domingo, março 09, 2008

ESPANHOLADAS, GALEGADAS


Riobaldo Tatarana

“Da Espanha, nem bom vento nem bom casamento”. Esse antigo provérbio português, citado por Eça de Queirós no romance O crime do padre Amaro, expressa muito bem o sentimento, não apenas de Portugal, mas de toda a Europa, por esse país de segunda classe, que agora, depois de juntar uns trocados, dá-se ares de potência mundial. E nessa fantasia de grandeza, passa a hostilizar os estrangeiros do terceiro mundo – mundo do qual ele sempre fez parte, como um dos seus membros mais antigos.

Ora, a galegada! Até um dia desses, o Brasil recebia levas e mais levas de espanhóis, que aqui chegavam com uma mão na frente outra atrás, para tentar escapar da ditadura franquista e do atraso de uma economia estagnada. E aqui foram recebidos com toda a amizade e carinho, típicos dos brasileiros, que sempre tiveram por hábito abrir os braços aos imigrantes. Judeus, árabes, japoneses, italianos, portugueses, coreanos e de onde mais viessem, gente honesta e trabalhadora, que ajudou-nos a construir o país.

Nessa liberalidade, recebemos também muitos espanhóis, que em sua grande maioria vieram dedicar-se a sua atividade mais característica, a única que realmente sabem fazer: abrir restaurantes fajutos e sobretudo bordéis, que é a especialidade deles. Toleramos tudo, sempre na esperança de que melhorassem com o tempo, perdessem a casca fascistóide que forma o caráter médio desse povo abaixo da média.

Aqui agüentamos tudo, educadamente, sua língua pegajosa – tão diferente do doce idioma falado nos países sul-americanos e no México – sua absoluta falta de educação, sua religião medieval e até seu horror à limpeza. Vejam quanta ingratidão: agora, esses mesmos sujeitos voltam-se contra nós, e hostilizam os brasileiros que para lá se dirigiam, não para abrir botequins e casas de tolerância, mas para estudar.

Em boa hora o governo brasileiro deu educadamente o troco, sem qualquer exagero, limitando-se a usar a lei internacional da reciprocidade. E mandamos de volta mais uma leva de aventureiros, que aqui esperavam estabelecer-se em atividades ilícitas. A única coisa que preocupa é nossa natural tendência a tudo perdoar e esquecer. Que logo se tornem a afrouxar nossos controles imigratórios. E que continuemos a receber essa galegada, desde aquele rei de baralho, com seus trajes carnavalescos, até seu azeite de segunda, seus vinhos de terceira e seu know-how para tudo o que não presta. Até lá, aguardemos que o bravo povo basco consiga sua independência. E aí sim, recebamos os bascos que quiserem nos visitar, de braços e coração abertos.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Em boa hora o governo brasileiro deu educadamente o troco, sem qualquer exagero,..."
Admiro vós! Hugão