sábado, novembro 29, 2008

Recuerdo 34 - A PRI-4

Hugo Caldas

Década de cinqüenta. Tempos amenos, sem a violência reinante dos dias de hoje. Nós éramos felizes e sabíamos. Ginásio Solon de Lucena do Professor Otacilio, alí nas Trincheiras, perto da casa de Elpídio Navarro. Lá estudavam comigo, Walter Lins, da Radio Tabajara, Ivo Bechara, Marcos Meireles, uma lourona - sempre elas - chamada Iris e mais uma porção de gente boa. Onde estarão hoje, Ivo Bechara, Marcos Meireles, Íris e todos os outros? Tempos do canto orfeônico, matéria obrigatória, invenção de Villa Lobos onde cantávamos e por força teríamos que estudar teoria musical e viver às voltas com um fatídico ditado, "tá-aaa-tá-ti-tá-tá."

Tempos dos circos, Garcia e Nerino que erguiam as suas lonas na Lagoa. Contava meu pai que certa noite em espetáculo concorrido no Circo Garcia, um tal Sargento Nunes herói da Revolução de 1930, por conta de uma aposta, quase matou um urso durante a função. O Sargento Nunes era meio avantajado no físico. Anos mais tarde, meio ressabiado, tive um namorico com uma de suas filhas.

Tempos da PRI-4, Radio Tabajara da Paraíba.

Tempos do "Trio Jaçanã," Walter Lins, Zé Pequeno e Marlene Freire. Cantavam e ainda cantam que é uma harmonia só. De deixar sabiá complexado. Jamais encontrei vocalização mais perfeita. A Marlene foi uma garota prodígio. Certa vez, já famosa, de volta de uma viagem, em aniversário na casa de umas tias, lá na Rua 4 de Novembro, tanto pediram que ela constrangida se dispôs a cantar, a capela, olhando pros lados visivelmente incomodada pelo fato de não haver uma orquestra a acompanhá-la.

A PRI-4 foi fundada em janeiro de 1937 e tinha uma programação de primeira linha. Várias atrações nacionais e internacionais aconteciam no seu auditório. Era a glória. Convivi bastante com a atmosfera sadia da Radio porque uma das minhas tias trabalhava na secretaria durante o dia e às vezes dava recital de piano em programa tarde da noite. O primeiro transmissor da emissora, com a potência de 5.000 watts foi montado na Mata do Buraquinho, enquanto seus estúdios funcionavam em um prédio "Art Nouveau" em esquina da Rua da Palmeira por trás do Palácio da Justiça. Lá, cheguei a assistir: Xavier Cugat, Ruy Rey, Agustín Lara, (autor de "Maria Bonita - sucesso mundial) Orquestra Cassino de Sevilha, João Dias, clone perfeito do Francisco Alves, e infindáveis atrações.

Com o passar do tempo e já no governo de Zé Américo, Antonio Lucena na direção da rádio, querendo marcar a sua administração, trouxe a João Pessoa a famosa orquestra de Tommy Dorsey. Dá para acreditar? Eu, quase menino lembro que assisti à performance sentado no chão do palco bem ao lado do pianista. Hoje, fico relembrando meio que duvidando se tudo aquilo aconteceu mesmo. A imagem é bastante forte. Como são fortes as imagens dos locutores Gilberto Patricio, Jaci Cavalcanti, e de dentro do "aquário" a figura simpática de Linduarte Noronha ainda sem os louros da fama, fones nos ouvidos, mero locutor de estúdio. Anos mais tarde, Paulo Pontes, nosso maior dramaturgo, também fez part do "Cast" de locutores da Tabajara. O maestro Nôzinho, de curta passagem. Severino Araujo e sua Orquestra Tabajara há muito haviam se mudado para o Rio de Janeiro. O cantor Ruy de Assis, sucesso até hoje, mais tarde meu Diretor Regional, quando da minha passagem traumática por uma Franquia dos Correios. A cantora Meves Gama, Eclipse, cantor de bela voz. Esse pessoal faz muita falta ao cenário pobre e ridículo da música brasileira de hoje. Dizem, aliás, que a MPB morreu. Eu acho que morreu, sim. Quem de vocês se lembra de alguma música realmente bonita destes últimos anos?

A presença da Tabajara era tal que à época o Mago Gilvan, (por onde anda?) sobrinho do "Seu" Lemos do Plaza, sabia de cor e repetia a toda hora o texto do encerramento da programação da PRI-4 que era mais ou menos assim: "24 horas. Últimos instantes de um dia. A noite moribunda apressa-se para ceder lugar à madrugada... A seqüência dos fatos cronológicos..."

