sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O DIA EM QUE EU CONHECI O "LÁPIS-TINTA"


Breno Grisi

Bertino, Everardo e eu caminhávamos rapidamente pela Av. João Machado, em direção à escola de D. Tércia. Era dia de prova e já estávamos atrasados. Eu segurava uma folha de papel-pautado, enrolado e dentro dele levava uma caneta-tinteiro Oxford (esta funcionava bem, dia-sim, oito-não). Com os passos apressados e a mão que conduzia o papel-pautado enrolado, indo para frente e para trás em movimentos rápidos de quem caminha apressado, vi minha caneta voando à minha frente ... e cair de ponta na calçada. Nem a tampa conseguiu evitar que a pena se “escarrapichasse,” tamanho foi o impacto. E ao tentar juntar as partes escarrapichadas da pena, uma delas "torou". Acho que fiquei amarelo de desespero, abafando o verde de raiva!

Estávamos em frente à Maternidade Cândida Vargas, longe ainda de chegar na Rua das Trincheiras. Foi aí que meus amigos Bertino e Everardo me socorreram, quando o primeiro disse: vamos lá em casa buscar um "lápis-tinta" que papai (Dr. Otacílio Nóbrega de Queiroz) trouxe da viagem (se não me engano, de Recife). Eles moravam pertinho dali, na Av. Maximiano Figueiredo. Fui assim salvo por essa maravilha da tecnologia do ano de 1954, que realmente era um misto de lápis (por ser de madeira) e caneta (por usar tinta). Hoje conhecida por caneta esferográfica, mas que muitos paraibanos continuam chamando de lápis-tinta.

Durante a prova, o dito lápis-tinta produzia uns borrões, mas o mata-borrão que eu tinha trazido no bolso, companheiro inseparável da minha "recém-falecida" caneta Oxford, resolvia esse pequeno problema. Era verdade que a tinta desse "lápis metido a bêsta" cheirava à barata e a tinta vazada que atingia os dedos, só saía depois de alguns banhos; aliás, não muito freqüentes aos 10 anos de idade. Mas salvou-me do olhar fuzilante de D. Da Luz e da cara de ceticismo de D. Tércia se para a prova eu tivesse comparecido sem caneta e contando essa estória estapafúrdia da "caneta voadora".

3 comentários:

Thiagorch disse...

Bela história, muito bem escrita.
Caí aqui pelo google, no qual eu procurava saber o que é um lápis-tinta (um dos métodos de escrita para ser utilizado em documentos fiscais).
É muito bom aprender. Lendo histórias é melhor ainda.
Abraços!

marta disse...

Que bom poder comentar uma história com fatos verídicos, onde se conhece as ruas citadas, os prédios, a palavra "torou", o papel pautado usado na época e a própria família Grise que eu sabia onde morava. Que saudade da rua João Machado onde eu ia com outras crianças da rua D. Pedro II a pé para o Grupo Escolar Isabel Maria. Não cheguei a usar a caneta tinteiro, mas foi por pouco!
Valeu Grisi!!!

Cris disse...

Assim como o usuário Thiagorch, caí aqui pesquisando o que era lápis-tinta e me deparei com esse texto. Muito interessante! Obrigada pelo conteúdo.