domingo, janeiro 04, 2009

VERDE QUE TE QUERO VER


MARCUS ARANHA

“Verde que te quero verde. Verde vento. Verdes ramas. O barco no mar e o cavalo na montanha”. São versos do poema “Romance Sonâmbulo”, de Federico Garcia Lorca. Com relação à nossa cidade, todos cidadãos deviam ter o mesmo querer do verso de Lorca. Aos 423 anos da fundação, ainda somos a cidade mais verde das Américas, a segunda do planeta.

Luís de Oliveira Lima, a quem Luiz Augusto Crispim chamou de “Prefeito das acácias, alcaide dos bougainvilles, governador dos ipês e das florações em geral”, foi nosso prefeito e plantou mais de cinco mil acácias nesta urbe de N. S. das Neves. Para a cidade de João Pessoa de 57 anos atrás, era acácia demais. Foi em 1951, depois que José Américo mandou fazer o calçamento da Av. Epitácio Pessoa.

Acredito que, Reginaldo Marinho, respirando literatura, arte, ciência e tecnologia, valeu-se da erudição que possui e foi buscar no poema de Lorca inspiração para o título do livro que acaba de lançar. O “Verde que te quero ver”, Retratos de João Pessoa” de Reginaldo, é um belíssimo álbum com mais de cem fotografias da cidade.

Marinho diz: “lançar essa edição de Verde que te quero ver foi um grande desafio para mim e será motivo de orgulho para cada paraibano, pois tive o cuidado de retratar os emblemas do Sertão e do Cariri que se revelam nos jardins de João Pessoa nas flores do mandacaru e da palma. Foi uma odisséia de grandes dimensões, mesmo que esse trabalho tenha sido recusado pelos governos do Estado e do Município”.

Não é a primeira vez que deixam de fazer justiça a Reginaldo, um paraibano que possui uma mente brilhante e que inventou o “construcel”, uma estrutura de plástico em forma de prisma, para construção de galpões, academias, silos, ginásios ou abrigos. Substitui o concreto, o metal ou a madeira. Andou pelos ministérios, órgãos públicos, empresas e redações dos jornais brasileiros, tentando mostrar as pessoas que tinha inventado algo muito importante. Ninguém acreditou nele.

Depois, em maio de 2000, Reginaldo ganhou a Medalha de Ouro do Salão de Invenções da Europa, em Genebra. Ele concorreu com mais de 600 inventores vindos de 44 países. Recebeu outra medalha de ouro em exposição semelhante na Inglaterra.

Hoje, a obra fotográfica dele é coisa para colecionadores, magníficas fotos captadas por lentes manuseadas magistralmente. É a cidade vista sob uma nova forma de ver.

Na apresentação do livro, conta Reginaldo que na década de 60, José Américo de Almeida foi ver a cidade do alto do prédio da antiga Reitoria da UFPB. Olhou Cabedelo, Tambaú, o Cabo Branco, a Mata do Buraquinho e as casas que se perdiam no meio dos quintais arborizados e disse: “João Pessoa é mais vegetal que urbana”, prenunciando assim o destino da cidade construída para ser verde.

Acreditando nisso, Reginaldo fotografou acidentes geográficos, monumentos, detalhes de construções seculares, velhos trapiches, florações e vistas panorâmicas da cidade, mostrando notadamente o verde dela.

Um trabalho magnífico cujo lançamento foi no “Zarinha Centro de Cultura”, Av. Nego, 140 – Tambaú - Tel. 4009-1130, onde o livro pode ser adquirido.

No momento em que a devastação e a depredação vêm aumentando, o “Verde te quero ver” de Marinho, além de obra de arte, pode ser considerado também um importante alerta para os órgãos de preservação histórica. Um brado artístico para as autoridades de Meio Ambiente de João Pessoa, para os formadores de opinião, para as associações defensoras de preservação e para o cidadão comum. Que deveriam estar todos mãos dadas em defesa do “verde te quero ver”.

Para que a alma de Luís de Oliveira Lima, como bem disse o cronista Crispim, “fique pairando por sobre esta cidade verde pelos séculos sem fim”.

Reginaldo Marinho, o único brasileiro com duas medalhas de ouro ganhas em Exposições Internacionais de Tecnologia e Ciência, no exterior.


Publlicado no CORREIODA PARAÍBA de 4 de janejro de 2009

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