sexta-feira, maio 09, 2008

NA GANGORRA: ENTRE RIOBALDO E ALINE


Breno Grisi

Confesso sentir-me nessa pendência ao ler as opiniões dos compatriotas em epígrafe, no simpático “blog do Hugão”. Para o lado de Riobaldo vou eu quando ele lastima essa BANDALHEIRA (grifo meu) em que ora vivemos neste país. Sempre existiu, dizem os “otimistas”, mas se agrava em perpetuidade, digo eu “pessimista”. Para o lado de Aline vou eu quando ela diz que não desistirá, apesar de reconhecer e concordar com várias afirmações de Riobaldo. Teve ela o cuidado de dizer que vivemos num país com “recursos APARENTEMENTE inesgotáveis”. Mas eu acho que nós brasileiros tratamos a Natureza como filho de rico que não sabe (ou nem quer saber!) o que herdou e “torra tudo”. Diz ela ainda e com razão, que a maioria do nosso povo não mata nem rouba ... mas, digo eu que, no entanto, esse mesmo povo gosta de enganar, passar por esperto, desrespeitar as leis (“Corruptissima republica, plurimae leges” = Quanto mais leis tem um país, mais corrupto ele é; Tacitus Publius Cornelius, no ano de nascimento de Cristo), atropelar os direitos do próximo, mostrar em público a precaríssima educação recebida, subornar e ... entre muitos desmazê-los, praticar sutil ou dissimuladamente preconceitos, como o social e o racial. Em termos de avaliação política não é a toa que surgiram expressões brasileiras referentes a político honesto (raríssimo): “esse é tão ruim, que nem parente ele ajuda” e a político desonesto (comuníssimo): “esse rouba mas faz”.

Mas, na minha compreensão de muitos anos vividos no ensino e pesquisa em Ecologia, no doutorado e pós-doutorado na Inglaterra e em trabalhos desenvolvidos em Universidades e Instituições de pesquisa, lá fora e aqui, em diversas regiões brasileiras, do sudeste ao norte; observando nosso comportamento comparativamente ao de povos do tal do primeiro mundo, eu reconheço que o Brasil cresce, como bem disse Aline, mas NÃO SE DESENVOLVE, como deveria e poderia. Admito ser verdadeiro o dito “se os homens só falassem do que realmente entendem, o silêncio seria insuportável”, mas me sinto mais confiante quando trato da questão homem-Natureza. Este é um bom exemplo, pois é a base do desenvolvimento sustentável em que tanto se fala e se deseja alcançar; e que deve ser praticado nesta ordem: ecológico, econômico, social. Nossa “pobre-marionete” do Ministério do Meio Ambiente não tem presença significativa no governo. Sinto mais pena dela do que revolta! Precisaríamos de espaço aqui para descrever as atrocidades cometidas contra nosso maior patrimônio (e o maior do mundo, sem medo de errar): a amazônia. O mesmo vale para os recentes desencontros da nossa política indigenista, que insiste em manter este importante segmento do nosso povo, marginalizado em “mega ou giga-zoológicos”. Sem acesso a uma imprescindível boa qualidade de vida (educação, orientação com tecnologia avançada para explotar a Natureza e gerar divisas, assistência médico-hospitalar, sanitarismo ...). E lá vivem eles praticando igualzinho ao que ocorre no resto do país: corrupção, posse de bens alheios, alcoolismo ... e até infanticídio (tradição cultural deles; omissão nossa). Pela lei, não se lhes pode imputar responsabilidades. Até quando serão considerados “incapazes”?

E à medida que delapidamos nosso maior patrimônio, perdemos a oportunidade de ganhar divisas com “créditos de carbono”, por exemplo, e a biodiversidade. Estamos sempre correndo riscos de comprometer nossos solos nobres para produzir combustíveis para veículos automotores, em detrimento de “combustível humano” (alimento), como ocorreu nos tempos do Proálcool, em que se plantou muita cana-de-açúcar na riquíssima terra-roxa-do-Paraná, para produzir álcool.

Quanto a governos, de direita, esquerda ... pendo para o lado de Aline. Importa-me mais o caráter de seus componentes. No Brasil, não é fácil ser governo. Reconheço. Mas me entristece ver distribuição de renda distorcida; banqueiros e grandes empresários pagarem imposto de renda reduzido ou sonegarem (eu o pago “na fonte”) e deverem à previdência (eu, aposentado, pago “na fonte”). E os Presidentes da nossa república? Alguém sarcasticamente mostrou a diferença nas obras dos governos anterior e atual: FHC, professor universitário aposentado com 10 anos de trabalho e sociólogo (de competência duvidosa) disse “Esqueçam o que eu escrevi” e Lula (torneiro-mecânico, nordestino batalhador preocupado com as injustiças sociais disse “Escrevam o que esquecí”.

Na gangorra, instalo-me no lado do Riobaldo. Definitivamente. Até prova convincente em contrário.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é. O que é a natureza... Mas continuo acreditando. As mudanças não andam do jeito que a gente gostaria. A gente quer Sena e só vem Barrichello. Pode?! Sei que não vou viver o suficiente pra ver o país que gostaria de ter mas isso não faz a menor diferença. Outros verão e enquanto estiver aqui vou continuar fazendo barulho. Aline

Anônimo disse...

Caro confrade, esses comentários profundos e bem craneados são muitíssimo bem-vindos. Viva a liberdade de opinião! Agradeço o tempo e a atenção dedicados a esse pobre escrevinhador. Riobaldo