Pasmem, mas assisti na PRI-4 uma das primeiras performances de José Vasconcelos - "Eu Sou O Espetáculo" - o pai de todos esses "show-men" que temos hoje, à partir do mestre Chico Anysio. Como era prazeroso ver e ouvir um grupo formado por dois irmãos e duas irmãs que cantavam afinadíssimos, os "Tabajaras do Ritmo." A imagem do Sargento da polícia, Dedé, saxofonista dos bons e que andava de motocicleta. Aliás, os músicos eram um caso a parte, todos excelentes. Canhoto começou tocando no Regional da Rádio. Vieram para João Pessoa conjuntos vocais, como Los Panchos, Los Palomitos, Quinteto Los Pioneros, as Irmãs Parisi e cantores como Josefine Baker, Ninon Sevilla, Ester de Abreu, Gregório Barrios, Ernesto Bonino e o famoso "Bigode Cantante", Bienvenido Granda. Chico Alves veio inaugurar a emissora em 1937. Era muito prestígio. Mas, o bom mesmo para mim, era o Trio Jaçanã. Pascoal Carrilho anunciava... "E com vocês... O Trio Jaçanã...”

O Trio atacava com o seu conhecido prefixo:

“E eu te encontrei tão sozinha na tua estrada”.
Te dei minha mão mesmo em troca de nada
Para amenizar teu desgosto
Com todo o prazer te ajudei
Carreguei tua cruz
Dei-te apoio moral
Transformei tua vida
Numa alvorada de luz.”

Da convivência no Solon de Lucena nasceu um "clone" do Jaçanã - Valter Lins, Marcos Meireles e o-locutor-que-vos-fala. Chamava-se "Trio Coqueiro Seco" e o nosso carro chefe era nada mais nada menos do que "Prece ao Vento" (vento que embalança as paia do coqueiro), de Gilvan Chaves. Mais tarde, já de volta ao Colégio Marista surgiu uma outra formação do Coqueiro Seco. Desta vez com Aldemir Sorrentino e Marcos (Quinho) Aguiar,"O Homem da Estrela de Ouro," por onde andam o meu amigo e seus irmãos José e Hugo?


P.S. Soube que o atual prefeito tem projetos para fazer voltar o Ponto de Cem Réis à sua antiga feição. Parabéns. É preciso tirar mesmo essa aberração do centro da minha cidade. Por que ele não aproveita e reconstrói o prédio da PRI-4 criminosamente derrubado?

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O destino das fábulas

Anco Márcio de Miranda Tavares

"Era uma vez..." Geralmente as fábulas começam assim. Nunca duas ou três vezes, mas apenas uma vez. E por aí vão desfiando mistérios e mais mistérios pra nossa pobre mente cansada e embotada decifrar. Eu já ouvi umas mil fábulas, sua MORAL e nunca aprendi nada com essas histórias de origem oriental.

Preferiria ganhar "uma fábula" na MegaSena e trazer um bom país para cá. Eu é que nunca sairia daqui. Pegaria por exemplo Mônaco que é quase apenas uma praça ou o Vaticano que é somente uma praça compraria (uma fábula de grana dá pra isso) e os traria para cá. E deixaria de ser cidadão brasileiro, essa coisa que tanto me envergonha.

Talvez alguém ache feio eu me envergonhar de minha pátria.Eu acho feio a minha pátria propriamente dita, tão cheia de prostituição infantil, corrupção, roubo, baderna e impunidade. Portanto a idéia de importar um país me atrai cada vez mais e cada vez mais ronda meus pensamentos.

Eu nasci aqui, aqui mesmo em João Pessoa, em Jaguaribe, na Rua do Abacateiro e essa rua sim faria parte de meu país, bem como todo o bairro de Jaguaribe de tantas lembranças boas e más. Eu talvez gastasse metade da fabula, mas iria morar num país fabuloso de verdade. O nome depois a gente pensaria.

Nesse país eu seria herói e todos os meus cavalos falariam inglês, e a noiva do cowboy era você e todas outras três. Eu só não iria partir para enfrentar os alemães com seus canhões, por não gostar muito de guerra. A única que eu gostava era Fátima Guerra com quem namorei na minha adolescência.

Os fabulistas inventaram as fábulas e agora está difícil de desinventar. Elas estão aí todas prontas pra ser contadas e recontadas e até servir de "moral" pra quem quiser usá-las. As fábulas...Ah, as fabulosas fábulas com seus mistérios que parecem vindos do oriente..."Era uma vez..."

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domingo, novembro 23, 2008

SENTADO À BEIRA DO CAMINHO



"Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim, carros caminhões poeira, estrada tudo enfim...”

Era o que o tremendão Erasmo cantava tempos atrás. Hoje, percebo que também estou sentado à beira de uma calçada a ver e sentir todos os caminhões e carros apressados do mundo e de lambujem, a trágica realidade de 38 linhas de ônibus que me trazem poluição sonora e uma poeira preta que insidiosamente se alastra até os meus sofridos pulmões.

Mas, ... há sempre um mas, ao mesmo tempo no mais profundo escaninho da mente ouço cadenciado, bem ritmado pela minha voz silenciosa, Sinatra entoando...

"It had to be you, it had to be you, I wandered around and finally found the somebody who...

