terça-feira, julho 26, 2011

Arte, a Essência da Vida

Girley Brazileiro

A arte é a essência da vida... Quanto mais amadureço, isto é, fico mais velho, mais me conscientizo disso. Um engenheiro, um arquiteto, a costureira suburbana, o músico e o ator, o grafiteiro, a cozinheira, o jardineiro, o engraxate, o pintor e o escultor, entre muitos outros, são todos artistas. Pensando bem, todo ser humano, afinal de contas e numa instancia qualquer da vida, é um artista. No dia a dia estamos habituados a ver os artistas sob uma ótica muito restrita. Precisamos enxergar um artista na banal empregada doméstica que produz uma deliciosa sopa de feijão preto, salpicada de cheiro verde ou uma tapioqueira de Olinda que peneira a goma, molda a tapioca ao calor de um lume e mete sabores exóticos para recheá-la.
Mas, é artista também quem lida com a arte de outros e as cultiva com devoção e competência. Explico: neste fim de semana (ontem, 24.07.11) fui ver a exposição temporária da obra de Michelangelo (Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simon 1475-1564), no Castelo de São João da Várzea – Instituto Ricardo Brennand, no Recife.

Que maravilha. É imperdível. Causou-me impacto dar de cara, logo na chegada, com uma réplica autenticada da famosa escultura de David, do mestre italiano, aquela cujo original está em Florença e que varias vezes, por sorte, pude admirar. Aquilo de ontem foi incrível, em face do cenário no qual ela foi inserida. (Vide foto). Depois daquele primeiro momento impactante, adentrei à nova Galeria do Instituto e, aos poucos, mergulhei num mundo de esculturas clássicas, nem sempre de Michelangelo, minhas velhas conhecidas e por mim visitadas outrora. Com uma feliz diferença de que, agora, elas vieram “visitar-me”. Sim, claro, eles estão com todo esplendor e dispostas com rigorosa curadoria a poucos quilômetros do meu endereço.
Quem pensaria uma coisa dessas, no passado, aqui no Recife? É preciso ser artista como Ricardo Brennand – que, sem cinzel ou pincel – pratica a finíssima arte de colecionar obras de arte. Despido de qualquer sintoma egoísta, esse pernambucano transfigurado num mecenas dos tempos modernos, presenteou Pernambuco e o Brasil com uma das mais importantes entidades culturais deste país. Atravessar os portões do Instituto e percorrer a alameda de acesso ao complexo cultural é possível sentir uma gostosa sensação de estar viajando rumo à Idade Média ou uma praça renascentista da Velha Europa. Nas linhas arquitetônicas ou no entorno de paisagens bucólicas, nas obras de arte espalhadas a céu aberto ou indoor, tudo que se respira é arte. Como não entender que tudo aquilo é a essência do viver de um cidadão que não guardou apenas para si o sabor de colecionador, mas, socializou seu acervo num projeto monumental, raro e invejável. Nada melhor do que aquilo nestas plagas nordestinas. O visitante sai dali, tomado por um misto de energizado e incredulidade. Até mesmo os mais alienados, param, pensam e fazem um juízo de valor, quase sempre significativo e digno do que viu.

Outro aspecto positivo que pude observar ontem foi de ver pessoas visivelmente mais simples e, certamente, habitantes da pobre periferia recifense, surpresas com o que viam e atentas às explicações da jovem guia que, didática e pacientemente, descrevia cada obra exposta e a própria vida do escultor italiano, causando certa admiração dos espectadores. (Vide foto) Eram caras e bocas das mais diversas, surpresos, ora com a imagem do David despido ou da figura feminina despojada de vestes. Esculturas inacabadas ou mutiladas chamavam a atenção desses humildes admiradores, iniciantes na ronda das artes clássicas. Com “meus botões” fiquei imaginando que dali poderia sair alguém com o propósito de ensaiar na argila úmida, obtida nos baixios do vale do Capibaribe, ali bem próximo, sua obra de arte, inteira, acabada, vestida e colorida... por que não? Essa gente é muito criativa e gosta de exercer sua natural veia de artista e aí, a essência da vida brota de onde menos se espera.
Ricardo Brennand repete, em Pernambuco, o que o, também, mecenas, Mauricio de Nassau, operou no Século 16. O que ele construiu, ali nos detrás do Grande Recife, além do up-grade cultural alavancado na comunidade, vai imortalizar seu nome. Obrigado Ricardo Brennand!

Quer saber mais sobre o Instituto Ricardo Brennand? Clique em www.institutoricardobrennand.org.br

NOTA: As fotos da postagem são do blogueiro
NOTA: 2 - Do Blog do GB

4 comentários:

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Sr. Girley ,
Concordo plenamente com o início do texto.
Parabéns!
O senhor disse tudo.
É um grande presente para a população.
A Arte deve ser o Belo criando o Bom, pois estende o poder do amor.
Obrigada. Márcia. Juiz de Fora-MG

Mary Caldas disse...

Meu caro Girley
Que maravilhosa a sua sensibilidade em afirmar que somos todos artistas. Mas essa grande obra de arte que é o Instituto Ricardo Brennand foi muito bem descrita no seu texto. Parabéns a você!
Parabéns a Hugão por trazer essa Galeria de Arte para o universo de leitores do Blog.
Abraço, Mary

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Mary,
É verdade! Hugão trouxe a Galeria de Arte para o Blog.
Um espetáculo para ser visto muitas e muitas vezes...
Um grande abraço. Márcia.

Osman Godoy disse...

Perfeito Sr Girley
Li no DP que a réplica do Davi é uma das (apenas)5 existentes e que ela vai ficar no Instituto para sempre!
O Ricardo Brennand é de fato ( no meu entender) o pernambucno mais admirável.
Cada vez que visito o Instituto me surpreendo .
abrs
Osman