segunda-feira, outubro 27, 2008

A SILHUETA

Celso Japiassu

A silhueta transpõe
os limites do muro:
é um desenho de sombras.

Os braços revolvem os traços
e ampliam imagens
impregnadas de chuva.

As portas se abrem
e as retinas de um velho se fecham
em solilóquio mudo.

A cidade desperta pelos ventos,
murmúrio
no vazio dos espaços.

Sem origem ou nome,
acompanha uma palavra,
inania verba, seus íntimos ruídos.

Ruas desaguam como rios
e canalizam os ventos, sopram
memórias em oceanos represados

no estuário das distâncias,
à margem das arquiteturas
num gesto construídas.

Um cão mistura-se à poeira,
gane, rasteja para as sombras,
perscruta o enigma, corre e some.

Na fronteira da noite, surge o dia,
a tarde ensolarada, e um gemido
libera o sentimento que o prendia.

Os sons reproduzem vidas primitivas,
existências afogadas,
mares antigos.

Testemunha de ausências,
êste é o mar que acompanha
o vento chegar a seu destino.

"Uma Coisa e Outra" é o site de Celso Japiassu e poderá ser acessado bem ali na lista de LINKS à direita de quem sobe. H.C

3 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Hugo:

O humilde poeta agradece a gentileza da publicação do poema.
A presença no Blog do Hugão já valeu tê-lo escrito.

Abraços,
Celso

Anônimo disse...

Homem, pare com essas lantejoulas que eu vou acabar acreditando. Você é que me honra em permitir a postagem. Tudo para compensar o tanto de coisa boa que eu fiz você botar fora no passado. Lembra?
Abração. Hugo

Anônimo disse...

Bela, bela, bela a silhueta de Celso Japiassu.
Um grande abraço, Mary