quarta-feira, novembro 05, 2008

A propósito da Casa da Mãe Joana...


Carlos Mello

Após mais de 40 anos de Rio, posso dizer que a decadência do cinema de Carvana, e de tudo o mais, corresponde à derrocada da própria cidade, currada por uma sucessão perversa de desgovernos estaduais e municipais. Implantou-se, desde o primeiro governo Brizola, a política do “nivelamento por baixo” – cujo símbolo é a passagem da favela, com todos os seus horrores, de problema a solução. Tudo que havia sido conquistado ao tempo da capital federal – a urbanidade, a alegria, o humor (às vezes cáustico, mas sempre folgazão), o espírito de solidariedade, o apreço pela cidade e por seu equipamento urbano, a hospitalidade e a facilidade de entrosamento – tudo foi sendo esquecido, relegado, desprezado como frescura. Duvido que exista alguma cidade no mundo capaz de resistir à sanha de gente como Moreira Franco, Garotinho, Rosinha, Benedita, César Maia...

O carioca que não entrou na onda da terra arrasada, foi abdicando de tudo, desde percorrer à noite os bares de calçada da Atlântica e ir à praia ou ao Maracanã, até participar do Carnaval de rua, no centro e nos subúrbios, ou tomar um chope descontraído, sem medo de ser desapropriado de seus bens e estripado. Tudo isso foi transformado em sujeira, violência, estupidez e baixaria. Eu e muitos outros que chegamos à idade provecta, tivemos de mudar de cidade, em busca daquele mínimo de conforto e qualidade de vida sem os quais a velhice é tenebrosa. Filho adotivo do Rio, amei apaixonadamente minha cidade de adoção, com o mesmo amor que senti pelo Recife do meu tempo, igualmente desaparecido. Levarei para o outro mundo a tristeza de haver testemunhado esses festivais de vandalismo, capazes de horrorizar o próprio Átila.

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