sexta-feira, julho 23, 2010

TUDO RESOLVIDO!

Riobaldo Tatarana

Há que tempo não escrevo para este blog! Ninguém notou minha ausência, mas mesmo assim gostaria de explicá-la. É que tenho andado doente, não do corpo, mas da alma. Doença que atribuo, em parte, a este mesmo blog, que só fala de coisas tenebrosas, luladas, politicadas, safadezas e roubalheiras mil. Que diabo, seu, não dá pra falar de coisas mais amenas? Mulheres, por exemplo? Já não basta a mídia nacional, enchendo nosso saco com crimes covardes de goleiros e marreteiros?
Vejam bem, falei “em parte”, porque de fato o que me enegreceu a alma foi a notícia péssima que recebemos o mês passado: Dona Mira, nossa formidável cozinheira, nossa cordon bleu, a quem estimamos como uma irmã de fé culinária, vai embora. Miserere! O caso é o seguinte: a filha dela casou com um cidadão de um burgo, situado nos confins do hinterland paraibano, quase na fronteira com o Ceará. O casamento foi lá, dirigi mais de oito horas para chegar naquela cidade, que se chama Patos. O lugar é quente como uma fornalha, e seco. O pai do noivo, para significar a aridez local, me saiu com essa metáfora: “Aqui, quando chove, cachorro acua lama”. O rapaz era ajudante de pedreiro, e parecia ganhar o suficiente para viverem endividados. Acontece que sofreu um acidente de moto, ficou “sem força nos braços”, e já pedreiro não é. Solução? Dona Mira tem de mudar para lá, com o marido e o filho, para acudir.
O plano é terem uma carrocinha de cachorro-quente – não daquele cachorro-quente paraibano que aprendi a amar, com carne moída, cebola, pimentão e tomate – mas dessa contrafação chamada “hot-dog”, na verdade uma salsicha suspeita dentro de um pão, acompanhada de batata palha, ketchup, maionese e quanta porcaria mais couber. Esperam com isso sustentar a família. E aí lá se foi meu sossego, as comidas e comidinhas divinas, os papos com o marido, as pescarias com o filho. Oh, destino cruel, que me assalta com essa catástrofe, no ocaso de minha vida.
Para piorar as coisas, minha mulher, que sempre foi uma criatura sensata, conheceu numa feira de artesanato em Olinda (lugar sobremodo odioso e arriscado!) os membros de uma seita que prolifera em algum ponto das Minas Gerais. Dois sujeitos e uma mulher, todos sujos e cheios de badulaques, infernaram nossa vida por alguns dias, até convencerem a patroa de que desta vez não tem jeito mesmo: o mundo vai acabar no ano 2012! Está previsto no calendário maia, ou asteca, e disso eles já receberam confirmação de alienígenas que só eles conseguem ver. Uma tsunami gigantesca arrasará todos as cidades costeiras do país – pensei que era somente João Pessoa! – e não ficará pedra sobre pedra, como na profecia bíblica.
Confesso que depois dessa partida iminente da nossa Mira, fiquei até consolado, pensando: É bom mesmo que acabe essa porcaria! Por que ficar fingindo que está tudo bem, que os coqueirais, que o marulho das ondas, que os camarões fritos... De que serve essa inútil paisagem sem os quitutes Mira-bolantes? Perdi o gosto. Minha pobre mulher, que é uma pessoa impressionável, já começou a indagar se não haveria um lugarzinho assim aprazível, em Penedo – não a bela cidade alagoana, às margens do velho Chico, pois que o rio também pode virar mar e aí morreríamos afogados da mesma forma. Mas a Penedo da serra fluminense, perto de Resende, onde em um passado remoto costumávamos fazer “camping selvagem”. Ali, numa altitude de 2 mil metros, estamos a salvo de qualquer tsunami.
Essa idéia apocalíptica preocupou-me. Não pelo estrago que vai fazer no país. Importa-me bem este velho Brasil, já condenado à morte pela incúria da politicagem. Mas pelo incômodo que virá com essa mudança – a minha rede, os meus passeios pela praia, o meu caju com a cachacinha de cabeça... São hábitos que não se perde fácil. Por outro lado, como diziam os franceses, à quelque chose malheur est bon” (em língua de gente, “há males que vêm para bem”). Porque muita gente safada vai sumir, o país ficará com novas praias, os catadores de lixo poderão amealhar verdadeiras fortunas...
Mas aí fui sobressaltado por uma lembrança terrível: e Brasília? Que acontecerá à nossa “capital federal”? Encarapitada nos cimos do planalto central, não há tsunami que a alcance, e aquela gente boa que lá mora continuará no seu dolce far niente, às nossas custas. Levei essa dúvida à minha mulher, que a repassou a seus amigos esotéricos. E eles logo acudiram explicando que não é bem assim. Há um reino subterrâneo, ou subaquático, de onde sairão discos voadores dotados de raios de destruição, que liquidarão toda a gente má, independente do lugar onde vivam. Eles têm a ficha de todos os políticos corruptos do Brasil – isso é que é memória ROM! – e não deixarão nenhum escapar. Ah, bom!

Um comentário:

Hugo Caldas disse...

Olá, Riobaldo, seu desaparecido do Arizona. O bom filho à casa torna, muito bem obrado! Sobre essas perspectivas sombrias de Tsunamis e outras tragédias, devo compartilhar com o distinto uma preocupação: O dileto conhece algo sobre a Teoria da Terra Ôca? Pois é, te cuida que os homens vêm com vontade de quebrar! Não tem Trigueirinho que dê conta! Hugão