sábado, outubro 18, 2008

AGRURAS DE UM CORAÇÃO IDOSO NA SELVA DE PEDRA DE PINDORAMA


Hugo Caldas

Velho, velhote, pé na cova, idoso. Há muito que desejava tocar no assunto. Pego então uma carona no interessante artigo de Marcus Aranha publicado um domingo desses no "O Correio da Paraíba" e postado aqui, neste mesmo Blog. Diz o caro amigo, entre outras coisas o que se segue:

"No Brasil temos Estatuto do Idoso, Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Conselho Estadual do Idoso, Dia Nacional do Idoso, Semana do Idoso, Secretarias de Saúde cadastrando idosos e fornecendo Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa. Olhando a coisa no papel o idoso está super protegido, sob a assistência integral do Estado. Ledo engano... Aqui, idoso tem sofrido mais que couro de bater fumo".

Não sei, meu caro, como as coisas funcionam aí em Jotapê. Aqui vai a minha opinião exclusiva de velhote, usuário de transporte coletivo. Sendo o trânsito na Mauricéia uma coisa de louco, mais parecendo a Casa da Mãe Joana, me obrigo a deixar o Jipe em casa.

Temos por estas plagas, tudo isso listado acima. No entanto é no item "Carteira da Pessoa Idosa" que a porca torce o rabinho. Pois bem, aqui você tem que mostrar é a "Carteira de Velho".

Convenhamos que isso é uma avacalhação. Um desrespeito para com o idoso. Não já está na cara que a pessoa tem mais de sessenta? Ou seria talvez um elogio de corpo presente? Será que estão me achando com aparência de mais novo? É, infelizmente nada dá certo na terra Pindorama. Nada funciona. Ao contrario, as pessoas (ir)responsáveis ficam inventando moda para desandar o angu.

Dê 200 réis de autoridade a quem quer que seja "neste país" e o fulano vira, de uma hora para outra, a maior autoridade. Os exemplos vão desde síndico de prédio (moro em casa) até o mais insignificante inspetor de quarteirão.

Passam pela minha calçada pelo menos umas 38 linhas de ônibus trazendo todos os efeitos colaterais possíveis e imagináveis, desde poluição sonora à fumaceira preta expelida pelos escapamentos. No entanto, a pior poluição se concentra realmente no motorista do coletivo, junto com o cobrador, muito especialmente dos ônibus oriundos da periferia, especialistas em achacar os velhotes (nos quais me incluo), quer um exemplo?

Se eu estiver só na parada eles passam direto. Dia desses um garoto de uns 11 anos, vestindo um uniforme escolar sentiu o drama atravessou a rua, ficou em minha companhia e fez o ônibus parar. Quer outro exemplo?

Agora acharam de ordenar aos idosos mostrar a carteira para uma câmera instalada no teto e os pobres velhinhos coitados, ficam a maioria, se equilibrando com a carteira na mão mostrando para a maldita câmera, na medida em que o motorista arranca o ônibus na maior desfaçatez. O cúmulo! O bom é que brasileiro não envelhece e a mãe do motorista vai muito bem, obrigado.

Todo mundo neste país quer ser chefe de alguma coisa. Todo mundo adora burocracia. Um ministro da ditadura, Beltrão era o seu nome, acabou com 90 % da papelada existente à época mas não adiantou muita coisa pois as pessoas insistem em acumular papel, mesmo na era da informática. Então inventam essa onda de carteiras. Aí tem!

Aparece de tudo para boicotar os nossos direitos. São na realidade conquistas mas eu não pedi, nós não pedimos, ninguém pediu, nem foi às ruas reivindicar passagens grátis. Nos deram. Temos direito por lei. Para que usar câmeras, carteiras especiais quando a lei diz que qualquer documento poderá ser apresentado, se solicitado. Vou ter que portar carteira para provar que sou idoso?

O fato é que se rouba tudo em qualquer lugar neste país. Tem mais...

Ficam o motorista e o cobrador na maior farra recebendo a passagem das pessoas que não passam pela catraca e saem pela porta da frente. É claro que as passagens foram pagas, mas à "dupla dinâmica". São seis os lugares nos ônibus destinados à idosos, mulheres grávidas, deficientes físicos, etc. É só fazer os cálculos e descobrir que o desvio é uma soma respeitável. Salario indireto?!

Aí mesmo em JP tive uma experiência bastante desagradável em um ônibus da linha do Cabo Branco. O motorista cismou e não queria me deixar saltar. Eu reivindicava uma lei nacional. Uma estudante, bastante solícita, se compadeceu da minha situação e se propôs a pagar. Recusei. Não era o caso. Tudo terminou no maior escândalo já no terminal. Não paguei coisa alguma.

E sabem do que mais? Vem chumbo grosso por aí. Tenho visto novidades no noticiário que já começam a me tirar o sono e o apetite. Tais como, cartões magnéticos que dão direito a apenas 4 passagens por dia e otras cositas más. Vão agora monitorar as vezes em que eu saio ou deixo de sair de casa? Bem se vê que é uma manobra cavilosa. Gente obtusa!

Existe ainda a empulhação da passagem interestadual. Você tem que ir antes do dia da viagem ao terminal e fazer uma reserva mediante a apresentação de uns documentos perfeitamente dispensáveis. Vocês aí sabem onde fica ou qual a distância do Terminal Integrado de Passageiros aqui? Nem queiram saber. Onde o vento faz a curva! E não existe nenhum bispo por perto que é para a gente reclamar.

Pessoas sentadas nos assentos reservados e fingindo dormir para não dar o lugar, me parecem à essa altura apenas uma demonstração de falta de educação. É isso, o que acontece neste país. Em Moscou, na era da comunistada, existia transporte grátis para os velhos. E ninguém, que eu saiba, vivia a desrespeitar os velhos "tovariches".

hucaldas@gmail.com
newbulletinboard.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Absurdo o que fazem com o idoso neste país... É a pura verdade. A indignação é tanta que além dos motoristas arrancarem quando avistam um velhinho na parada, quando se dispõem a parar não tem assento para eles.Poucos motoristas abrem a porta de trás e permitem que o idoso se acomode em algum assento do fundo.E as leis para que servem?
Vamos mudar para o Canadá Hugão...
Mary