segunda-feira, junho 25, 2012

MILAGRE BÍBLICO e MIOPIA AMBIENTAL

Joelmir Betting

MILAGRE BÍBLICO


Um terço da população mundial, hoje de 7 bilhões de terráqueos, consome menos de mil calorias por dia. Em estado de desnutrição endêmica, cerca de 1 bilhão passa fome, simplesmente. Se não dá para alimentar com dignidade humana um terráqueo em cada três, vai dar para garantir a segurança alimentar de 9,2 bilhões em 2050? Uma sobrecarga de mais 2,2 bilhões até lá?

A resposta está no plano político da má distribuição da riqueza entre nações e entre classes de cada nação. No plano técnico, a solução está na erupção de uma verdadeira revolução agroambiental de base científico-tecnológica. Revolução que, aliás, está em curso há pelo menos 30 anos, Brasil no meio. E não por decisões de governo, mas por escolhas de mercado - dos produtores aos consumidores.

Já estamos rompendo o tabu intelectual que trata agropecuária e meio ambiente como entidades hostis, a primeira devastando a segunda. Não.

O tal do desenvolvimento sustentável não é invenção da Rio + 20. É invenção da lógica de mercados maduros. Crescimento econômico e preservação ambiental não são excludentes ou alternativos. São complementares ou aditivos. Desenvolvimentistas já sacaram isso. Ambientalistas ainda não.

ONGs ambientalistas do Brasil e do mundo, nesta Rio + 20, não se perguntam como alimentar 9,2 bilhões de bocas em 2050, e, muito menos como, até lá, adotar políticas públicas de planejamento familiar. Deixar que o flagelo da fome cresça no mesmo ritmo da cegonha é uma posição intelectualmente preguiçosa - ou ideologicamente criminosa.

Lembra o biólogo Fernando Reinach que, nos últimos 50 anos, ou desde os anos 60, decolagem da engenharia genética e de biotecnologia, a área ocupada pela agropecuária em todo o mundo cresceu 34%. Um terço.

Mas a produção de alimentos, no mesmo período, cresceu nada menos de 290%. O triplo.

O tal de fazer cada vez mais com cada vez menos. Verdadeiro milagre bíblico da multiplicação do pão, do peixe, do vinho, do leite, do açúcar, da soja, do milho e do trigo.

É a produtividade, estúpido, que vai salvar a Humanidade. É a produtividade o grande reator do hoje badalado desenvolvimento sustentável. Como se a sustentabilidade fosse coisa nova, invenção de ambientalistas do século 21.

Voltaremos ao assunto.

MIOPIA AMBIENTAL

Nesta Rio + 20, um bilhão e meio de famintos pululam pelo planeta. Dois bilhões não têm acesso à água potável. Três bilhões e meio não têm coleta de esgoto.

Eis a verdadeira tragédia sócioambiental da Humanidade. Aqui no presente e não no aquecimento global lá no futuro.

Pior: a espaçonave Terra não tem como fazer parada técnica para reabastecer as provisões de bordo. Os recursos finitos, por definição, vão acabar. E os recursos renováveis têm de ser produzidos cada vez mais com cada vez menos. Vulgo desenvolvimento sustentável.

Especialmente nos horizontes nublados da segurança alimentar, da segurança energética e da segurança sanitária. Uma revolução agroambiental, já em marcha batida, terá de responder aos desafios dramáticos da comida e da energia.

Pior: os passageiros da espaçonave Terra continuam multiplicando-se ao ritmo da aritmética dos coelhos. Somos 7 bilhões de terráqueos hoje e 9,2 bilhões em 2050, segundo o pop clock da ONU. Como recepcionar a bordo mais 2,2 bilhões de passageiros até 2050?

É tudo muito simples: para esse aumento de 31% da população, até 2050, o planeta vai ter de aguentar uma sobrecarga de 45% no consumo de energia e de 70% no consumo de alimentos, entre outras demandas.

Essas projeções da ONU jogam com os ganhos de renda por habitante, além do próprio crescimento populacional.Na energia, não tem escapatória: a ordem é limpar a matriz energética do planeta na plataforma elétrica e na plataforma automotiva, entre outras plataformas.

Vai daí que o grande tema da Rio + 20 ficou na fila do gargarejo: o da expansão demográfica, bem mais corrosiva do que o do desmatamento, até porque, a cegonha, também no século 21, vai continuar dando preferência aos pobres dos países pobres e aos pobres dos países ricos.

A Rio + 20 não tem na agenda global políticas públicas de planejamento familiar - o tal de armistício com o espermatozóide. Ela prefere discutir limites e metas para os 7 bilhões do presente e não para os 9 bilhões do futuro. A tal ponto que o caderno de compromissos da ONU fala em rebaixar as emissões anuais de CO2 de 9 para 1 tonelada por habitante até 2050.

Ou seja, mais 30% de gente, mais 45% de energia e mais 30% de comida com emissão de apenas 1 tonelada de carbono per capita. Ora, como já disse aqui, fixar metas sem garantias de meios é um exercício intelectual no mínimo demagógico.

Ou preguiçoso.

MISSÃO IMPOSSÍVEL

Na Rio+20, a ONU vai lançar a missão impossível: até 2050, rebaixar de 9 toneladas para 1 tonelada por ano as emissões de dióxido de carbono liberadas pelo consumo, por habitante, de produtos e serviços em geral. A média brasileira é de 12 toneladas.

Ocorre que a média estatística não deixa de ser a ficção da matemática.

Seria bom combinar com os países ricos a redução de mais de 20 para 1 tonelada por habitante, e, com os pobres, a redução de 4 para 1.

Bem, fixar metas sem garantias de meios é exercício intelectual no mínimo preguiçoso

Um comentário:

VIRGOLINO disse...

Nessa Rio+20 besteiras, observei os personagens que deitavam falação sobre a salvação do universo e as previsões catastróficas do fim do mundo.
Nenhum deles me pareciam representar a humanidade, nem conseguiam me convencer de que eram pessoas com alguma responsabilidade efetiva ou trabalho produtivo para a sociedade.
Descabelados, trajados com aquela aparência de descolados, exibindo a pose de donos da verdade, deixavam a impressão de verborragia e hipocrisia, com um insosso bla-bla-blá.
Em mim, ficava na mentre a imagem de que se tratava de gente que ao passar por um jardim, por um roseiral, contraditoriamente, pisam na grama e dão um chute na rosa.
Ou seja. Eles querem é rosetar!