segunda-feira, outubro 20, 2008

O SEQÜESTRO DA ADOLESCENTE DE SÃO PAULO


José Virgulino de Alencar


O desfecho do seqüestro da adolescente, em Santo André, no ABC paulista, foi trágico, com o gesto tresloucado do jovem e desequilibrado Lindemberg tentando matar a namorada e uma amiga seqüestradas, provavelmente querendo suicidar-se, mas a nebulosidade das explicações sobre o caso não nos assegura uma conclusão objetiva.

Infelizmente, para nós paraibanos, um lamentável envolvimento de um conterrâneo sertanejo, que certamente buscara na capital paulista uma forma de melhorar sua vida. A megalópole e seu rosário de tragédias engoliram os sonhos do jovem, perdido e desorientado na cidade grande.

Embora pouco esclarecedor, o final do triste episódio deixa na sociedade um sabor amargo, pela vulnerabilidade em que as pessoas vivem, com a criminalidade se alastrando perigosamente, entrando no vácuo da omissão dos governos no cuidado com a segurança pública. Esse caso de São Paulo pode ocorrer aqui na nossa capital, em alguma cidade do interior paraibano e nordestino, porque o mundo ligado em tempo real pela virtualidade das comunicações instantâneas coloca de forma imediata à nossa frente tudo o que há de bom, quanto o que há de ruim.

Não é simples apontar um culpado pela tragédia, porque para ela recorreram e convergiram uma série de fatores que botaram na mão de Lindemberg a arma que atirou na garota. Até o que lhe passou pela cabeça é resultado de muitas circunstâncias que antecedem ao fato, seus neurônios devem ter chegado ao ponto de explosão como resultado da carga de problemas vividos por ele, inclusive um amor irresolvido, uma paixão doentia.

Quem sai do atrasado interior nordestino e parte para São Paulo em busca de nova vida, ao lá mal se aclimatar, encontra uma jovem adolescente da grande cidade que lhe promete amor e vê esse amor frustrado, muito provavelmente, pelas diferenças culturais, embora não justifique a ação criminosa, tenha somado mais um dos tantos fatores que levaram ao desfecho doloroso do seqüestro.

Muitas outras indagações podem ser feitas na busca da raiz da culpa pelo fato. A mídia tem sua parcela de comprometimento no episódio, porque muitos órgãos de comunicação ficaram entrevistando e conversando amistosamente com Lindemberg, que, pela situação em que vive, de repente se sentiu estrela, ficou impressionado com os minutos de fama.

Para conseguir a entrevista, repórteres açodados em busca de furo de reportagem trataram Lindemberg com a amistosidade que se dedica às entrevistas de personalidades, esquecendo que ali estava uma pessoa desesperada, emocionalmente desequilibrada.

Ao acordar e perceber que, pela exposição, estaria na mira da polícia, veio o desespero maior de não se entregar, em confronto com a impossibilidade de escapar. É aí que acende o estopim da tragédia, porque a cabeça não mais raciocina, perde o senso da realidade, ou perde totalmente o senso.

Juntando a situação de cão acuado com todas as circunstâncias antecedentes que conduziram o desajustado Lindemberg àquele apartamento da namorada, o final não desejado aconteceu e ninguém pode dizer que foi inesperado.

Em meio aos equívocos da imprensa, da própria polícia, inclusive digladiando-se nas ruas de São Paulo enquanto o seqüestro ocorria, dos governos, da sociedade que, pela indiferença às questões sociais, cria alguns monstros, enfim, engolfado por tudo isso, Lindemberg, que até pode ter tendência congênita para a violência, disparou mais do que uma bala. Disparou uma carga de desespero em uma jovem inocente e desprevenida.

E, pior, será julgado pelos culpados.

2 comentários:

Unknown disse...

Foi uma tragédia, houve muitas possibilidades de tudo terminar bem.
Mas nem tudo sai do jeito que nós queremos...

Anônimo disse...

Esse episódio chocou todos os pais que tem filhas adolescentes e não sabem muito a respeito do desequilíbrio mental de seus namorados... Como se entende que um namoro não poderia chegar ao fim? Que foi ciúmes?! Não! Somente na cabeça de um louco que se viu como um "príncipe" no meio da mídia e que quer aparecer seja a que preço. Aí está o final triste. Eloá, 15 anos, foi arrebatada da vida e dos seus sonhos, pelas balas desse antes namorado que um dia trocou beijos e juras de amor, mas que não soube trabalhar no seu interior todo o rancor e a maldade com o fim da relação. O mínimo que exigimos do Estado: que se faça justiça.
Mary