sexta-feira, fevereiro 13, 2009

NINGUÉM RESPEITA ESSA JOÇA!


Riobaldo Tatarana


"On respecte un homme qui se respecte lui-même", dizia o velho e sábio Balzac. Com toda razão, aliás. Como posso respeitar alguém que não se dá ao respeito? Isso não vale apenas para os ilustres parlamentares brasileiros em nível federal, estadual e municipal. É norma que se aplica a todo mundo, aos cidadãos como aos governos, entidades e países. Ora, se há décadas habituamos o mundo inteiro a nos ver como desonestos, malandros e proxenetas; se todas as revistas, jornais e noticiários de tv do exterior só falam de nós para mostrar as bundas de nossas patrícias e achincalhar e rir de nosso ridículo – quem não se lembra do Collor com aquela mulher bizarra dando gafes seguidas (por exemplo, numa cerimônia com os reis de Espanha, ela vestia um modelito de fazer corar JoãozinhoTrinta, com as mesmas cores do uniforme da guarda real espanhola!), da genitália desnuda daquela amiguinha do Itamar, da pose “ah se a mamãe me visse agora” do FHC quando filmado junto a algum grandalhão do primeiro mundo, dos escândalos do mensalão, do mensalinho, disso e daquilo, tudo varrido pra baixo do tapete?

Levas e levas de “turistas sexuais” buscam o Brasil para extravasar suas taras em crianças nordestinas. Quando se trata de algum figurão - como aquele pedófilo, cônsul de Israel no Rio de Janeiro, ou algum escroque estrangeiro que estourou a praça - sai do país na maior cara de pau, acobertado por um habeas-corpus. Nossos presidentes aguardam horas para ter a honra de posar junto a “celebridades” do tipo Madona. Nossos craques atuais só jogam bem em seus times europeus, onde ganham zilhões. Mas em partidas decisivas da Copa do Mundo, fingem descaradamente estar distraídos durante as jogadas perigosas. Isso sem falar de deputados que escondem dólares na cueca, de “bispas” que malocam a grana na Bíblia (e sabe Deus mais onde), de igrejas que desabam, de gente que furta gêneros remetidos para os flagelados de cheias e secas, de altos funcionários que passam por pobretões para receber bolsa disso e daquilo, de furtos programados e executados de dentro dos presídios de segurança máxima. Um comprovado assassino esconde-se no Brasil e logo o ministro da Justiça (!) concede-lhe status de asilado. Como podemos então pretender ser respeitados lá fora?

Claro, em todo lugar tem safados e bandidos. Mas aqui a esculhambação é generalizada, parece que perdemos definitivamente a vergonha (se é que já a tivemos alguma vez, como país). Um dia desses, vendo um enlatado qualquer na televisão, dou de cara com a seguinte cena: um casal de bandidos aplica um golpe violento e a moça, amedrontada, pergunta para onde poderiam fugir. “Para o Brasil, claro!” responde seu comparsa, com a maior naturalidade. Só faltou acrescentar: “Como o Ronald Biggs!” O mundo todo reage a nós como quem lida com trombadinhas e vigaristas. Um brasileiro é assassinado a sangue frio pela polícia de Londres e o caso fica por isso mesmo. Quem mandou ser pobre e mulato? Uma brasileira é seviciada por uns canalhas suíços e logo os jornais locais começam a pôr em dúvida sua versão, opinam que ela auto-mutilou-se para armar alguma. Dos suíços, sabemos que fabricam relógios e canivetes, e que arrotam ser muito civilizados. Estamos vendo! Bem dizia o acima citado Balzac que “por pouco que se raspe um suíço, surge logo o usurário”. Está no romance Albert Savarus. Até um dia desses, a Suíça era o paraíso fiscal preferido de tudo quanto era ditador e ladrão. Agora querem nos vir “de borzeguins ao leito”!

Todo dia recebemos notícias de compatriotas nossos chutados e escarrados em aeroportos espanhóis e portugueses – logo esses países, que há algumas décadas eram mendigos, escorraçados na Europa, e a quem nós recebíamos com todo carinho e hospitalidade. Mas como quem nunca comeu mel, quando come se lambuza, bastou que a União Européia arrumasse aquela zorra ibérica e já os manuéis e juaquins, os manolos e paquitos, dão-se ares de gente fina, expulsam seus antigos anfitriões. Mas o problema não é deles, nunca foi. É nosso somente! Vou dar alguns exemplos, aqui mesmo na América Latrina. No Peru e na Argentina, por exemplo, as pessoas têm um elevado senso de dignidade. Com todos os problemas que enfrentam, iguais aos nossos – políticos safados, banqueiros escroques, violência e injustiça social – amam sua pátria, orgulham-se dela. Vá você fazer uma gracinha lá! E os cubanos, naquele perrengue, sem grana, com uma ditadura podre de velha, que brio, que altivez! E ainda vêm uns engraçadinhos e querem que estejamos entre os países mais promissores do mundo, ao lado da China e da Índia! Isso é que é mania de grandeza! Chineses e indianos dominam altas tecnologias, possuem arsenais atômicos e foguetes intercontinentais e até os Estados Unidos se agacham quando eles rugem. E nós? Será que não poderíamos parar um pouco de assistir ao BBB, de deixar de lado a revista Caras e suas fofocas, de acordarmos da hipnose da TV Globo e de suas novelas repetitivas e previsíveis, e cuidarmos de arrumar a casa? Não precisam responder. Eu já sei a resposta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu Hugo! É isso mesmo. O Brasil é um paradoxo. É um país insigne pelas belezas naturais mas, manchado por uns tantos habitantes canalhas...

Hebert

Anônimo disse...

Herbert, meu caro

Obrigado pela parte que me toca mas, o texto é de autoria do meu querido amigo, Riobaldo Tatarana.
Continue a nos prestigiar. Meu abraço. Hugo