quando fica isolado do jeito que falo - ou melhor, do meu jeito - ainda contará com diversas alternativas. Viveremos como vizinhos, eu e a sombra, este que me compreende, o cúmplice o sabedor do motivo porque piso no chão especial, diferente. O chão que ora me acolhe, ora me rejeita. Infeliz de quem não dispõe da intuição deste perigo extraordinário.

Não me considero um sujeito escuro, solitário, desgarrado. Ao contrário, sou filho de Deus, iluminado, consigo distinguir a luz da escuridão. O Diabo pensa que me domina, mas engana-se, ninguém me dobra, aprendi a escolher o destino que me engrandece. Afinal, se o erro cometido não for corrigido de imediato, a tendência será a desordem, depois o caos. O Satanás chegou mal, fora de época, embora o maldito igualmente tenha sido criado pelo Senhor,
(Mas não é meu irmão, nem quero).

A minha casa interior é ampla, nela habitam inúmeras criaturas, as que vivem e as que já morreram. Moro aqui, ainda não morri, quero viver. Admito que os mendigos me invejam, homens ricos, homens pobres, porque cada um fará valer a sua importância no mundo. Esperem, por favor, tenho e não tenho pressa, estou indo, acontecerá amanhã, depois, não marco o tempo. Um dia aparecerei, é o que garanto, por enquanto.














sábado, agosto 04, 2007

RESSACA DOS JOGOS – RANÇO DE GOLPE – “MORTE ANUNCIADA DO TRANSPORTE AÉREO”.


HUGO CALDAS

Sobre a pouco propalada fuga dos atletas cubanos nos jogos do Pan, o governo cubano, diga-se o tirano ancião, senhor da vida e da morte dos ilhéus, ordenou que voltassem todos imediatamente para casa. Acreditava o ditador que alguns deles estariam sendo cooptados por entidades esportivas da Europa. Durante os jogos, quatro atletas cubanos efetivamente deram no pé, um deles o treinador da equipe de ginástica. Havia um outro, escalado para correr a maratona no dia seguinte coitado, teve que voltar na marra. Ficou a ver navios. O sonho de correr e a dedicação dos treinamentos foram pro espaço.

O comandante mandou um avião especial para levar de volta a delegação. Segundo informações recebidas pelo governo de Cuba, estaria em curso uma deserção em massa na madrugada do sábado, véspera do encerramento. Devaneio? Mas já andam dizendo que nada disso existiu. É tudo invenção da mídia. Nós todos vimos na TV mas é pura balela. Deu novamente na TV que acabaram de encontrar dois fujões no interior do Rio de Janeiro, outro estaria em São José dos Campos, São Paulo, para onde teria ido de táxi. A prisão desses dois atletas causou a maior surpresa, pois já se tinha como certo que a dupla há muito havia deixado o Brasil indo para outro país a caminho da Europa. Os dois se dizem "arrependidos" e querem voltar para casa. Dá para acreditar? Guardem bem o nome dos respectivos - Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara - pois se escaparem da morte certa irão amargar nos calabouços revolucionários. "Patria o Muerte"! À guisa de informação: O generalíssimo Francisco Franco, "Caudillo de España por la gracia de Dios", em seu leito de morte autorizou a execução pelo "garrote vil" de dois jovens de vinte e poucos anos.

Voltando a Pindorama. O ambiente não está me cheirando bem a cada dia que passa.

Já se falam em golpe. De acordo com o delírio da malta do governo, fazer oposição neste país é golpe. Abomino comparações mas sou forçado. Quando o pt gritava - Fora, FHC - e o vaiava, era oposição democrática. Porém quando as "zelites" em pleno Maracanã vaiam o pinguço, ou quando moradores dos Jardins, em São Paulo, gritam "Cansei", ou a mídia divulga que o governo tem pelo menos parte da responsabilidade pela catástrofe de Congonhas, é também golpe? Agora, eu é que digo: "Eu não cansei, eu estou exausto! Finalmente respondam: E quando lula, nas suas bravatas, após se exceder nas doses, cita o golpe militar de 64 e garante que ninguém mais do que ele seria capaz de botar gente na rua, o que isso significa? Para bom entendedor...

Esta semana, disse ainda o apedeuta, que durante as campanhas que perdeu para presidente, nunca jamais em tempo algum se cogitou, se debateu, jamais se colocou em cena o problema do caos iminente da aviação brasileira, infra-estrutura caindo aos pedaços, etc e tal. “Menas a verdade”. Desculpem o mau jeito mas descobri um artigo "escrito" por Sua Excelência para a Gazeta Mercantil, em 07/01/2002. Alguns trechos abaixo.

"Morte anunciada do transporte aéreo" (sugestivo título)

(Luis Inácio Lula da Silva)

"A crise da aviação brasileira, que vem se arrastando há muitos anos, atinge um estágio terminal, sem que se vislumbre uma solução no horizonte. A recente paralisação dos vôos da Transbrasil é mais um presságio. Antes de chegarmos a uma solução irreversível para o setor como um todo, convém refletir se vale a pena deixar as empresas brasileiras de aviação entregues a sua própria sorte ou se é interessante para o País ter uma aviação nacional competitiva. Enquanto isso, empresas aéreas nacionais estão falindo, milhares de trabalhadores continuam perdendo seus empregos, dívidas estrangeiras deixam de entrar no Brasil e o nosso país perde cada vez mais capacidade competitiva. Até quando, senhor presidente?"

Que ele sabia é um fato. Esquecer que havia escrito acho pouco provável. Mais sensato será acreditar que ele esqueceu quem escreveu o artigo para ele.

hucaldas@gmail.com