domingo, junho 24, 2012

Sustentabilidade insustentável


Ipojuca Pontes

Está em voga no Brasil o debate em torno da   sustentabilidade, ou, vá lá, do “desenvolvimento sustentável”, termo aplicado nas mais diversas esferas, desde a ambiental, passando pela social, econômica, empresarial ou o que se queira imaginar. Difundido pela famigerada ONU a partir dos anos 1980, o conceito de sustentabilidade se define de forma genérica no entendimento de que ela “atende as necessidades das gerações atuais sem que comprometa a possibilidade de satisfação das gerações futuras”. Fora de tal propósito, diz a ONU, não se pode falar em “desenvolvimento sustentável”. (De fato, pretendendo dominar o mundo pela sistemática exploração de teorias, conceitos e fórmulas esdrúxulas, a burocracia da velha ONU, tendo como tentáculos um colossal aparato de ONGs espalhadas pelo mundo, representa hoje uma  ameaça totalitária na composição da nova ordem mundial, assunto que abordaremos em momento oportuno).
    
Bem, dizia, discute-se muito a questão da  “sustentabilidade”, ou do “desenvolvimento sustentável”, mas se aborda muito pouco - e  quase sempre de forma apressada - a premente questão da violência insustentável que tomou conta do País, a encampar o alarmante registro de 50 mil mortes anuais decorrentes de homicídio, morte por agressão, bala perdida, assassinatos por invasão de terras – e o que mais desandar no bestialógico estatístico. Mata-se diariamente no Brasil dez vezes mais do que na guerra civil que se abate sobre a Síria.
    
Para se ter uma idéia de como funciona a a coisa entre nós, um recente balanço da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp) revelou que, no processo de se  punir a criminalidade, foram finalizados apenas 32% dos 132 mil inquéritos sobre homicídios instaurados pela Polícia até 2007. E, dado curioso: dentre os 43.123 inquéritos finalizados, apenas 8.289 resultaram em denúncia. O resto, a grande maioria, foi arquivado, ou seja: os inquéritos em torno dos crimes cometidos caíram no exercício findo, não havendo possibilidade de punição para quem os cometeu. Não é fantástico?
    
Por sua vez, num necessário, porém incompleto Mapa da Violência Nacional traçado pelo Instituto Sangari com o aval do Ministério da Justiça, em 2011, divulgou-se que o Nordeste é, nos últimos tempos, a região que registra o maior índice de mortes por causas externas violentas, num vasto universo de homicídios, acidentes de trânsito e suicídios. No capítulo de morte por suicídio – cujos índices entre 1987 a 2007 assinalam a escalada de 36% -, o Mapa da Violência revela que o autoextermínio no Nordeste aumentou em 80%, destacando o fato de que no seio da população jovem o índice tornou-se ainda mais assustador: ele ultrapassa a casa dos 92% (sem esquecer a informação de que, em geral, os familiares dos suicidas procuram evitar que a causa da morte conste nos certificados de óbito). O Piauí, com a taxa de 8.7 para cada 100 mil habitantes, é o Estado que apresenta o mais alto índice de suicidas jovens na região.                
    
Bem, a pergunta que se impõe e a seguinte: por que a população jovem do Brasil, em particular a nordestina, anda se matando? Loucura? Miséria? Droga? Excesso de promessas oficiais não cumpridas? Desilusão amorosa? Os motivos, claro, são muitos e diversos. Émile Durkheim, pai da moderna sociologia e autor de célebre estudo sobre o tema, emprega a palavra “anomia” para explicar uma das inúmeras causas do sério desvio. Neste universo, ele considera com argúcia a falta de objetivos e a perda de identidade do indivíduo num mundo em mutação que destrói os valores tradicionais sem se interessar em recompô-los. Como previsível, diante do quadro de insegurança e desintegração moral em andamento, prevalece na alma do suicida, especialmente jovem, um misto de medo, vazio e desesperança, diante do qual a vida se torna inútil ou, quando não, absurda.
    
O que diz Durkheim faz sentido: num mundo em que os valores lavrados nos Dez Mandamentos são considerados uma excrescência e a natureza, a partir da visão fraudulenta açulada pela Hipótese Gaia é encarada pelos ecologistas como um único organismo vivo, mais importante que o próprio ser humano, qual o sentido da vida?

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