terça-feira, outubro 13, 2009

Cartas da Alemanha

Há tempos havia perdido o contato com a Fábia. Eis que, como num passe de mágica, ela me reaparece. Foi minha secretária especial em uma escola já perdida no tempo. Era uma garotinha quando troquei o Miramar pelo Recife. Após várias aventuras e peripécias "tanta coisa vivida, tanta coisa aprendida," dois currículos, "um sobre a carreira artística e outro sobre os empregos e outras atividades que são muito variadas e em diversas áreas." Atualmente na Europa, mais precisamente na "Schwarzwald" (Floresta Negra) levando uma "vida meio cigana, sem carroça, realizando mil projetos artísticos". Já expôs em lugares como João Pessoa, Recife, Rio de Janeiro, Espanha, Suíça, "Oropa, França e Bahia". Estou me alongando mas é só para dizer da minha felicidade em reencontrá-la. A partir desta data teremos a nossa correspondente na Alemanha. Bem-vinda minha querida. H.C.

Hugo

Juventude sem idade! Sim, estou bem, graças ao bom Deus e até quando ele queira... Sabe como é a vida.... Viver enquanto se pode. Nem sempre como se quer, mas a criatividade ajuda a dar um jeito. Você deve saber muito bem, afinal sua trajetória mostra algo parecido com o qual me identifico.

Pois bem. Aqui te envio algumas palavrinhas sobre ontem e com inspiração nos acontecimentos de hoje:

Ainda faltam dois anos para que eu complete meio século. Não parece pouco. Mas também não é muito. Nesses 48 anos de vida eu passei por tantos lugares. Vida de artista e algumas vezes também de cigana.

Talvez tenham sido as tantas perdas de entes queridos que deixaram um enorme vazio, que me fizeram definitivamente seguir e buscar em outras partes deste mundo o que existe em toda parte: o encontro comigo mesma, mas que normalmente a gente acha que encontra em outro lugar longe de onde se está. Pelos caminhos da cultura e da arte, como busca de autoconhecimento e de expressão, segui meu caminho cruzando o Atlântico.

Mas guardei imagens tão idílicas e românticas, coisas de um passado que não volta mais. Entre elas, imagens de um Miramar pacato, sem assalto, sem roubo de casas. Um Miramar onde a gente podia mirar o mar. Um Miramar com ruas ainda tranqüilas, casas de muros baixos e janelas abertas durante noite e dia. Um bairro cheio de seus personagens que passaram pelo palco da vida quase sem deixar vestígios, completamente desconhecidos, mas não foram por mim esquecidos. Pensando nisso, meu caro Hugo, aqui vai um convite a lembrar dos tempos daquele Miramar que tanto mudou. E um convite a compartilhar das minhas aventuras "pelas bandas de cá", num mundo tão distante que nem por isso deixa de ser nosso mundo: A Floresta Negra.

Sobre o Miramar devo ainda dizer que tudo mudou tanto que me vi obrigada a fechar minhas janelas, encher o muro com trepadeira de espinhos e evitar sair de casa em horários quando não há movimento na rua. Perdi a liberdade e ganhei um medo que não tinha. Aqui onde me encontro, descobri um cantinho onde me lembro da tranqüilidade de minha infância. Claro, os personagens são outros, mas as janelas podem ficar abertas noite e dia e as portas também. Aqui eu ouço o vento, a chuva, as vacas e os cavalos no campo. Alguns pássaros já partiram porque o frio agora está chegando. É outono.

E foi hoje pela manhã, quando eu ía para uma consulta com o dentista que encontrei um bilhete na caixa do correio, dizendo: Meu nome é Cristina B. Desculpe-me, eu bati no seu carro enquanto saía da garagem. "Meu endereço e telefone estão aqui anotados. Por favor, me procure no decorrer do dia neste nr. de telefone."

Pasmei! Parei.

O ser humano é humano em todo o globo! Mas por que não honesto assim também?

Beijos, Fábia

9 comentários:

Jorge disse...

Hugão, eu, como mero leitor, emocionei-me ao ler o que a Fábia lhe disse na sua mensagem. Imagino você!

djaniras@globo.com disse...

Hugo,mesmo sendo lugar comum, digo-lhe que as as amizades são como árvores. Ficam raízes na alma da gente. Que carta bem escrita e com que lucidez ela nos fala da amargura dos nossos dias. É isto aí, vivemos prisioneiros, acossados por nossos semelhantes. Djanira

Unknown disse...

Hugo, prazer em conhece-lo e mais ainda pelo que escreveu a respeito da minha querida amiga Fabia. Sou um admirador da arte e da mente dela há anos, assim como era admirador tambem do Miramar e lamento saber dessa decadencia tão sintomática dos nossos dias em que se é mais livre estando preso do que preso na própria casa.

Como é bom ver que o mundo afinal não é tão grande e que até as pedras tanto rolam que se encontram. E quando são pedras preciosas, o encontro é sempre emocionante.

Grato pela oportunidade de falar da minha alegria e admiração.

Boris Artemenko
São Paulo

Hugo Caldas disse...

Boris
O prazer é todo meu. Também não é nenhuma novidade falar da Fábia. Espero que o noovo amigo possa re-enviar o link do Blog para outras pessoas possam conhecer e comentar.
Hugo

Fábia disse...

Obrigado Bruxinho Boris! E obrigado à você Hugo pela enorme receptividade e pelo carinho!
Beijos e abraços para vs dois!
Fabia

Unknown disse...

Hugo,gostaria de registrar,no seu blog,a profunda emoção que sentí quando lí o que Fábia havia escrito.Muita saudade.Muita ternura.Esta andarilha(minha amiga)mora metade do ano no Miramar e eu moro o ano inteiro.Abraços.Maria do Socorro

Anônimo disse...

Hugo foi com emoção e com alegria que por intermedio da desta linda e talentosa menina que reecontro voce, seus pais e os meus foram amigos e compadres .Mudamos pro Rj e la amizade com sua mãe continuou onde fui vizinha de Mamfredo. Não perderemos mais contacto.Hoje moro em Moeda Mg.ainda podemos desfrutar de calma e janelas e portas abertas.Abraços Celida inês.

Hugo Caldas disse...

Olá, Célida. Creio se tratar de João Luís seu pai, não?
Que bom encontrá-la, no entanto não poderemos nos corresponder visto o Blog não guardar o seu e-mail. Tentei o Manfredo mas ele também não sabe. Se porventura voltar a ler o texto da Fábia remeta por favor, o seu endereço eletrônico.
Hugo. hucaldas@gmail.com

Joca Medeiros disse...

Oi Hugo Caldas! Como vai você! Eu sou irmão da Célida Inês, e também gostei de ter notícias suas, e espero que o Manfredo também esteja bem, fui amigo de infância dele, e quando eu minhas irmãs nos reunimos para relembrar do tempo de meninice, sempre comentamos o fato de ele estar nos esperando em frente a casa no Miramar, e de ficar de braços aberto na frente do caminhão de mudança, e enfim, não deixá-lo passar. São tantas histórias, mais todas bonitas e com muita saudade... Também quero falar da Fábia, essa jovem que conheço desde menina! Ela sempre respirou talento, sempre meiga e fiel a sua origem; Dos seus pais herdou a simpatia, o sorriso fácil, transbordando carinho e inteligência para todos os seus amigos, a Fábia sempre foi especial em tudo, sou muito feliz em tê-la como amiga. Um grande abraço! João Carlos (joca.medeiros@gmail.com)