sábado, maio 22, 2010

O sabor da volta

Germano Romero

Eis-me diante dele novamente, que visão admirável!... Este mar, espelho da alma, eco da consciência, origem da vida, cuja magnitude e beleza infundem, com venerável respeito, a aconchegante intimidade com o divino. Olho-te daqui da varanda... vastidão que reflete esperanças adormecidas, a lembrar que temos no mesmo pai, o Deus que tudo criou. Há poucos dias eu te via muito além do horizonte à minha frente, do outro lado desta parte que te chamam Atlântico, onde o Tejo a ti se junta.

Agora já são mornas as brisas que me trazes, e como é bom sentir-te o cheiro, ouvir tuas ondas, olhar tua superfície salpicada de sol. E lembrar das muitas cores que tens mundo afora, como lá em Manarola... Seja bravo em tempestade, ou terno em calmaria, é a ti que a Terra deve a vida. E o azul que a consagra com privilégio incomum. Como é possível não ter fé?...

Eita mar bonito que Deus nos deu! Tua água pode ser até salgada, mas é doce o gosto de te ver assim, tão perto. Daqui a pouco vêm as chuvas, que te mudarão a cor, tornar-te-ão mais sério, compenetrado, quiçá até mais belo. Muitos se afastarão de ti, chamarão o tempo de “ruim”, mas, certo estarei de que bem conheces os sabores da solidão, e as maravilhas do silêncio. E que boa companhia é a chuva quando o resto do mundo está longe, hein?... Quantas vezes, no verão, te maltratam com barulho, com sujeira, poluição e algazarra? Quantas vezes ignoram tuas belezas, e tudo aquilo que ora me dizes? Deixa estar, um dia eles aprendem...

Mas, sempre é bom estar de volta. Não há hotel melhor que a casa, cama mais gostosa que a nossa, banho melhor que o meu chuveiro, por mais luxo e requinte que lá encontremos. Ainda que saborosa, a doce “blueberry” não é melhor que a manga-espada, nem a amora mais gostosa que o “papaya”. Mesmo soando com nostalgia cinematográfica, o canto da gralha, à beira do lago em Titsee, ou da gaivota nos canais de Annecy, não é mais gracioso de que a melodia que ouço agora, deste sanhaçu do coqueiro. Nem os parques londrinos são mais bucólicos que o nosso quintal de Tambaú, onde sebitos e bem-te-vis bicam bananas junto aos micos, ou do brejo atrás de casa, lá na Praia do Amor, em que a noite é maestrina dum alegre coral de grilos e girinos.

Desço, que a praia saudosa me espera a dizer. “Hummm... foste longe mais uma vez, hein amigo? Que tal as novas andanças?” Ah, minha cara, não tem nada que chegue perto dos encantos que me mostras. Que bom pisar em tua areia, fininha e macia. Que bonito ver as “maria-farinhas” correndo pra lá e pra cá, misturando-se às espumas brancas de ondas mansas... Como é gostoso o cheiro do sargaço que orla a tua borda.

Mais à frente as coloridas falésias, imponentes barreiras, parecem dizer que, dali pra trás, o mundo é nosso. Para o qual eu vou sempre querer voltar...

3 comentários:

Unknown disse...

Quando um filho sai de sua casa é que da valor a ela , realmente não ah lugar mais bonito e confortavél que o nosso lar

Maria Olindina disse...

Olá,
Que delícia de texto,O Sabor da Volta:mágico,emocionante.apaixonante. Adorei! Realmente Joào Pessoa é uma bela cidade e boa para se viver.
Parabéns!
Até +

Ana Arnaud disse...

Belíssimo texto! Pouquíssimas definições de mar foram tão belamente escritas como essa. Parabéns!

Francisco Nunes da Costa