Senhores leitores, os fatos comprovam que a bola da vez continua sendo o Sr. Barack Hussein Obama II, presidente eleito dos EUA. Vez por outra, para o meu desencanto, me deparo com certas pessoas deitando falação, via de regra absolutamente estéril e inoportuna. É preciso antes de tudo ter em mente que pelo fato de ser negro, o sr. Obama não é dos nossos nem faz parte da ala dos compositores da Portela. Alguns querem até servir de exemplo. "O Obama, como eu, também não pode errar", disse um certo alguém que pelo destempero e presunção estampados, vocês sabem perfeitamente de quem se trata. Ora, deixemos de blá-blá-blá sobre o que deve e o que não deve fazer o presidente eleito. Absolutamente desnecessária qualquer orientação, especialmente vinda de fora. Não é de bom-tom forçar a barra para que Mr. Obama comece a trabalhar agora, a fim de controlar a crise criada no nefasto período Bush. Como ele mesmo disse, "há um governo constituído dirigindo a nação até o dia 20 de janeiro de 2009”. Para bom entendedor, meia palavra basta. As esquisitices mais clamorosas, contudo, aparecem de onde você esperava mesmo que aparecessem. Constatei em um Blog até bem escrito, logo no dia seguinte à vitória de Obama, uma matéria com o estranhíssimo título: "Vitória da Raça". O que é isso, minha gente? Incentivo à luta inter-racial? E se, o candidato eleito fosse de origem asiática? Pele vermelha? Tenho que alguém ouviu o galo cantar, mas não descobriu onde. A mediocridade contudo, não é privilégio do Cone Sul. Vi durante a campanha, pela TV, uma senhora nos seus 60 e tantos dizer na maior convicção. "Não votarei no Barack Obama pois ele é financiado pelo terrorismo internacional." Pode? Outra, refugiada cubana, disse em espanhol: "Venho de um país comunista e sei que esse Obama é da esquerda mais radical”. O tragicômico é que ela falava com os dentes trincados a fim de segurar a chapa dentária que ameaçava voar num arroubo menos contido.

...could make me be true, and could make me be blue...

Sintam vocês... a candidatura da ex-ministra Benedita da Silva à presidência acaba de ser lançada em alto e bom som pela ministra Dilma Roussef. Vejam o que ela andou perpetrando ontem mesmo: "O século XXI é o século dos negros e das mulheres e acho que isso vai ser muito bom para o mundo”. Quem vai adorar é o Pitanga quando tomar posse do cargo de primeiro "damo"!

... And even be glad, just to be sad - thinking of you... wonderful you, it had to be you…

De volta às vacas magras: "O Brasil é hoje o país mais preparado para enfrentar a crise". "Vamos tirar o país sair dessa crise sem ter que sofrer as conseqüências que outros países estão sofrendo", disse àquele certo alguém que adora "falar besteiras pela boca", como muito bem dizia antiga empregada da casa da minha mãe. É sempre bom lembrar que antes a "crise" era apenas uma ridícula marolinha que, sempre "é de responsabilidade dos países ricos", e para evitar ou enfrentar um tsunami "deveriam era aprender com o Brasil". "A crise, disse o sabe-tudo, que antigamente não sabia de coisa alguma, aconteceu por falta de regulação do sistema financeiro. Se aprendessem com o Brasil não sofreriam a crise que sofreram”. E por aí vai...!

Pois é, o "hôme" está mesmo decidido a ser lembrado como grande estadista. O exemplo deixou de ser o Juscelino. Agora é Getúlio Vargas. Muito bem, perguntar não ofende, "e quando agosto chegar, ele serenamente dará um primeiro passo no caminho da eternidade e sairá da vida para entrar na História?"

Cartas à Redação!

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Deve ter sido assim com Fábio Assunção

MARCUS ARANHA

“Hoje os meios de comunicação informam que Fábio Assunção teria ido para o exterior tratar da saúde. Imaginem se Fábio Assunção fosse negro, pobre e favelado, ou se fosse branco, pobre e morador do subúrbio, ou se ainda fosse sem cor definida, classe média morador da Zona Sul, Barra da Tijuca, etc. Uma pessoa assim se começasse a faltar o trabalho e chegar atrasado, e seus colegas de trabalho e chefes descobrissem que o motivo era o vício em drogas, a esta altura já teria sido demitido. E seus parentes e vizinhos também descobrissem seu problema, já não seria mais visto com confiança dentro da sua comunidade. Se tivesse uma esposa, talvez ela o abandonasse. Aí o infeliz iria à boca de fumo com o pouco que lhe restou comprar seu vício; na saída é abordado pela polícia que lhe toma a droga e lhe dá umas tapas. Humilhado, desprezado por todos, sem emprego, sem dignidade, só lhe resta o vício que precisa manter. Vai tentar conseguir algum dinheiro, roubando, quem sabe uma bolsa, ou pulando o muro de uma residência qualquer. Só que não contava ser pego e levar uma surra por estar roubando. Se for a uma área dominada pela milícia ou pelo tráfico terá sua sentença decretada na hora: vai morrer para aprender a não roubar na área. Pronto, Fábio Assunção morreu...

E o que é pior, sem um tratamento digno dado pelo Estado, afinal se o vício em qualquer tipo de droga é uma doença, se saúde é um direito do Cidadão, por que não existem hospitais públicos exclusivos para tratar da dependência química, com profissionais qualificados e instalações decentes? Se isso existisse no Brasil, até mesmo o Fábio Assunção da vida real poderia beneficiar-se deste serviço público de qualidade sem precisar ir lá para os E.U.A.”

