sexta-feira, maio 09, 2008

LADEIRA ACIMA

Recebi este texto com a seguinte recomendação:
"Ô Hugo, esse minino. Vê se presta mandar
esse negócio aí pro Riobaldo."
Ósculos e Amplexos
Aline

Fiz melhor, postei no Blog.
Olha aí, Riobaldo et caterva,
dessa vez a menina Aline rodou
a baiana. Confiram.
HC


Aline Alexandrino


"O problema nunca foi de esquerda e direita. O problema é que,
em qualquer regime, tem sempre meia dúzia por cima e um
porrilhão por baixo" (Millor Fernandes – A Bíblia do Caos)



Meu caro Riobaldo. Como fui citada no seu último texto do Blog, estou me sentindo à vontade para, como fazem os senadores citando o artigo 14, ter o direito de resposta. Então prepare-se que lá vem a cavalaria...

De início, concordo com você. Tá preta a coisa! Naufrágios por irresponsabilidade, com perdas de inocentes. Falcatruas intermináveis, acompanhadas da respectiva impunidade. Celebridades inconseqüentes até com sua própria sobrevivência no mercado. Aposentadorias milionárias ao lado de um salário mínimo minimorum, como a gente dizia antigamente, quando ainda se estudava Latim. Honestidade, honradez, solidariedade, e valores similares, perdidos na mediocridade reinante e acachapante. Realmente, não tá fácil. Entretanto...

Esse país é constituído por um povo que tem a vocação da sobrevivência. Sobrevivemos ao Tratado de Tordesilhas, às Capitanias Hereditárias, a todos os ditadores de plantão nestes 500 e poucos anos, e às opressões da matriz do hemisfério Norte enquanto construímos, aos trancos e barrancos, um país que é forte, pujante, com riquezas aparentemente inesgotáveis, um povo criativo, e que basicamente realmente não desiste. Deixe logo eu esclarecer: não sofro da síndrome de Pollyana. Tanto que reconheci, no começo deste palavrório, tudo aquilo de que você se queixa. Mas quem tem razão é o filósofo de Copacabana, Ibrahim Sued: os cães ladram e a caravana passa.

Eu sei que incomoda, que é chato a gente agüentar a verborragia do metalúrgico paulista-nordestino, que dói ver a situação das crianças nas ruas, da violência nas cidades e no campo, uma reforma agrária que não acontece nunca, um sistema educacional cada vez mais fragilizado, eu sei que às vezes dá vontade de desistir. De vez em quando digo que na próxima encarnação vou nascer na Finlândia, branca e loira (com direito de voltar todo ano pro Carnaval)...

Mas o Brasil é maior do que tudo isso e me recuso a entregar o ouro aos bandidos. Não posso entregar o ouro quando me lembro de Vinicius, de Elis, de Cartola, das escolas do interior de Pernambuco que, nos últimos 3 anos, ganharam o primeiro prêmio de gerenciamento escolar do país, com soluções incrivelmente criativas e pedagógicas. Não posso entregar o ouro, quando vejo que nós aqui no Blog do Hugão (grande figura!) continuamos sustentando um humor fundamental para agüentar essa vida de brasileiro, e principalmente porque tem um monte de gente pequena que está aí esperando pra participar também dessa festa. Não posso entregar o ouro, quando vejo o país crescer, apesar dos governantes, que estão cada vez mais cínicos e debochados, porque seria então admitir que eles e todos os outros que falam do país tem razão quando criticam e dizem que não temos jeito. É isto que eles querem, acabar com nossa auto-estima, com a nossa certeza da grandeza dessa nação mestiça graças a Deus, para aí sim, poderem se locupletar ainda mais, usufruir do que é de todos e ainda morrer na cama, de velhice.

Comigo não violão! Vou incomodar enquanto estiver aqui! É trabalho de formiguinha? É! Mas veja onde elas chegam e o que fazem. Nós somos muito melhores que eles e não admito estar no mesmo saco. Não sou esse tipo de farinha. Isso não quer dizer que não estou indignada, e confesso que de vez em quando faço como você: entro em deprê, digo que isso aqui não tem mais jeito, que a vaca já tem condomínio no brejo, que não é o fundo do poço porque o poço não tem fundo, e otras cositas más... Aí acordo no outro dia e vejo o sorriso de uma criança que merece ter uma vida melhor, olho pra mim e vejo que bem ou mal resisti à passagem dos anos, com dignidade, que como a grande maioria do povo brasileiro não mato, não roubo, não engano, pago as minhas contas (reclamando, é claro), sou bem humorada, tenho amigos que tem enormes qualidades, gosto de feijoada (se bem que ultimamente tenho que maneirar) e choro toda vez que ouço o Hino Nacional, especialmente se ganhamos o jogo.

Em resumo, acho que gente como nós, que ainda pensa e ama a terra em que nasceu, porque não verá nenhum país como este, está aqui pra impedir que essa canalha dominante não se sinta completamente segura à noite, quando vai tentar dormir. Já passamos por coisas piores, e não é esse bandozinho de aloprados que vai estragar a nossa festa. No meu caso, quem for ao meu enterro pode apostar que vou estar sob protesto e contra a vontade, porque quero ser formiguinha pelo maior tempo possível. Parece pouco, ou ingênuo, mas não é. Eles gostariam que entregássemos os pontos mas isso não vai acontecer. Sabe por que? Porque nós somos a maioria, pô!!! E como tudo que começa acaba, isso tudo também vai passar...

"Sou um índio do asfalto e não sei viver fora do Brasil.
Minha árvore genealógica é a mangueira"
Millor Fernandes, idem)

2 comentários:

Anônimo disse...

Hugão,

Seu blog está cada vez melhor... Os textos fluem com a suavidade do nosso Capibaribe. É a única coisa que me faz sentir uma grande nostalgia da terra que decidi abandonar para fincar raizes no planalto central. Longa vida a esse espaço onde nós podemos nos indignar com humor...

Osnaldo

Anônimo disse...

Aline, minha bichinha, eu penso exatamente como você, e se não amasse profundamente o Brasil e seu povo já teria morrido de tristeza. O problema é que muitos dos caras que a gente admirava estão "passando por baixo do arco-íris". O governo lula tem esse mérito: escancarou tudo, e a falta de caráter daqueles por quem tanto lutamos e em quem tantas vezes votamos mostrou-se de corpo todo. Basta ver os dirceus e martas, genoínos e ziraldos etc. etc. Mas sabe de uma coisa? Esses caras não vão tirar minha alegria não. Tenho o mar de Olinda, tenho milhares de escritores, músicos, dramaturgos, atores e atrizes, vivos ou já partidos, famosos ou anônimos, que formam a minha, a nossa tchurma. Esses brasileiros mesquinhos e escrotos que se danem. E viva nós! Riobaldo