quinta-feira, maio 29, 2008

O MACACO ESTÁ CERTO


Djanira Silva

Com tristeza, verificamos, que o mundo está passando por uma radical inversão de valores. Quem me conhece sabe que nunca fui puritana nem metida a santa. Pode até alguém me achar metida a besta. Aí, são outros quinhentos. O que acontece atualmente ao nosso redor é de estarrecer e, acontece assim, quase que de repente, como diriam os bbbs - tipo assim - Pois é, tipo assim como diriam os privilegiados globais. Não tenho vergonha de afirmar que assisto tudo quanto é programa, do contrário, como ter assunto para fazer comentários? O malfadado BBB bem poderia ser um programa com propostas positivas dirigidas a essa mocidade desgovernada que está por aí sem destino e sem vontade de encontrá-lo. A sigla BBB deveríamos ler como bobocas, beócios e babacas. Sem contar que Bial também começa por B. Ouvir uma conversa entre eles é de enlouquecer, senão vejamos:

- Pois é, cara, estou hoje tipo assim, sabe, bicho?
- Legal, cara, eu estou meio que nem sei, também que nem tu, tipo assim.

Um programa que tem uma força extraordinária de audiência, parece haver feito uma seleção do quanto pior melhor. Mulheres desbocadas, dizendo palavrões em pleno ar. Enchendo a boca de baralhos e bugalhos - tipo assim, desfilando nuas ou quase nuas cercadas por homens (?) venais que não fazem a menor questão de posarem de abestalhados e chifrudos. Agora, me pergunto, pois não tenho o direito de perguntar a ninguém, quem foi que desvalorizou a mulher? Foi o homem ou ela mesma que não se dá apreço e torna-se cada vez mais vulgar em troca de fugazes momentos de fama? Por aí começa a inversão de valores. Você estuda, termina curso superior, às vezes até se mete a escritor, publica alguns livros e fica no ora veja. Ninguém nunca ouviu falar no seu nome, embora já tenha vários títulos publicados. E, de repente, aparece uma torturadora de crianças, uma enfermeira que espanca idosos, sem falar nas seqüestradoras e estelionatárias. Alguns programas de televisão dão ênfase ao fato, em entrevistas sensacionalistas e a imprensa de modo geral, empurra-nos, goela abaixo, a biografia delas, o histórico do que fazem no dia-a-dia, enquanto a maioria dos brasileiros não sabe sequer quem foi Carlos Chagas, Osvaldo Cruz ou Josué de Castro.

Assim, chegamos à conclusão de que para se ter um lugar de destaque neste país, isto, quem não nasceu rico, ou de família ilustre, é cometer algum ilícito. Aí, sim, fica-se famoso da noite para o dia. Se for jovem, de boa aparência, de nenhuma cultura e com raciocínio zero, poderá vir a ser um bbb que entra no programa sem eira nem beira e sai milionário sem esforço algum, com direito a assassinar o português, mudar a topografia do mundo, se expressar numa linguagem que ninguém entende e ficar mais conhecido do que o Papa. É bem verdade que são momentos passageiros. A maioria aparece feito estrela cadente, sem pensar que elas mudam de lugar e a gente nem sabe para onde.

O que vimos neste programa que se apresenta como um show da vida real foi um gasto excessivo de tudo, de água, de energia elétrica, de alimentos. Festas transformadas em verdadeiras bacanais com bebidas em excesso, comida em demasia num país onde a maioria do povo passa fome. Mulheres bêbadas, vomitando, expondo-se ao ridículo, caindo pelas tabelas. A quem interessa este tipo de deseducação? E, como prêmio, por conta de um confinamento voluntário e desejado, sai dali um milionário deixando para os jovens desorientados da nossa falida sociedade uma lição negativa. Estudar? Pra quê?

A propósito hoje vi num programa de ocorrências policiais um fato que me deixou apavorada. Um criminoso trazia tatuada no braço uma mensagem escrita na linguagem dos bbbs - "Deus fais, mãe cria, nois mata" - Não é sonho não, é a pura verdade. Quem ligou qualquer canal no horário dos jornais, viu e ficou sabendo que vivemos num mundo sem limites contra o crime. E nossas autoridades? Vão muito bem, obrigada.

blogdjanirasilva.blogspot.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Djanira:

É por essas e por outras que, há um ano e meio, deixei de ver televisão, inclusive os telejornais, programas de esportes, tudo, enfim. E fiz muito bem, aliás, por que se ainda perdesse tempo assistindo à programação televisiva, talvez tivesse perdido a oportunidade de ler esse seu texto tão bem fundamentado. Abraços, pegemorais@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Olá,Djanira
Faço minhas as suas palavras com as "besteiras" que ouvimos no programa Big Brother Brasil.
O mais gritante é a juventude que se inscreve ser motivada a entrar no jogo, eliminar um colega a cada paredão, ficar confinada durante algumas semanas e no final ainda levar um milhão.
O reality show seria mais eficaz se, em vez dos dotes físicos dos candidatos, a seleção tivesse como prioridade a sua formação moral e educacional. Seu conto nos leva a refletir que a televisão brasileira necessita urgentemente de reformas e os jovens de mais informações e boas leituras.
Um grande abraço, Mary