terça-feira, agosto 05, 2008

O Balanço do Quintal


Anco Márcio de Miranda Tavares

Eu fui um menino feliz... Morei numa casa que tinha um imenso quintal. Mais ou menos uns cinquenta por vinte. Começava numa rua e acabava na outra. Nele tinha uma imensa mangueira de manga do tipo comum que dava muitos frutos e tinha um enorme galho à sua esquerda. Pedimos um balanço a papai...

Ele que nunca negava nada à gente, comprou cordas resistentes, comprou uma tábua grossa, escavou quatro entradas na tábua, amarrou as cordas e eis o balanço feito. Isso pra menino do interior há mais de cinquenta anos, sem tv, sem video game, sem ouvir nem falar em computador, era uma festa...

Eu e meus irmãos fazíamos fila pra se balançar. Nesse balanço, nos nossos sonhos, voávamos até os ceus e brincávamos de piloto de avião. Nosso pai tinha feito nossa felicidade, no nosso quintal onde eu era um xerife à cata de bandidos imaginários que só existiam mesmo na minha mente.

Afora essa mangueira, no quintal tinha apenas umas bananeiras, que dava bananas anãs, que a gente comia, ou que minha mãe fazia doces de rodelas. O quintal era nosso paraíso. Só éramos proibidos de ir num lugar dele: na cisterna que juntava água pra nos servir. A cisterna era profunda e perigosa.

Empurrávamos com os pés e eis o balanço nos ares, nos levando a lugares distantes, que antes a gente só ia mesmo na nossa imaginação. No balanço também, mas a gente fazia de conta que era verdade. De vez em quando meu pai daixava suas ocupações e vinha empurrar a gente no balanço.

Era nessas horas que o tosco artefato era mais prazeroso, pois ia beeeeeeeem alto e a gente nem tinha medo, pois o papai estava ali por perto. E hoje, aos quase 63 anos, eu daria um ano de minha vida pra voltar àquele quintal e ser balançado pelas mãos fortes de meu pai. Ah, como seria bom que os pais nunca morressem!!!

www.ancomarcio.com

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