segunda-feira, dezembro 15, 2008

PACTO COM O DIABO - I

VALDEZ JUVAL

Lendo uma crônica de Luis Fernando Veríssimo - um dos meus autores preferidos - lembrei-me que também já havia passado pela situação de vender a alma ao diabo.

Veríssimo conta que por causa dele, o Internacional, time de futebol gaucho,conquistara o Campeonato Mundial Interclubes, no Japão, em 2006.

Tudo havia acontecido em consequência de um e-mail com a oferta do diabo pela sua alma em troca de qualquer coisa, podendo fazer dois pedidos.

A primeira que lhe veio a mente, de imediato e com o acordo do demo foi a conquista do Internacional. E aconteceu.

A segunda, não querendo ser tão egoista, pensou no Brasil todo, inclusive os Gremistas (maior adversário de seu clube).

Depois de muita conversa com o interlocutor do acordo ficou decidido que a nossa pátria seria transformada em um pais escandinavo. "Bastava desta indecência social disfarçada de bonomia, desta irresolução criminosa que passa por afabilidade, deste eterno adiamento de tudo."

Quando o diabo lhe perguntou se tinha certeza e se era para já, ele hesitou um pouco e respondeu: -"Bem, depois do carnaval."

E agora? Como terá sido a negociação por mais um título? Será que houve troca da intenção do segundo pedido para favorecer novamente o time na conquista da Copa Sulamericana?

LÓGICO QUE TUDO NÃO PASSOU DE UMA INSPIRAÇÃO POÉTICA!

PACTO COM O DIABO - II

De nossa parte tudo aconteceu em uma representação teatral onde interpretei o papel título de Fausto.

A produtora e diretora do espetáculo, D.Lindalva Cruz (esposa do General Ivanoe Neto - casal distinto e amigo), fizera uma adaptação do poema de Goethe.

Lá estivemos nós, no dancing do Clube Astrea da Paraiba, como se Teatro de Arena fosse e com mais alguns personagens, tivemos a vivência com Mefistófeles, demônio que atendeu ao apelo de Fausto.

Dr. Fausto vivia a lamentar-se. Devorara quase todos os livros possíveis, de medicina, de leis, de teologia. Seduziu-se inclusive pela magia para ver se ela lhe alcançava o império. Certa feita, sentado no campo, à beira do caminho, avistou ao longe um enorme cão preto que, posteriormente resolveu levá-lo para casa. O bicho, tudo focinhou e para tudo rosnou, uivou ou ganiu.

Em sua poltrona e sem entender como, estava lendo a frase do Evangelho, segundo S. João, "No princípio era o verbo!" cujo entendimento para Fausto, tudo começa com a ação e ao exclamar isto, em voz alta teve a atenção voltada para o cão. Em segundos ele se transformou. Era espantoso.

Aparece Mefistófeles, o demônio moderno, detrás do nevoeiro que, num repente, inundou o quarto. O próprio Satanás! Apresentou-se vestido como um goliardo, um andarilho medieval. Viera para tramar um pacto de sangue com aquele doutor desesperançado.

O seu demônio não tem o visual que dele faziam no Medievo. Nada de cheiro de enxofre, chifres, rabo ou cascos de bode. É um diabo da época do Iluminismo, um capeta secularizado. Aparenta ser igual aos humanos, ainda que imperando sobre ratos e insetos asquerosos. Trafega na sociedade com o desembaraço de um estudante ou de um fidalgo.

E Fausto desejou "as estrelas mais belas e os mais altos prazeres da Terra".

Pois a sua vontade foi feita! Desde aquela soturna visita, Mefistófeles fez dele o símbolo do homem moderno: industrioso, apaixonado pela técnica, voando sobre os montes e as paisagens, um amalucado sem maiores pruridos pelos estragos que faz.

Concluimos esta crônica com o que foi escrito no INDICE DE CULTURA E PENSAMENTO:

"Hoje, quando olhamos ao derredor, vemos que as perplexidades que atormentaram o criador daquele mitológico personagem da modernidade - a mesma mistura de susto e fascínio que ele revelou perante a emergência assombrosa da ciência e da técnica - são as mesmas nossas.

Valdez Juval da Silva é Promotor de Justiça da Paraíba (aposentado) e um dos fundadores do Teatro do Estudante da Paraíba = valdezjuval@oi.com.br

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