sábado, novembro 28, 2009

A Capital de Gêmeos do Mundo


Hugo Caldas

Cândido Godói é um município situado no Noroeste do Rio Grande do Sul. Pode parecer estranho para nós aqui do Nordeste tratarmos de um fato passado em terras tão distantes, mas me chamou a atenção quando tomei conhecimento de um mistério que acontece por lá, através de uma reportagem no New York Times, há alguns anos. Saí em busca de mais informações, pesquisei na web, em outros jornais do mundo e a cada resultado mais aumentava a minha curiosidade. Vamos aos fatos:

No alto de uma pequena elevação por detrás de sua casa, o Senhor Derli Grimm se abaixa e satisfeito sorve um gole de água mineral de uma fonte abundante. Como os demais habitantes da cidade, cuja população é quase toda integrada por imigrantes alemães, Herr Grimm acredita que alguma coisa na água, talvez um misterioso mineral, seja o responsável pela grande concentração de gêmeos na pequena cidade.

"Não é possível explicar tudo pela genética", disse o Sr. Grimm, ele mesmo um gêmeo.

Os geneticistas bem que gostariam de discordar dele, mas ainda não se tem uma explicação plausível para os 100 pares de gêmeos idênticos em toda a população de mais de 6000 pessoas, proporção apreciável entre cerca de 80 famílias que vivem em uma pequena área de menos de um quilômetro quadrado.

O enigma se mantém ao longo de décadas, atraindo a atenção internacional, inspirando livros e investigações genéticas. Este é um dos motivos pelos quais os habitantes da cidade não têm a mínima pressa em provar a teoria da água. Estão ocupados demais com os jornalistas e com
o marketing que coloca a sua cidade como a "capital de gêmeos do mundo”.

Alguns pesquisadores têm sugerido a remota possibilidade de aí existir o dedo de Josef Mengele, o médico nazista conhecido como o Anjo da Morte. Mengele, moradores dizem, andou por esta região do sul do Brasil, passando-se por veterinário, na década de 1960, no mesmo momento em que a explosão de gêmeos começou. Em livro publicado no ano passado, um jornalista argentino, Jorge Camarasa, afirma que Mengele realizava experimentos com mulheres aqui, o que resultou na maior taxa de gêmeos, muitos deles com cabelos loiros e olhos azuis. Nos experimentos, foram provavelmente usados novas drogas e sabe-se lá mais o que, ou até mesmo a prática da inseminação artificial que Mengele dizia conhecer, tanto em seres humanos quanto em vacas.

Mas nem o Senhor Camarasa nem qualquer outro adepto da teoria Mengele foi capaz de provar que o fugitivo nazista conduziu experimentos no sul do país. Mengele, que morreu no Brasil em 1979, e ficou famoso por suas experiências mortais com gêmeos em Auschwitz, no que ele mesmo apregoava ser um grande esforço para produzir uma raça ariana para Hitler.

"As pessoas que estão especulando sobre Mengele o fazem para vender livros", disse Paulo Sauthier, um historiador que dirige um museu aqui. "Ele estudou gêmeos na Alemanha, não aqui”.

Um Portal na entrada de Cândido Godói diz, "Cidade Jardim Terra dos Gêmeos”. Mais de 80 por cento dos seus 6.700 habitantes são de origem alemã. Eles começaram a chegar ao final da Primeira Guerra Mundial, atraídos pela perspectiva de terras baratas, clima agradável, agricultura e incentivos do governo brasileiro para colonizar a área.

O fenômeno está centrado em cerca de 300 pessoas no assentamento de São Pedro, na parte de Cândido Godói onde vivem os Grimms. O Sr. Sauthier, outro gêmeo, nasceu aqui em 1964. Sua mãe, uma Grimm, provém de uma das oito famílias originais que se estabeleceram em São Pedro
em 1918.

Ainda hoje elas vivem uma existência relativamente isolada. Ainda se usam arados puxados por bois, e as pessoas se comunicam em um dialeto alemão.

Foi no início da década de 1990 que o elevado número de gêmeos foi percebido. Logo a região foi invadida pela imprensa de tudo quanto é lugar. Líderes da Vila São Pedro declararam ter a maior concentração de gêmeos no mundo. Um porta-voz do Guinness Livro dos Recordes não conseguiu entretanto, confirmar o fato.

Os moradores adoram toda essa agitação. No ano passado, em São Pedro durante a festa de comemoração da Sexta Bienal dos Gêmeos, foi erguida a estátua de uma mulher segurando uma criança em um braço e sua irmã gêmea, no outro, e instalou-se um esguicho, a "fonte da fertilidade" que se acende durante a noite. (continua)



3 comentários:

Mary Caldas disse...

O meu desejo de maternidade era de ter filhos gêmeos por tudo de bom e mágico que essa fertilidade em determinadas mulheres encerram. Que maravilha de cidade! Se fosse há mais tempo quem iria a Cândido Godói seria eu tomar essa agua mineral abençoada.
Gostei de saber.
Mary

Moacir Japiassu disse...

Com gêmeos ou sem gêmeos seu blog permanece ótimo, consideradíssimo amigo! Parabéns, sim? Moacir

Breno Grisi disse...

Amigo Hugo:
Alguns gostam de dizer que, em Ciência, "Se você não consegue solucionar um problema...pelo menos contribua para torná-lo mais complexo".
Pelo aspecto científico (com todo respeito aos geneticistas) arrisco alguns palpites: 1)Gêmeos não-idênticos, ou fraternos, que provêm de 2 óvulos diferentes, ocorrem em 2 terços dos casos e são mais comuns em mulheres acima dos 30 anos; é curioso observar que provindo de 2 óvulos, estes podem ter sido fecundados por 2 pais distintos (e assim...por exemplo, pode nascer um preto e um branco!).Portanto, qual seria a idade das mulheres que geraram gêmeos em Cândido Godói? Que tipos de gêmeos são mais comuns: os fraternos ou os idênticos? 2)Mulheres com mais de 30 anos tendem a produzir mais hormônio produtor de folículo (último suspiro do ovário??)daí a possibilidade de dupla ovulação.3)Há probabilidade genética de gemeralidade em famílias (tendência transmitida principalmente pelas mulheres), daí a pergunta: há casamentos consangüíneos em Cândido Godói? 4)Tendência racial; ex.: há mais gêmeos entre nigerianos do que entre japoneses (também pudera! japonês já é tudo igual!!!). Como seria então entre alemães?
Seja lá o que for, como você bem disse, a ciência não tem explicação para tudo... restariam mais perguntas do que respostas.
Vamos então ao próximo capítulo.