segunda-feira, fevereiro 11, 2008

PIERRÔ APAIXONADO - Histórias de velhos carnavais


Elpidio Navarro

“Um pierrô apaixonado
que vivia só cantando...”

João que amava Rita, Rita que amava Pedro. Pedro que amava Rita e não amava Maria. Maria que era uma incógnita. Pedro que nunca descobriu se era amado por Maria. De Maria e João, nunca se soube de nada.

“Por causa de uma colombina
acabou chorando, acabou chorando...”

Pedro e Rita brincavam um eterno carnaval de amor. No bloco dos escondidos, não tinham hora nem dia. Acontecia. Sempre pulando um com o outro. E cantavam felicidade e desejos. Rita era uma linda mulher. Trocava de penteado toda vez e continuava linda, mesmo disfarçada. Uma fantasia de colombina. Pedro não! Fazia questão e não temia ser ele mesmo. Azar de Maria se ela soubesse!...

“A colombina entrou num butiquim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim...”

A vontade de Pedro de ficarem juntos para sempre contrariava Rita. Ele vivia sonhando em pedir a separação de Maria com Rita se livrando de João. Até estava disposto a se separar de Maria antes dela se separar de João. Mas Rita era taxativa: “Nunca faça isso... Com você solteiro não brinco mais no seu bloco. Acaba o carnaval para nós dois. Jamais brincarei carnaval com um homem solteiro!”

“Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim...”

Mas a idéia de separação não saía do juízo de José. Então começou a imaginar: seria Maria um poço de inocência? Talvez não fosse, pensava, até o dia em que teve a certeza: flagrou ela com um José qualquer noutro bloco. Pensam que achou ruim? Que nada! Agora tinha uma perfeita razão para agir. Não resistiu ao entusiasmo e pediu a separação, esquecendo o aviso de Rita. “Não danço mais com você. Procure outra para a sua dança.” Foi o que ouviu quando contou o sucedido. “Eu avisei. Agora, adeus!"

“Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim...”

Pedro sentiu-se traído pela sua própria paixão. Que bobagem tinha feito! Bastava continuar com a farsa: fingia amar Maria e amava Rita que não amava João. Se Maria amava José, ela que pedisse a separação e ele não teria descumprido a promessa que fizera a Rita. Simples! Sua falta de amor por Maria fazia com que ele nem se sentisse traído!...

“Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim”.

Ficou só e passou a freqüentar os bares buscando aventuras encontradas e nunca amadas. Não dançavam a mesma música, não pulavam no mesmo bloco do amor. De Rita soube de vários carnavais em outros blocos de casados de um carnaval só. Mas ela permanecia fiel a João: nada de homem solteiro. Maria mandou-se com José sem deixar saudades. Pedro pensou, pensou, pensou e feito um “cavaleiro de triste figura” imaginou ter encontrado a solução: casar de novo. Era isso! Botou o bloco na rua, vestiu a fantasia de Pierrô e Rita voltou de Colombina e com ela pulou. Pulou, mas só mais uma vez. Ele já não era o mesmo... Ela já não tinha a animação de antigamente. Já não pulavam com as mesmas energia e alegria. Já não conseguiam dançar todos os ritmos. Não deu mais. Foi o último carnaval que brincaram juntos. Hoje quando avista Rita lembra da fantasia guardada no armário do passado. Mas lembra, com muita saudade...

"Relembro com saudade o nosso amor
O nosso último beijo e último abraço"

Até mudou o verso de Mario Lago que dizia "sem saudade" porque cantou que a saudade existia. Não cantou que foi um fracasso porque foi bonito, foi bonito e foi bonito e plagiou outro poeta: "foi eterno enquanto durou".

"Um pierrô apaixonado... "

www.eltheatro.com

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