domingo, janeiro 29, 2012

Mondo Cane


Ipojuca Pontes

Em previsão recente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a redução de 4% para 3,3% na expectativa de expansão da economia mundial em 2012. Paralelamente, agência local da BBC informou que o Brasil é a segunda nação mais desigual do Grupo dos 20, ou simplesmente G-20 - uma corriola formada pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e mais a fatídica União Europeia, uma velha senhora indigna que anda aos tropeções como um bêbado em final de festa.

Numa escala ascendente, o Brasil só perde em matéria de desigualdade para a República da África do Sul, tida como a mais sólida economia do continente africano, embora Rússia, China e Japão, países que possuem consideráveis reservas internacionais, tenham ampliado seus desníveis sociais. (O caso da China, segunda economia mais próspera do planeta, não deixa de ser alarmante: país comunista que congelou o capitalismo de Estado, escraviza 800 milhões de penitentes com salários miseráveis, sem direito de greve, aposentadoria e assistência social, para não mencionar aqui, por exemplo, a “lei” da cota única que castiga severamente quem pretende ter mais de um filho, e a implacável perseguição desencadeada sobre os que se habilitam, através da internet, passar ou receber informações fora do controle do estado).

No plano interno, sempre maroto, fala-se muito na ascensão do Brasil no espaço da economia global, mas, examinado o fenômeno com objetividade, e vendo como funcionam as coisas por essas bandas, me parece oportuno realçar que não foi o Brasil que melhorou, foi o mundo que piorou – e muito. E não sou eu quem o diz. Noticiado que a pátria amada tinha atingido o patamar de 6ª economia do planeta, o entaramelado Mantega, ministro da Fazenda, temendo a marola de novas cobranças, apressou-se em afirmar que mesmo detendo Produto Interno Bruto (PIB) superior ao da Inglaterra, o brasileiro precisaria de um quarto de século, ou mais, para atingir o padrão de vida de um inglês.

Mas, a julgar pelo andar da carruagem, ao contrário do que pensa o ministro Mantega, talvez não seja necessário esperar um quarto de século para ver a Europa, cevada na permissividade malandra da social-democracia, chegar à bancarrota total. Basta refletir: que futuro pode ter um continente que fez do Estado Provedor, com suas “conquistas sociais” parasitárias, um ponto de partida? Para não ir muito adiante, como encontrar recursos para manter em países como França, Itália, Espanha e Portugal gastos irrefreáveis dispensados a uma burocracia socialista que se refestela em salários milionários e aposentadorias mirabolantes? Ou, o que é pior: como sustentar “políticas públicas” que só privilegiam corporações ociosas em detrimento de quem trabalha e cria riquezas?

Por outro lado, convém lembrar que não é apenas o Velho Continente que bordeja as portas do Mondo Cane. A situação na América Latina (que alguns desajustados insistem em chamar de “América Latrina”) não é menos crítica. Neste espaço intransitivo, impregnado do fartum tropical, reina a mais desenfreada criminalidade acionada pelo narcotráfico imbatível – criminalidade, de resto, só ofuscada pela incontrolável corrupção mantida à sombra de governos estatizantes que se deleitam em trombetear no ouvido das massas, junto com a distribuição de alguns trocados assistenciais, promessas altissonantes de um novo e venturoso porvir. Resta à população nativa, sobrevivendo ao largo do banquete, estigmatizada pelo ensino público indigente e uma saúde de fancaria, a tudo assistir entre humilhada e impotente, boa parte dela chegando a pensar, como o Dr. Pangloss, por força da indução planejada, que ingressamos afinal no melhor dos mundos possíveis.

O caso do Brasil, em particular, demanda cuidados especiais. Como a China, adotamos o capitalismo selvagem de Estado em consórcio com a social-democracia cavada na Europa, com suas vertentes de privilégios e “conquistas sociais” – uma combinação altamente explosiva. Nele, basta olhar de relance, transbordam problemas prementes e variados, tais como: inchaço da colossal máquina pública, aumento das terras devastadas por calamidades meteorológicas e a favelização galopante das periferias urbanas, gastos bilionários com os poderes oficiais sem o resguardo da mínima transparência, impostos e encargos sociais elevados que só estimulam o trabalho escravo e a economia paralela, rombos previdenciários insolúveis etc. – tudo remontando a um país que cresce como rabo de cavalo – para baixo.

Em que pese a obstinada inconsciência do seu povinho miúdo, que carrega tudo nas costas sem chiar.

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