sexta-feira, outubro 12, 2007

ONDE ESTÃO OS CARAS-PINTADAS?


CLEMENTE ROSAS

Há quinze anos, saudei com emoção o retorno da juventude às ruas, pela causa da moralidade na administração pública (“As Lutas Estudantis”, Jornal do Commercio, 24.09.92). Era a empolgante mobilização dos “caras-pintadas”, que culminou com o impeachment do Presidente da República. À sua frente , o jovem Lindbergh Farias, hoje Prefeito de Nova Iguaçu. E naquela ocasião evoquei os meus tempos de militância, trinta anos atrás, na União Nacional dos Estudantes, ao lado do pai dele, o médico de mesmo nome, hoje falecido.

Há três meses, a convite do Senado Federal, fui a Brasília para uma sessão solene de homenagem aos 70 anos da UNE e ao Centro Popular de Cultura, criado pela entidade na gestão de que participei: 1961-1962. Embora não tivesse grande esperança de reencontrar os intelectuais e artistas do CPC, hoje brilhantes e famosos – Arnaldo Jabor, Cacá Diegues, Cecil Thiré, Flávio Migliaccio (Vianinha, Armando Costa e Leon Hirzman já se foram) – contava rever os colegas mais próximos da diretoria: Roberto Amaral, Marco Aurélio Garcia e Aldo Arantes. Seria uma reunião de forte conteúdo emocional, pelo muito que convivemos e juntos sonhamos, nos anos ainda dourados que antecederam o desmantelo de 1964.

Somente o Aldo compareceu. Militante obstinado, político em tempo integral, apresentou-me aos seus companheiros do P C do B, entre eles o Senador Inácio Arruda, autor da proposta da homenagem, e a jovem, juveníssima Deputada Manuela d’Ávila. Conheci também o então Presidente da UNE, Gustavo Petta, e a candidata à sua sucessão, Lúcia Stumpf, hoje eleita. Conferi a presença do ex-presidente do STF, Sepúlveda Pertence, que também foi dirigente da entidade um pouco antes de nós, e abracei o Senador Cristovam Buarque, amigo que não via, em pessoa, desde muitos anos.

Não posso dizer que não houve emoção na solenidade, para mim também, apesar de tantas ausências. O Senador Pedro Simon fez um belo discurso, entre vários outros, e a reunião teve seu ponto culminante na homenagem à senhora mãe de Honestino Guimarães, único presidente da entidade a integrar a lista dos “mortos sem sepultura” dos anos de chumbo. Nas galerias, jovens estudantes entoaram slogans e trechos do hino da UNE (letra de Vinícius de Moraes, que achávamos “pouco marcial”, naqueles tempos de empolgação...). Houve emoção, sim. Mas, ao mesmo tempo, houve, de minha parte, uma constatação melancólica, agora acentuada pelos acontecimentos políticos que escandalizam o país, e me fazem voltar ao tema.

A cidadania brasileira vem sendo, dia a dia, afrontada com as graves denúncias de crimes cometidos pelos integrantes dos mais altos escalões da República, e mais ainda com a desfaçatez com que os acusados protestam inocência, contra todas as evidências, e manobram para permanecer incólumes em seus postos. O caso mais recente e mais chocante é o do Presidente do Senado, que tem contra si nada menos que quatro acusações substanciosas. A imprensa o condena, a reprovação popular se manifesta de todas as formas possíveis, mas os estudantes estão silenciosos. Por quê?

Recordo que, nos meus saudosos tempos, a política universitária era feita à margem dos partidos oficiais, que não tinham expressão em nosso meio: o PCB era clandestino, a JUC (Juventude Universitária Católica) não tinha estrutura formal e a POLOP (Política Operária) não passava de um pequeno grupo de jovens intelectuais que editavam um jornal com esse nome. Não planejávamos carreiras políticas, não tínhamos projetos pessoais e nossas ações eram motivadas apenas pelo ideal romântico de construir uma sociedade mais justa e igualitária. A diretoria da UNE congregava, de regra, várias tendências, que se harmonizavam em torno de causas comuns e abrangentes.

Hoje, porém, um único partido – o P C do B – comanda a instituição, já por dez gestões sucessivas. É natural que a instrumentalize para os seus interesses imediatos, e, como compõe a base de sustentação do Governo, não deseja desgastá-lo, nem aos outros partidos aliados. Só isso pode explicar a ausência dos estudantes em um movimento que teriam tudo para liderar, como em 1992, e com motivação até mais forte: os casos de improbidade que vêm à tona agora são ainda mais graves e mais numerosos.

Rejeito a razão mesquinha, aparentemente usada como desculpa para a omissão, de que a campanha favoreceria partidos conservadores, em oposição a um governo comandado por um homem do povo. O argumento não condiz com a independência de espírito, o altruísmo, a abnegação que sempre foram apanágio da mocidade, através dos tempos. A luta pela moralidade na administração pública é atemporal e suprapartidária. Não pode submeter-se a condicionantes.

Dirijo, portanto, meu apelo às novas lideranças estudantis, na convicção de que falo em nome de muitos que, como eu, viveram, há quarenta anos, essa inesquecível experiência. Queremos vê-los de novo nas ruas, ao lado do povo, ouvir suas canções, sentir o calor do seu entusiasmo, vibrar com as suas bandeiras e as suas cores. Vocês são a face risonha e esperançosa da sociedade. Assumam, pois, o lugar de vanguarda que sempre lhes coube, ao longo da História. Assim, trarão novo alento a corações cansados como os nossos, e fortalecerão neles a crença em um futuro mais digno para o nosso país. Caras-pintadas, onde estão vocês?

* Clemente Rosas é consultor de empresas (clementerosas@terra.com.br)

3 comentários:

Guy Joseph disse...

Hugão: seu Blogão está cada vez melhor (se é que isso é possível), resgatando a nossa tão olvidada história contemporânea. Delicioso!
Abraços
Guy Joseph

Unknown disse...

Meu amigo, os caras pintadas estão mamando junto nas tetas do Governo. Foi a maneira que o Sr, Lula encontrou de deixa-los quietinhos.
Por muito menos esses caras iam pras ruas. Hoje pode tudo, contando que a graninha deles esteja na conta.
É uma pena, pois, antigamente se tinha ideologia politica, hoje, tem tiririca, mulher pera, Maguila... Pelo amor de Deus... é o fim do mundo.
Grande Abraço

Christian Muller disse...

Parece que estamos nas mãos desses sem vergonhas do PT e PCdoB! Eles na verdade, até são bem espertos, pois desde os anos 90 vem plantando a semente da ideologia socialista nos gremios de escola, com apoio da UNE e AJR, que são entidades ligadas à esses 2 partidos. Manipulação total! Então, para quem quer saber onde estão os caras pintadas, fiquem sabendo que todos eles estão enfiados nas prefeituras, estados e no âmbito federal, onde o PT/PCdoB comanda. Tudo com carguinho de confiança e nós pagando o salário deles! Um abuso!