domingo, abril 22, 2012

Pequena história do Descobrimento de Pindorama d' après Millôr Fernandes


Ao ensejo das comemorações deste dia 22 de abril que já não acontecem mais, conto-lhes uma história bem catita acontecida num dia como hoje uns quinhentos e doze anos atrás. Pois muito bem, nesta mesmíssima data, tarde modorrenta de escaldante verão, três meses depois do carnaval, o morubixaba da Tribo dos Paranacuiú-nã-nã, tomava um deforete à beira mar, recostado a uma enorme pedra, enquanto coçava uma frieira no dedo mindinho do pé esquerdo. Após traçar um peixinho assado na brasa, regado à uma boa cachacinha feita de mandioca fermentada, tomou o silvícola-mor o maior susto da sua vida. Teve, como num desvario fantasmagórico, sua atenção voltada para a frota de Cabral que desembarcava, bem alí na sua frente, homens, cavalos, munição, armas e víveres. Gente muito estranha aquela. Todos vestidos - roupa pesadíssima - dos pés à cabeça. Um fedor e uma loucura para o nosso clima tropical. O Chefe balançou a cabeça, estalou os lábios em sinal do mais profundo desagrado e melancolicamente comentou lá com seus botões, se botões ele os tivesse:

- "Isso não vai dar certo!”

Evidentemente não deu!

2 comentários:

Jorge Zaupa disse...

Hugo, até o índio viu/pressentiu que com os portugueses só podia dar tudo errado. Sábio ele? Não.
Apenas um observador.

Aline Alexandrino disse...

Se o chefe realmente soubesse das coisas do mundo, tinha dado umas flechadas no povo das caravelas e nada disso teria acontecido. Em compensação (tudo tem 2 lados e às vezes muitos mais), a gente não estaria aqui se divertindo (?!) com a sua estória do descobrimento... Aline