O texto acima rola na Web, provocando discussões entre os internautas.

Fábio Assunção é (ou era?) ator renomado e de primeira água na rede Globo. Meteu-se com drogas acreditando no “consumo recreativo”. Aquela coisa: “vou só experimentar pra ver como é!”. Esse começo é sempre com maconha.

Maconha dá dependência psicológica, pode provocar câncer de pulmão, surtos psicóticos, distúrbios cardíacos, infertilidade e impotência sexual. O uso contínuo prejudica a memória, a atenção e a capacidade de concentração. É o primeiro passo na escalada para drogas mais pesadas. Depois dela, vem a cheiradinha na cocaína. Em seguida a primeira picada. Depois mais outras... Deve ter sido assim com Fábio Assunção.

Não existem hospitais públicos para tratar da dependência química.

A Arquidiocese da Paraíba, desde 2006, mantém no município de Alhandra uma “Fazenda da Esperança”, onde cerca de 25 jovens tentam se recuperar do vício para reassumir seu papel na Sociedade. É resultado de um movimento que surgiu em 1983, em Guaratinguetá (SP), iniciado por dois frades: Freis Hans e Nelson Giovanelli. Atualmente existem mais de 30 comunidades desse tipo no Brasil e no exterior. Nelas 1.300 jovens tentam se libertar do vício, usando o trabalho como forma de sustentação.

Os poderes governamentais da Paraíba deveriam procurar Dom Aldo Pagotto e oferecer-lhe ajuda. Instituições como “Fazenda da Esperança” sempre funcionam a base de donativos. São elas que podem reduzir a dependência de drogas.

Todos que dependem de uma droga, perdem, nesta ordem: emprego, família, auto estima, cuidados com o próprio corpo e, por fim, a vida.

Fábio Assunção, mesmo rico, praticamente, já está sem emprego.

segunda-feira, novembro 17, 2008

DOCE RECORDAÇÃO


Kátia Dias

O Criador do Mundo estabeleceu o Domingo como o dia dedicado ao descanso e ao lazer. Portanto, um dia unânime para adultos e crianças. De fato, os adultos gostam desse dia para curtir a casa, almoçar com a família, tirar um cochilo à tarde ou espreguiçar numa cadeira à beira da piscina de casa ou do clube. Quanto às crianças, sem exceção, adoram passear, visitar parques, museus, shoppings, ir ao clube, ao cinema...

De um domingo desses, guardo o registro mais doce de minha infância. Aconteceu como de costume; papai levantou cedo, foi à padaria, trouxe o pão, o leite, queijo, bolachas e bolinhos. Já em casa, juntamente com mamãe, prepararam o café da manhã. Quando acordamos, a mesa já estava lindamente posta, cheia de atrativos infantis, pão doce, mingau, bolachinhas, tudo o que nós adorávamos estava lá. Sentamos todos. O burburinho, igual ao de sempre, envolvia conversas, risadas, batidas de talheres... Papai chamando a atenção para a bagunça que o caçula fazia. A maninha, como de costume, astuciosa, escondendo a colher que mamãe iria usar. Eu, na certa, com outras travessuras.

Foi assim que aquele domingo começou.

Após a farra do café, enquanto a maninha e eu cuidamos de arrumar nossas camas, o caçula correu a ver um pouco de televisão, e mamãe se encaminhou para os afazeres do dia. Mãe nunca tem folga, mesmo no dia dedicado pelo Criador ao descanso e ao lazer. Apesar de ser domingo, foi cuidar dos intermináveis trabalhos da casa, começando a preparação para o almoço. Papai, por sua vez, foi à feira, como era seu hábito dominical. Lá pelas onze voltou, trazendo nossas frutas prediletas e os legumes necessários ao crescimento saudável do trio.

Naquele dia estávamos particularmente terríveis, mamãe não sabia mais o que fazer para amenizar a algazarra. Era pega-pega pela casa, briga pelo programa a assistir na TV, até bate-bola na sala tentamos jogar. Mamãe ficou de cabelos em pé quando viu a bola quicando em torno de seus vasos e bibelôs. Nesse momento, papai teve uma idéia que revolucionou nosso domingo. Chegou à porta e convidou-nos solene: ao quintal, vamos brincar de vendinha. Com as caras de interrogação nos entreolhamos, os três, como a perguntar; por Deus o que será isso?

Papai, já adivinhando os nossos pensamentos, logo emendou, venham depressa, vou explicar, disse, ja caminhando na direção do quintal. Como três foguetes, saímos disparados, nos acotovelando para ver quem chegaria primeiro ao destino e descobriria o que era a tal vendinha.

