segunda-feira, dezembro 26, 2011

Meu natal de criança


Anco Márcio de Miranda Tavares

Nesse tempo de Natal eu me lembro do meu tempo de criança em Ingá do Bacamarte, magro, mirrado, cabeça grande, mas um menino feliz. Eu ajudava Padre Zé Paulo na missa em Latim e sabia tudo de cór. Com, certeza essa foi minha primeira aparição nos palcos da vida. "Introibo ad altare Dei" . E eu respondia: "Ad Deum que laetificat iuventutem meam" . Eu não tinha idéia do que era.

O dia começava com a gente tomando café em família, com tapioca, cuscus e um gostoso bule de café fumegante. Depois ia pra calçada, de onde eu avistava a Igreja e a Praça, centro da cidade. Lá na ponta da calçada vinha Seu Nascimento com seu terno de brim azul. Ele era amigo de meu pai e sempre me dava revistas infantis.

O pavilhão já estava armado na Praça e logo mais quando ligassem o gerador, por volta das cinco da tarde, a praça ficaria toda iluminada. Lá não tinha energia durante o dia.Meus vizinhos, Seu Garcia e Dona Erundina, tinham uma geladeira que funcionava com querosene, podem crer!!

Meu pai começava a tomar os tragos dele pela manhã quando saía para a coletoria. Sempre de terno, sempre de chapéu, bebia em qualquer canto, desde a bodega de Seu Trajano até o clube social. De noite ele ia pro Pavilhão e entrava no leilão beneficente, coisa da Igreja, onde uma galinha assada era vendida por uma fortuna.

Eu entrava no Pavilhão e ficava todo orgulhoso, tomando refrigerante no colo de meu pai. Um tempo bom que eu não esqueço, quando eu era feliz e nem sabia. Minha mãe também vinha pro Pavilhão, mas não bebia. Só tomava gazoza, como eram chamados os refrigerantes daquele tempo bom que eu vivi.

Hoje, meus pais se foram e eu me vejo no espelho com ar cansado, cabelos raros e grisalhos... Onde está o menino? Onde estão seus carrinhos de brinquedo feitos de madeira, onde está o pião, a baladeira, o cavalo de pau? O tempo levou, como levou muitos dos meus amigos e um dia me levará também...

Anco Márcio de Miranda Tavares, tem 67 anos, mas aparenta 66. Humorista. Pertenceu a geração "Pasquim" no qual foi o primeiro paraibano a escrever e o único a ter uma página inteira. Fez teatro. Trabalhou em todos os jornais da cidade, e sua coluna "Romance da Cidade" é uma das mais antigas do Estado. Clique no link abaixo para visitar o site de Anco.

http://ancomarcio.com/site/

4 comentários:

Jorge Zaupa disse...

Deus meu, tempos em que existia a tal de sensibilidade, o tal do respeito, a tal da amizade. Infelizmente os avançados de hoje desconhecem. Sou um retrogrado. Graças a Deus.
Parabéns ao autor.

Márcia Barcellos da Cunha disse...

Como é agradável relembrar fatos passados de nossa vida,como é forte em cada um de nós a nostalgia. Seu relato é uma delícia de ler. Abraço. Márcia

Mary Caldas disse...

Meu caro Anco Márcio
Onde está esse menino?
Está aí nesse texto lindo fruto de uma herança de vida bela e gratificante.
Esse menino continua pela vida com um coração cheio de sentimento mais puro.
Um grande abraço, Mary

Anco Márcio disse...

Mary foi minha grande paixão de adolescencia...Era a menina mais bonita do balé do Santa Roza.Eu nca tive nada com ela,pois Mary era muito menbina.Hj n posso ter porque ela é uma senhora casada e eu sou um velho q esqueceu a arte da paixão.Felicidades Mary...Guardo ainda sua imagem de menina fazendo um pas de deux em busca do horizonte la na velha sala do balé.Existem coisas q a gte não esquece...