segunda-feira, outubro 08, 2007

RECUERDOS


- Os homens lá em cima de vez em quando cismam em me pregar peças. Desta vez porém, foi uma bela surpresa. Descobri um parente distante, ou melhor fui descoberto por um primo, melhor dizendo, nos descobrimos. Sei da sua existência em terras paraibanas mas ainda não houve tempo hábil para nos conhecermos pessoalmente.
Trata-se de Edinaldo Chaves, senhor do Engenho Bulhões, na Paraíba, pessoa que à primeira vista me parece ser do maior dinamismo, e de imensa grandeza de coração. Sabedor que o nóvel parente se dá, como eu próprio, ao luxo de escrevinhar umas poucas linhas pedi-lhe autorização para a devida postagem de um de seus Recuerdos neste humilde Blog. Eis sua resposta: "Hugo, estás autorizado a consertar os escritos desse primo metido e publicá-los. Afinal a responsabilidade de transformar esse matuto em cronista é toda sua. Abraços do Primo Edinaldo." Muito bem, Primo Edinaldo, acredito na imaginação que anima o contador de histórias que na realidade vosmicê é.
A crônica já chegou pronta. Assumo inteira e total responsabilidade.H.C.

O DIA EM QUE À REVELIA DA PROTEÇÃO DE TÊMIS, O JUIZ DE GOIANA FOI JOGADO NO LIXO "

EDINALDO CHAVES

Falamos de um tempo, onde os homens vestiam casaca e usavam cartola, estamos em Goiana ano de 1856. O poder era disputado por duas lideranças, de um lado o Sr. Barão de Bujary, do outro o Sr. Barão de Goiana. As eleições tinham seu palco nas Igrejas lugar de votação, onde apesar do sagrado muitas vezes ocorriam invasões armadas.

Como hoje, nem sempre a magistratura se mantinha isenta, havia figuras passionais, e foi o que ocorreu. O juiz de Goiana pendia para o lado do Barão de Goiana e não economizava esforços para ver Bujary derrotado. As ações do magistrado não passavam despercebidas aos sinpatizantes de Bujary, que num momento de incontida euforia disse:

- "Se nós não perdermos essa eleição, vou mostrar a esse metido como se respeita o cargo." Certo cidadão goianense presente a essa reunião em casa do Barão se pronuncia dizendo:

- "Comendador, esse Juiz precisa é de uma lição. Não é pouco o que tem feito ele para nos prejudicar e agradar aos seus."

- "Peço calma, responde Bujarí. Afinal o homem é autoridade, não convém precipitações, mas caso saiamos vitoriosos, o que pedirem eu faço," afirma categórico o Barão.

Dia de eleição, corre corre, corpo a corpo, naquele tempo já havia isso, lacram-se as urnas guardadas sob os olhos mudos dos Santos da Igreja do Rosario e claro de guardas de ambas as facções devidamente armados a se olharem de esguelha e prontos para tudo.

Urnas abertas votos contados, vitoria de Bujary. A comemoração nas salas do solar do barão correm noite a dentro, o vinho é servido à farta, quando em dado momento alguém se pronuncia:

- Comendador, e o juiz? O sr. disse que o que fosse pedido seria feito.

- Eu disse, responde o Barão, mas peço que não exagerem no castigo, afinal é um juiz.

O povo eufórico dirigi-se a casa do magistrado onde no meio da noite o arastam para fora, colocando-o num saco o qual é atirado à carroça do lixo e com ele passeiam pelas ruas a gritar:

- "Olhe o Juiz corrupto! Vai pro lixo!

Foi um desastre. Nem a deusa TÊMIS protegeu o infeliz magistrado. Pela manhã o Barão soube do ocorrido mas já era tarde. Sua Excelência desmoralizado, pediu remoção do cargo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apesar de já conhecer o "fato" e tantos outros dos quais vc conta e cria, tanto ensinam muito quanto dá para se rir bastante.Feliz por te ver aqui neste Blog de seu primo Hugo, que acredito eu foi um encontro muito gratificante e sei "do quanto" nas semelhanças.
Você é um homem muito especial pela sensibilidade e franqueza em tua vida.Sei de muitas destas, de textos teus e de tuas poesias...Escreva porque eu vou combrar viu...rsrsrsBeijo.
PS Parabéns Hugo pelo Blog.