No quintal, ao invés de explicações, papai iniciou uma distribuição de tarefas. Peguem dois baldes na lavanderia. Mal terminou a frase, partimos os três novamente em louca disparada. Após pequena confusão, voltamos com os baldes à mão. Enquanto isso, papai já havia separado uma tabua grande e larga e, após ajustar os baldes lado a lado com certa distância entre eles, apoiou a tabua, que virou um pequeno balcão. Logo após, deu nova ordem: tragam um caderno velho de brincar e uma régua. Lá vamos os três doidivanas, correndo casa adentro. Quando voltamos com a última missão, já encontramos papai arrumando, laranjas, bananas, maçãs, pêras e até limões, distribuindo-os cuidadosamente sobre o pequeno balcão. Após a organização, arrancou algumas folhas do caderno, e foi cortando-as em pequenos pedaços retangulares. Enquanto fazia isso, nos olhava de rabo de olho, com aquela cara marota de quem também está fazendo arte, ou nos desafiando a dizer, então o que sairá daqui? Nos papeizinhos, de modo aleatório, escreveu números que variavam de um a dez. Só quando terminou, é que começou a esperada explicação.

Ok crianças, vamos brincar de vendinha. Eu sou o proprietário da venda, vocês, os compradores. Aqui, sobre o balcão, estão as mercadorias, já estes pequenos pedaços de papel são o dinheiro. Vou distribuir o dinheiro a vocês e depois cada um vem aqui comprar as mercadorias comigo. Eu entrego para vocês e vocês pagam para mim, entendido? Em algazarra, gritamos que sim, e antes que ele pudesse ditar o próximo passo, começamos a gritar: eu primeiro, eu, eu, então ele falou: por ordem de idade. Logo pensei comigo: droga eu sempre fico por último.

Mas vamos à brincadeira.

Após a distribuição do dinheiro cada um se aproximava e fazia seu pedido. Fiquei radiante quando chegou a minha vez. Estava ansiosa para fazer a minha compra. Enquanto meus irmãos escolhiam suas mercadorias, eu até já tinha formulado minha frase.

Agora era chegada a hora de comprar.

Com enorme brilho nos olhos e um largo sorriso nos lábios olhei bem para papai e disse: MOÇO, QUERO UMA MAÇÃ.

Até hoje, não entendo por que essa frase causou tanto impacto em mim. Não entendo porque guardo essa doce recordação.

Passados tantos anos ainda brinca dentro de mim a criança que fui quando lembro desse dia. O sorriso flui fácil à sombra dessa lembrança. Não sei o porquê, mas chamar meu pai de MOÇO foi a glória para mim.

Aquele domingo mudou os nossos domingos. Por muito tempo depois, já nas sextas-feiras começávamos a pedir a papai: vamos brincar de vendinha! E eu quase não agüentava esperar o domingo chegar para chamar meu pai de MOÇO, novamente.

MOÇO, QUERO UMA MAÇÃ.

sábado, novembro 15, 2008

Norma Jean - Marilyn - Vilolência - Mudanças


Vamos mudar alguma coisa nas feições dessa coluna. Vamos substituir o meu frontispício horroroso e colocar o retrato da Marilyn Monroe. Por razões diversas: Primeiro porque na foto ela está mais com cara de Norma Jean Baker. Segundo porque ela é loira e o texto abaixo, de certa forma, fala sobre esses maravilhosos seres. De quebra, uma foto quando ela estava no auge da sua breve carreira. Norma Jean Baker teve o bom senso de passar para o andar de cima ainda jovem. Será lembrada tal como aparece nas fotos. Linda, leve e solta. O texto evidentemente não é meu, apenas o repasso. Pego também uma carona nos escritos de Elpídio Navarro quando ele fala sobre uma especialíssima panacéia para curar o mal da violência que reina neste mundo louco de hoje. Façam bom uso dos textos. Hugo Caldas


Foi-se o tempo em que o Dick Farney acompanhando-se afinadíssimo ao piano cantarolava perguntando, enlevado:

“Você já teve na vida um caso, uma loira?"... E continuava...

Uma loira é um frasco de perfume que evapora.
É o aroma de uma pétala de flor.
Espuma fervilhante de champanhe,
Numa taça muito branca de cristal,
É um sonho, um poema...

... e lá seguia ele a realçar apaixonadamente os dotes das loiraças. Eu mesmo tive também uma loira na minha vida. É tudo isso da canção acima e mais alguma coisa. Você jamais esquece.

Hoje, sinal dos tempos, é essa prosa de loira burra pra cá, pra lá, uma tremenda falta de respeito e consideração com quem tanto acalentou nossos sonhos. Não posso, todavia, me furtar a repassar para todos um texto sobre loiras, que me foi enviado e que considero a malvadeza ímpar do século XXI. Repasso no maior protesto. Apesar evidentemente do teor altamente educativo da pequena historieta. Leiam, e meditem.

...ESTAVA INDO TÃO BEM...

Um jovem ventríloquo estava fazendo um espetáculo num bar de uma cidade do interior. Exibia o seu repertório habitual sobre a burrice das loiras, quando uma loiraça sentada na quarta mesa se levantou e disse bravíssima:

- "Já ouvi o suficiente das suas piadas denegrindo as loiras, seu idiota. O que o faz pensar que pode estereotipar as mulheres dessa maneira? O que tem a ver os atributos físicos de uma pessoa com o seu valor como ser humano? São homens como você, seu estúpido, que impedem que mulheres como eu sejam respeitadas no trabalho e na comunidade. São homens como você, seu insuportável, que nos impede de alcançar o pleno potencial como pessoa. Por sua causa e por causa de pessoas da sua laia perpetua-se a discriminação não só contra as loiras, mas contra as mulheres em geral... e tudo em nome de um pretenso humor”! Confuso, o ventríloquo começou a pedir desculpa...

