quinta-feira, setembro 10, 2009

Judite

MARCUS ARANHA

Mas essa quietude é temporária e passageira

Quarta feira passada ganhei mais uma neta: Judite. Agora são cinco os meus netos, pérolas de minha descendência, alegrias de minha velhice, diabinhos que eu adoro e que gosto que transformem em chiqueiro a minha casa.

Judite só deveria chegar no fim de setembro, mas, antecipou-se e resolveu vir ao mundo antes do tempo. Ela chegou no começo da semana da Pátria e, penso eu, isso deve ter uma significação especial. Em nossa Pátria, mãe gentil esculhambada, o mar não está pra peixe e Judite chega numa hora diferente, extraordinária, cheia de dificuldades.

Pelo que a mãe de Judite me contou, tenho a impressão que ela já tem conhecimento de muita coisa. Desde o começo da gravidez Judite demonstrou ser irrequieta e espevitada. Mexia-se a vontade. Agora, perto do fim da gestação essa coisa piorou: ora Judite estava sentada na barriga da mãe, ora punha-se de cabeça para baixo. Peripécias e piruetas de dar inveja aos acrobatas do Circo Du Soleil.

Não sei por que, uma coisa me diz que Judite andou tomando ciência de certos fatos, evidentemente com relação ao mundo que lhe esperava. Fico pensando a mãe dela sentada frente televisão vendo o Jornal Nacional, escutando Fátima e Bonner narrando a situação dos políticos deste país.

Diz a mãe dela que Judite dava cotoveladas, chutes e joelhadas. Por isso eu acho que Judite, também escutando tais notícias e tomando conhecimento da lama que cobre o nosso parlamento, revoltou-se com a situação destrambelhada do Senado e resolveu nascer para ver essa coisa de perto.

Incrédula diante de tanta bandalheira, Judite achou que precisava vir ao mundo, bancando o S. Tomé, pagando para ver como era a situação do país aonde iria morar.

E aí, lá vem Judite prematuramente, dando sinais que queria sair da barriga da mãe logo pela madrugada. Mesmo com a previsão de aguardar dentro da mãe mais um mês, os médicos não tiveram como recuar aos brados de Judite, pedindo para sair. Atenderam-na e, no começo da manhã, ela já estava quietinha no berçário.

Mas essa quietude é temporária e passageira. Minha neta vai crescer e saber mais das coisas...

Será advogada ou artística plástica? Médica ou farmacêutica? Bióloga ou pianista? Seja o que for, eu sonho que Judite cresça combativa e espevitada como nasceu; e que contribua de alguma forma para melhorar essa nossa Pátria amada e desmantelada.

Que Judite seja sonhadora e lutadora. Que sonhe com utopias, mas sempre acreditando que é possível torná-las realidade. E que lute, lute, lute muito para concretizar seus sonhos.

Ativa como demonstrou ser ainda na barriga da mãe, que ela constitua uma liderança, seja em que categoria profissional for, mas sempre defendendo princípios democráticos e tentando minorar o sofrimento dos pobres e miseráveis deste País.

Não que, a exemplo da Judite bíblica, ela chegue a degolar um Holofernes presidente do Senado, mostrando a cabeça dele ao povo e sendo aclamada em verdadeiro delírio popular, por livrar-nos de um ladrão salafrário, com a redenção política de uma nação tão grande e bela como é a terra em que veio ao mundo.

Mas, quem sabe, herdeira dos pendores e conhecimentos jurídicos do pai dela, advogado e procurador, seja também advogada e torne-se a Ministra Judite Melo, que um dia tome assento no Supremo Tribunal Federal para votar contra os Palocci da vida, fazendo justiça aos pobres Francenildos do povo.

Um comentário:

Hugo disse...

Marcus
A Judite é essa menina lindona que os homens lá de cima lhe mandaram. Parabéns. A propósito, hoje recebi e-mail de um amigo nos seguintes termos:

"Que Judite possa substituir dona Anete que nos deixou enquanto ela nascia. vida longa para a ministra Ju".

Hugo