domingo, setembro 19, 2010

Ah, os políticos!

Carlos Romero

Tem vez que eu fico com pena dos políticos. Veja o leitor até que ponto chega a minha comiseração. Comiseração ou ingenuidade? O político, aqui para nós, sofre muito. E já se disse que ele não se pertence, isto é, vive para os outros sem tempo para si. E como são incompreendidos!... Chegam a dizer que todos calçam quarenta, isto é, todos são iguais. Que injustiça! E é desse mago da palavra, chamado Alcides Carneiro, o seguinte pronunciamento: “Incursionei na política, onde os homens me ensinaram os caminhos do inferno e o estilo do diabo. Aprendi depressa e depressa enjoei. Ela é, senão para muitos poucos, a arte humana de trabalhar para os outros. De qualquer forma, para se vencer, politicamente, é preciso enganar muito e mentir outro tanto.”

A verdade é que Alcides - pertencente a uma família de políticos - nunca teve jeito para esse ofício tão disputado pelos homens. Seus discursos encantavam, mas ficavam nisso. Ele, um dia, chegou a se queixar: “o povo gosta de me ouvir falar, mas não vota em mim, vota em Ruy. Este, sim, um político por vocação.”

O certo é que não podemos passar sem a política. Dir-se-ia que é um mal necessário. Afinal, poder, dinheiro e sexo comandam a vida.

O político é, às vezes, um artista. Mais do que isso, um psicólogo. Conhece como ninguém as fraquezas humanas. E estou me lembrando agora daquele deputado, raposa velha na profissão, quando, numa festa, encontrou-se com um rapaz e foi logo lhe perguntando: “como vai o seu pai?” E o jovem, meio assustado, pois o velho fazia tempo que morrera, apenas respondeu ao político o que acontecera: “meu pai morreu, doutor”. E aquele, com a voz embargada de emoção, disse: “morreu para você, filho ingrato. Seu pai continua vivo no meu coração!” - e fez uma cara de muito sofrimento...

Mas eu iniciei a crônica dizendo que tinha pena dos políticos. Como eles sofrem, perdem noites de sono, gastam um dinheiro que não têm. São ótimos pais de família, tanto é assim que mal o filho começa a falar grosso e criar um buço, botam-no logo na política, mesmo que eles nem queiram, nem tenham a menor vocação.

E o povo? Disse Ruy Carneiro que “forte era o povo”. Sim porque sem ele, que seria dos políticos? Assim mesmo, ao que me contaram, teve um político, aqui na Paraíba, que, certa vez num comício, olhando a massa aplaudindo, delirantemente um candidato, vociferou, discretamente, beliscando a bela camisa que vestia: “é esta canalha que nos dá o linho.”

O povo! Aqui para nós, foi ele quem votou, maciçamente, em Barrabás, que ganhou por unanimidade. Jesus não teve um voto. Também na cruz, em silêncio, sem os barulhentos carros de propaganda, o que era de se esperar? E solto, a multidão saiu com ele nos braços, gritando: “Viva Barrabás, viva Barrabás! Assim é o povo...

Carlos Romero, João Pessoa, PB. Professor, Magistrado e Bacharel em Direito aposentado. Jornalista colaborador do jornal A União, desde 1945. Colunista dos jornais Correio da Paraíba, e Tribuna Espírita, Membro da Academia Paraibana de Letras, Autor dos livros: "A Outra Face de Beethoven", "A Falência no Direito Brasileiro", "A Dança do Tempo", "O Papa e a Mulher Nua", "Meu Encontro com Kardec" e "Lições de Viver".

Um comentário:

M. Formiga disse...

Olá,
Como você definiu bem os políticos. "O político é, às vezes, um artista, mais do que isso, um psicólogo. Conhece como ninguém as fraquezas humanas".
Adoro o seu estilo literário.
Parabéns!!!