- Minha senhora... A loira o interrompe e diz, cega de ódio:

- O senhor, por favor, não se meta! "Estou falando com esse sujeitinho que está sentado no seu colo”! (pano rapidíssimo)

E la nave va...

Dia desses ao ler o site Eltheatro.com do amigo Elpídio Navarro, deparei com um assunto que me interessou, sobre violência, bandidagem, etc e o remédio para controlar essas ditas pragas. Falava ele, que... melhor deixar o homem deitar a sua falação:

... "O assunto me faz lembrar o zelador de um condomínio onde morei, que tinha uma proposta revolucionária para resolver o problema:” juntava-se todos os condenados por crimes violentos dentro de um navio de fundo falso e os conduzia para o alto-mar. Chegando lá, o fundo (do navio) era aberto e os bandidos cairiam na água. Aquele que conseguisse chegar vivo numa praia estaria perdoado.”

Idéia simplória, é claro! Mas era bem capaz de resolver." E.N.

... Quando aportei no final dos anos cinqüenta por estas terras Maurícias, existia uma lenda sobre famoso chefe de polícia que, diziam, recolhia os bandidos mais atuantes e levava a trupe completa em um rebocador do cais do porto, até o alto mar, em local normalmente infestado por tubarões. Daí então sorteava um para assistir ao espetáculo (o sortudo voltava e contava o ocorrido aos que ainda estavam em liberdade) e mandava jogar ao mar os outros. É claro que eu nunca comprovei a veracidade da lenda. Constato entretanto, após tantos anos, que se vivia em relativa paz. Esse chefe de polícia, já falecido, é famoso por seus feitos mirabolantes. Durante certo tempo seu esporte preferido era ir ao cais do porto prender a escritora Rachel de Queiroz, praticamente uma adolescente, quando esta passava indo ou vindo de Fortaleza, a bordo de um navio qualquer. Durante a ditadura de 64 ele foi o terror dos subversivos, pois tinha como hobby arrancar-lhe as unhas usando para tanto, um singelo alicate. Em vista desses últimos sucessos, a "descarga" de bandidos em alto mar servindo de jantar aos peixes, seria convenhamos, apenas uma inocente brincadeira de ciranda-cirandinha, concordam comigo?

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sexta-feira, novembro 14, 2008

Flexões e Reflexões


Cláudio Mattos


Minhas reflexões refletem na água do mar
e suas imagens saem planando no ar

Sem sentido, nem imaginação
muito menos lógica ou razão

...desfiz...

Tudo que estava em mim...

Nada fez minha vontade, conseguiu saciar minha sede
...nada foi tudo na minha reconstrução, na construção do EU...

As cores da aurora inundam a vida dos pobres,
eles sorriem. Pobre que tem um pouco de luz
já tem tudo...

As horas, o tempo, as limitações do nosso ser.
as barreiras que vencemos sem nem mesmo perceber
...

inundar, cair, não voltar ao início...

Seguir com os pobres...aqueles cheios de luz.
E sair iluminando a vida de outros pobres e voltando ao mar
e a nossa reflexão.

A flexão de nós mesmo em mudança
constante...imensa...contínua...

quinta-feira, novembro 13, 2008

DESABAFO - MULHER MODERNA


Em verdade vos digo: Esta semana coisas esquisitíssimas vêm acontecendo na perifería da minha caixa de correspondência. Este já é o segundo texto enviado sabe-se lá por quem, bem escrito, abordando assunto da mais alta relevância. Achei por bem publicá-lo aqui no recinto respeitoso deste humilde blog. Divirtam-se. H.C.


São 6h...

O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede... Estou tão cansada... não queria ter que trabalhar hoje... Queria ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até...

Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles. Se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas... Aquário? Olhando os peixinhos nadarem...

Se eu tivesse tempo... gostaria de fazer alongamento... Brigadeiro... Tudo menos sair da cama e ter que engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar.

Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a infeliz matriz das feministas que teve a estúpida idéia de reivindicar direitos de mulher... queria saber PORQUE ela fez isso conosco, que nascemos depois dela?... Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós... elas passavam o dia a bordar, trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando as crianças, frequentando saraus. Enfim, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.

Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã nem tão pouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconsequentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço"!

Que espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo aos seus pés!... Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, pra tudo! Que raio de direitos requerer?

Agora eles estão aí, são homens todos confusos, que não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo foge da cruz... Essa brincadeira de vocês acabou nos enchendo de deveres, isso sim. E nos lançando no calabouço da solteirice aguda.

Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard do vôlei.

PORQUE?..me digam PORQUE um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo?

Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não ia dar certo! Não aguento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, e que sapatos combinar, que acessórios usar... tão cansada de ter que disfarçar meu humor, que sair sempre correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas que nem são meus! E como se não bastasse, ser fiscalizada e cobrada (até por mim mesma) de estar sempre em forma, sem estrias, depilada, sorridente, cheirosa, com as unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especializações...

Ufffffffffffffffffff!

Viramos super mulheres e continuamos a ganhar menos do que eles...
Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?

CHEGAAAAAAA!... eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela... ai, meu Deus, já são 7:30, tenho que levantar!... e tem mais, quero alguém que chegue do trabalho, sente no meu sofá, coloque os pés pra cima e diga meu bem, me traz um cafezinho, por favor?

Descobri que nasci para servir. Vocês acham que eu estou ironizando?
Tô falando sério. Estou abdicando do meu posto de mulher moderna.
Troco pelo de Amélia. Alguém se habilita?

Autora: uma Executiva muito ( mas, muito mesmo ) P... da Vida!

quarta-feira, novembro 12, 2008

A Rede Globo e a casa de damas da noite



José Virgulino de Alencar

A Rede Globo de televisão se outorgou o diploma de mandatária do Brasil, dando ordens na política, na economia, na formação do povo brasileiro, na moral, na ética, enfim, quer ser a donatária do País, como se a nação brasileira ainda fosse uma capitania/colônia subordinada a um império.

Ao mesmo tempo em que seus telejornais bradam contra crimes e combatem as organizações criminosas que abastecem o país de drogas, perpetram seqüestros e assassinam jovens; alardeiam hipocritamente as ocorrências e conseqüências dos acidentes de trânsito; fazem “humanitárias” campanhas dizendo-se levar esperança às crianças; repito, ao tempo em que mostram esse lado soi disant informativo e formador de opinião, a mesma Rede, em sua programação de novelas, seriados, reality shows, como em talk-shows e nos programas de auditórios, exibe, com a maior sem-cerimônia, o sexo prematuro, promíscuo, anômalo, fetichista, sadista, masoquista, safista, onanista, tudo isso em qualquer horário.

Virou moda e é comportamento recorrente o fato de toda novela ter homens com várias mulheres, mulheres com vários homens, filhos sem pai e filhas sem mãe, como já se tornou figura carimbada o personagem homossexual, masculino, feminino, transexual, ativo ou passivo.

Esclareça-se que os personagens da sexualidade não convencional não estão ali para se discutir educativamente o fenômeno, que é sério, mas para arrastar IBOPE, aproveitando-se do congênito voyeurismo do ser humano, que nessa hora fica cego para uma realidade que pode entrar no seu lar e causar conseqüências nada agradáveis.

Agora mesmo, a globo está promovendo o concurso “Garota Fantástica”, iludindo jovens meninas imberbes à procura do sucesso e do estrelismo, não sendo leviandade afirmar que muitas delas, para alcançar esse pódio de garota do show da vida, passarão pela cama dos caçadores de talento, produtores, patrocinadores e agentes/empresários.

E depois que se tornam realmente estrelas, popstars, se dão ao luxo de mostrar, diante das câmaras de TV e principalmente em revistas como Caras, sua vida livre, exibindo como troféus seus namorados, um diferente a cada ano.

E vão rápido para as páginas da Playboy, em ensaios impróprios para menores, mas abertos facilmente a crianças em formação. E a justificativa, ridícula, de que as fotos são de bom gosto, o nu é “artístico”, como se tivesse arte em mostrar uma foto com a mulher de pernas abertas, passando um barbeador nos pelos pubianos.

Toda essa circunstância de libertinagem tem início nos programinhas de fim de tarde da Rede Globo, como Malhação, que expõe cenas com adolescentes fazendo sexo livre, faltando pouquíssimo para ser rasgadamente explícito.

Liberdade é uma coisa a se defender e preservar a qualquer custo. Libertinagem é outro departamento, para cujos abusos existem leis classificando e regulamentando, prevendo penas para quem ultrapassar os limites legais.

Infelizmente, o problema do Brasil é que, quem tem a consciência do controle social não tem poderes, e quem tem poderes não tem consciência para exercer o controle.

E o Brasil está superando até o Cabaret de Hosana, tradicional casa de damas da noite de João Pessoa, aqui na Paraíba, onde havia discrição e respeito, porque o que lá acontecia não chegava jamais às crianças.

sábado, novembro 08, 2008

PARABÉNS, SENHOR PRESIDENTE!

God Bless America?!


Hugo Caldas

Obama ganhou a eleição. E alguém esperava o contrário? O episódio mexeu tanto com o mundo todo que parece ter ele sido eleito presidente do planeta.O mundo inteiro parecia alvoroçado, desde Chicago, passando por Washington, La Paz, Caracas, Havana, Brasília, Europa, França e Bahia, até chegar em Cajazeiras, a pisada era sempre a mesma. Já ganhou! Passada a emoção da ressaca eleitoral convém voltarmos à realidade. O que o Obama vai fazer agora? Melhor dizendo, será que ele realmente poderá fazer alguma coisa? O Presidente Obama já se reuniu com a sua equipe econômica, em Chicago, onde deverá conceder a sua primeira coletiva à imprensa. Vamos ver o que ele tem a dizer. Existe sempre a esperança de que um dia a herança maldita do desarrazoado do Bush desapareça.

