sexta-feira, abril 25, 2008

MEMÓRIAS DE AMOR


Kátia Dias

Sob o céu azul — calor do sol aquecendo meu corpo e minha alma — ao som do mar, relembrei meu grande amor. Recordei mais uma vez o dia mágico em que nos conhecemos.

Como que por encanto, naquele oceano de gente, um ser logo se destacou! Tudo nele me chamou atenção: olhos, cabelos, boca... Naquele instante, senti o tempo parar, e quase cheguei a cair, quando, em verdadeiro transe, o vi caminhar em minha direção. No momento em que ele se dirigiu a mim, não pude conter o nervo-sismo, falei feito autômato sobre assuntos sem importância como o tempo, o sol, o calor e coisas mais, tudo sem nexo. Até que,lentamente,fui recobrando o controle, e a conversa passou a fluir com algum sentido.

E aí nasceu nossa amizade.

Após um mês de telefonemas diários e passeios com amigos, veio, finalmente, o primeiro beijo. Quando isso aconteceu, tive a sensação de que meu coração iria explodir. Foi desse beijo — desse encantamento — que tudo começou a se solidificar entre nós.

A cada dia que passava, me sentia mais envolvida pelo sentimento mágico. Dia-a-dia íamos nos conhecendo, nos admirando e nos tornando mais e mais próximos. Aos poucos, fomos perce-bendo, o quanto éramos necessários um ao outro. Nossa cumplicidade crescia, compartilhávamos desejos e anseios, esperanças e frustrações.

Lembrei do dia em que ele tentou terminar o namoro. Que fracasso! Chegou a ser engraçada a situação. Ele queria colocar ponto final no sonho, pois precisava de liberdade, segundo disse. Mas queria terminar sob a condição de continuarmos amigos, como havíamos combinado que sempre o seríamos. Contudo, não mais aceitei tal idéia, desejava-o como namorado, unicamente. Diante de minha firmeza, com lágrimas nos olhos ele pediu perdão, voltou atrás. Posteriormente rimos muito desse quase lastimoso fato.

Transcorrido algum tempo, partimos para algo mais sólido: o casamento. Momento inesquecível e maravilhoso vivido por nós. Na bela cerimônia, achei-o lindo como nunca. Tenho que admitir, eu também estava deslumbrante. Quanta felicidade a nos envolver! A ventura era tanta, que quase se podia ver seus raios emanarem de nós em todas as direções. Nossos familiares e amigos não cansavam de comentar, de dizer da felicidade que se lia em nossos semblantes.

Após um ano de completa ventura, a emanação continuava a mesma. Quando, em conversa com pessoas amigas, carinhosamente me referia a meu marido, todas perguntavam há quanto tempo estávamos unidos. Diante da resposta, manifestavam-se surpresas: ah, está explicado tanto amor, ainda estão em lua de mel! Em seguida, algumas dessas pessoas vaticinavam como aves de mau agouro: esperem o tempo passar... Mas, contrariando todos os presságios, após dez anos, ainda nos sentíamos vinculados, dependentes um do outro.

Com o passar do tempo, as pessoas continuaram percebendo a amplitude de nossos sentimentos. E já não se admiravam da intensidade de nosso amor. É claro que aconteceram dificuldades entre nós, ele sabe tanto quanto eu. Juntos, passamos por momentos dolorosos. Lembro-me, com dor no coração, do pior desses momentos, a morte do pai dele. Presenciamos ruir, à nossa frente, um dos pilares de nossas vidas. Mas eu estava ao lado dele, pronta para consolá-lo e dar-lhe o apoio necessário a fim de superar essa dor.

Durante dezessete anos, simbolizamos a encarnação do amor devotado. Nos últimos tempos, porém, passamos a ver as coisas de forma diferente. O curioso é que, até nessa mudança de ótica, concordávamos. Ambos estávamos vendo possibilidades outras em nossas vidas. Descobrimos que, nem mesmo esse grande amor seria suficiente para manter-nos unidos e felizes.

Hoje estamos separados, cada um com sua vida. Estamos felizes, graças a Deus, com os caminhos que escolhemos. E continuamos amigos. Amigos de verdade. Torcemos de coração um pela felicidade do outro. Tenho certeza de que, em qualquer situação, podemos nos amparar mutuamente. Por tudo isso, posso concluir que almas gêmeas existem. Mas essas almas não precisam, necessariamente, partilhar a vida para estarem felizes e realizadas. A felicidade e realização podem ocorrer só por se saber da felicidade e realização do outro. Mesmo quando se está longe.

Enquanto estas lembranças vão fluindo à minha mente, o calor do sol, ao som do mar, continua aquecendo o meu corpo e a minha alma.

Sou feliz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Katia
Muito bonita a sua história de amor, uma prova de que o romantismo ainda existe em nossos dias.
Abraço. Mary