segunda-feira, abril 26, 2010

História da Carochinha

No Reino de Bruzundangas

Hugo Caldas

Confesso que tentei. Confesso que diligenciei me ver livre dos despautérios acontecidos neste reino de Bruzundangas. Estive alguns dias me fingindo de morto sem o menor estímulo para saber ou muito menos comentar os sucedidos do reinado. Deixei até de ver televisão. Pois bem, estava eu posto em sossego, na minha rede, no maior deforete, no esconso do meu terraço, quando não mais que de repente, divisei na linha do horizonte, uma nuvem de poeira, como nos velhos westerns de John Ford. De dentro dela, surge inesperadamente um arauto, saído de algum escaninho da Idade Média. E claro, com a devida ilustração de Gustave Doré. Esfreguei os olhos sem querer acreditar. Talvez, quem sabe, a catarata estivesse me distorcendo a visão. Perguntei-lhe então se iria à algum Bal Masqué. Nada respostou. Procurou algo dentro de um velho alforje e entregou-me em seguida os restos de um surradíssimo pergaminho com alguns rabiscos. O cavalheiro misterioso do exército de Brancaleone despediu-se com uma mesura cinematográfica. Empinou o rocinante, acenou e sumiu dentro da nuvem de poeira tão misteriosamente quanto chegara. O manuscrito a mim entregue esta manhã, dizia ipsis litteris, o que se segue:

"Nestes dias que correm, muita coisa acontece aqui no reino e você, pobre vassalo, não se dá conta. O que chega às suas mãos e aos seus olhos cansados, é Vero ou apenas Bene Trovato?" E a recomendação: "Esta mensagem se auto-destruirá em dez segundos após devidamente lida".

Aos fatos, pois!

Corre à boca pequena, na corte, que o imperador D. Luís I anda deverasmente agastado com a performance meio bagatela de Lady Morgana, sua alter-ego. Pelo andar da carruagem e o berro do Mateus o boi está mal ensaiado, havendo uma possibilidade real de tudo ir pro vinagre. No primeiro turno. Y entonces os gênios de la lámpara, de los PTralhas já começaram a elaborar uma nova ofensiva. Vejam se não faz sentido:O imperador D. Luís I renunciaria ao trono para disputar a candidatura de Vice-Rei de Lady Morgana e em consequência teria o campo livre para sair reino afora inaugurando até horta comunitária. Acreditam ainda, Merdlyn e os Cavaleiros da Távola Ovalada que desta maneira, voltando a ser boneco de ventríloquo, Lady Morgana angariaria (eita, palavra) os corações e as mentes da vassalagem e seria facilmente coroada rainha. E seriam felizes para todo o sempre? Nunquinha. O conto dessa carochinha não acaba por aqui. Sigam-me os bons!

Logo após a coroação, Sua Majestade Morgana I cumpriria pouco tempo de reinado que é para não dar na vista e, por sua vez, renunciaria ao trono por motivo de saúde. Vocês aí da Geral já lembraram que até pouco tempo existiu um histórico de enfermidade, não? Ao que então, Luís I na qualidade de vice-rei subiria novamente ao trono. Tudo nos conformes, para mais um reinado de oito anos! Em tempo: Não estou sugerindo nada, mas isso me traz à memória o Papa João Paulo I, o Papa Sorriso. Sua Santidade sorria tanto que os petralhas do Vaticano... enfim, deixa pra lá. Melhor lembrar a minha santa mãezinha que dizia: "Muito riso - pouco siso."

Após a leitura do manuscrito e sua prometida desintegração fiquei absolutamente estarrecido. Há, no entanto uma boa razão. Da parte deste escriba que vos escreve, o raciocínio é pra lá de lógico. Tudo se encaixa como num jogo de dominó. O atual vice-rei, Sir Allen Kar, já mandou pro espaço uma verdadeira possibilidade de vitória ao parlamento. O sábio Meir Elles acatou sua permanência à frente do erário real, esquecendo seus projetos de vida. A troco de nada?
Rezam os estatutos do reino: "nada impede o atual monarca concorrer a uma vice reinação desde que renuncie ao cargo com no mínimo seis meses de antecedência." Por lo tanto, estamos em final de abril. Façam seus cálculos, senhores. De maio a outubro a ampulheta marca exatamente 4.320 horas, ou seja, seis meses. Teremos novidades no reino muito em breve. Será a realização do sonho dos PTralhas de locupletamento, banhando suas respectivas éguas ao longo de mais oito anos de bem-bom no quarto reinado de Luís I. Esperem os arautos apregoando pelas portas das tavernas e catedrais. Quem viver verá. Viva o Rei!”

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