Pois é, tem muita gente por aí fazendo mil conjecturas, queimando a mufa em exercícios de futurismo a propósito da eleição "de um negro para a presidência dos EUA". Por aqui em Pindorama, é sempre necessário, imprescindível e diria até mesmo, revigorante, prestar a devida atenção às filosofices perpetradas por certa espécie de gente e muito notadamente o "nosso guia", useiro e vezeiro em agradar, com a sua conhecida arenga, a patuléia que o elegeu. Dia seguinte à apuração, já estava ele ajuntando os dedos indicadores apontados para o chão para sentenciar num berro:

"O mundo está mudado. Temos um metalúrgico na presidência do Brasil, um índio na presidência da Bolívia e agora um negro na presidência dos Estados Unidos. Isto é fantástico”.

Parai coveiros apressados! Devagar com o andor.

O "negro" em questão não é nenhum metalúrgico ignorante e nem muito menos um índio cocaleiro. Não convém querer colocar todos no mesmo saco. O negro em questão é graduado em direito pela Universidade de Harvard, uma das instituições educacionais mais prestigiadas do mundo, bem como a instituição de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos. Sua fundação data de 1636. Observação: inexiste lá na terra do Tio Sam, a cretinice terceiro-mundista do Sistema de Cotas para estudantes afro-descendentes. Paga-se e muito para se ter o privilégio de estudar em Harvard. E acima de tudo Mr Barack Hussein Obama II é "Americano" com todo o peso e todos os agravantes que essa circunstância possa significar. Estarão vocês por acaso pensando que no dia seguinte à posse ele vai ordenar o retorno das tropas no Iraque? É pagar pra ver! É bom lembrar que Obama foi eleito presidente dos EUA e não do resto do mundo. Terá obviamente que pensar primeiro no seu país e no seu povo. Esse, o seu compromisso maior.

Foi uma bela celebração da democracia no maior país do mundo. Obama teve o apoio maçiço e descarado de toda a imprensa. Muito bem apoiado em uma peça fundamental "Yes, We Can" (Sim, Nós Podemos), um belo mote inspirado provavelmente no título do livro biográfico, "Yes, I Can", (Sim, Eu Posso) escrito por Sammy Davis Jr. outro negro formidável, grande cantor, já falecido. No final, uma linda festa que reuniu, e aí sua maior beleza, a grande maioria de todos os americanos e não apenas os brancos "WASP", (brancos-anglo-saxões- protestantes).

A posse, (Inauguration Day) será no dia 20 de janeiro.

Ainda temo bastante uma ação louca do "triplo K". Vocês sabem o que tem de maluco naquele país. Lembram nos últimos anos dos massacres em escolas? Lembram do Bob Kennedy defenestrado ainda nas primárias? E o pastor Martin Luther King?

Que tudo tenha o melhor "Happy-Ending" como nos filmes da Hollywood de antigamente. É o que realmente desejo ao novel Presidente. Temo bastante, repito, pois no frigir dos ovos, o Negão Obama é uma simpatia.

hugocaldas@gmail.com
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quarta-feira, novembro 05, 2008

A propósito da Casa da Mãe Joana...


Carlos Mello

Após mais de 40 anos de Rio, posso dizer que a decadência do cinema de Carvana, e de tudo o mais, corresponde à derrocada da própria cidade, currada por uma sucessão perversa de desgovernos estaduais e municipais. Implantou-se, desde o primeiro governo Brizola, a política do “nivelamento por baixo” – cujo símbolo é a passagem da favela, com todos os seus horrores, de problema a solução. Tudo que havia sido conquistado ao tempo da capital federal – a urbanidade, a alegria, o humor (às vezes cáustico, mas sempre folgazão), o espírito de solidariedade, o apreço pela cidade e por seu equipamento urbano, a hospitalidade e a facilidade de entrosamento – tudo foi sendo esquecido, relegado, desprezado como frescura. Duvido que exista alguma cidade no mundo capaz de resistir à sanha de gente como Moreira Franco, Garotinho, Rosinha, Benedita, César Maia...

O carioca que não entrou na onda da terra arrasada, foi abdicando de tudo, desde percorrer à noite os bares de calçada da Atlântica e ir à praia ou ao Maracanã, até participar do Carnaval de rua, no centro e nos subúrbios, ou tomar um chope descontraído, sem medo de ser desapropriado de seus bens e estripado. Tudo isso foi transformado em sujeira, violência, estupidez e baixaria. Eu e muitos outros que chegamos à idade provecta, tivemos de mudar de cidade, em busca daquele mínimo de conforto e qualidade de vida sem os quais a velhice é tenebrosa. Filho adotivo do Rio, amei apaixonadamente minha cidade de adoção, com o mesmo amor que senti pelo Recife do meu tempo, igualmente desaparecido. Levarei para o outro mundo a tristeza de haver testemunhado esses festivais de vandalismo, capazes de horrorizar o próprio Átila.