quinta-feira, junho 19, 2008

Abaixo as fogueiras!


Germano Romero

O Ministério Público fez a sua parte. Aliás, o MP tem feito a "boa parte", como diz o Evangelho. Mandou sustar a queima de madeira nas noites juninas campinenses, o que desagradou a muitos, que ainda não pararam para refletir melhor sobre o significado da recomendação.

O Ministério Público fez como aquele catador de conchas da história sufi. Aquele que atirava as estrelas do mar de volta ao seu habitat porque sabia que elas estavam vivas e o sol iria queimá-las. Intrigado, um transeunte ao se aproximar pensou: "mas, que bobagem!... ele está jogando as estrelas de volta ao mar, mas, quando a maré encher, as trará novamente para a areia da praia"...

"Moço, não adianta o que estás a fazer! As ondas jogarão essas estrelas de volta na próxima preamar. O rapaz olhou-o, e continuou a atirá-las ao mar, dizendo-lhe: "estou fazendo a minha parte!"

Uma boa ação não se mede pela quantidade de bem que produz. Salvar uma vida é tão nobre como salvar mil. Assim como tanto faz roubar um real ou um milhão. Comprar um voto inocente de um pobre eleitor, ou de duzentos deles.

A advertência do Ministério Público, ao proibir que se queime madeira nas noites juninas, que se polua o ar já tão comprometido com outros tipos de "gazes do progresso", que se turve o céu por onde trafegam estrelas e aeronaves, ecoou quase como um grito no deserto.

Mas, é sempre assim quando se faz um novo alerta. Muitos dizem a princípio que é "uma grande bobagem". Que as tradições precisam ser preservadas, e que "as noites de São João não terão graça nenhuma sem fogueiras". Será? Há tantas outras alegrias nas noites de São João... pamonhas, canjicas, festas, música, namoro, bolo de milho, forró pé-de-serra, a confraternização familiar, e entre amigos...

Por que não se aproveita o clima festivo e alegre para reverenciar a natureza e poupar as árvores de serem cortadas e virar lenha? De poupar o oxigênio puro, já não tão farto, que é destruído inconseqüentemente? De aproveitar o momento para mudar, refletir, e concluir que as tradições devem se moldar à evolução, aos novos tempos, à realidade das coisas?

"Mas, uma noite só não faz mal ao meio ambiente", dizem os esquecidos de quão irrespirável fica o ar na noite de São João. Também esquecidos que há outras noites... São Pedro, Santo Antônio, Sant'Ana, tudo com fogueiras ardendo. Será que esses anjos gostam mesmo dessa homenagem tão atrasada? Do tempo bíblico em que Isabel acendeu um foguinho para avisar à Nossa Senhora que tinha dado seu rebento à luz? Do tempo em que se crucificava gente viva com pregos enormes? Do tempo em que, aos domingos, ia-se ao Coliseu romano para ver leões comendo seres humanos?...

Pena que todas essas tradições tenham se acabado...

Um comentário:

Anônimo disse...

O brasileiro não cansa nunca do seu próprio ridículo. Defender a queima de árvores como forma de manter uma "tradição católica" é uma besteira sem tamanho. Até porque, fogueira católica mesmo era a que o Santo Ofício usava para queimar "hereges". Já não basta a tolice de chamar a festa de Campina Grande de "o maior São João do mundo" (como se a festa junina existisse em todos os países, e não fosse restrita ao Nordeste do Brasil)? Carlos Mello