sábado, junho 23, 2012

Tiro&Queda 23.6.12 sábado

Eduardo Almeida Reis
   
ABC dos namorados – O recente Dia dos namorados suscitou considerações de ordem comercial, ética, estética, metafísica, cibernética, amorosa e sexual, que perfazem todo o abecedário e pode ter letras dobradas a exemplo da baiana Cláudia Leitte, para melhor amamentar seus filhinhos. Vejamos.

A de amor: sem ele fica meio difícil, o que absolutamente não quer dizer que namoro seja sinônimo de amor. B de beijo: tem que ser caliente, mordido, chupado, gozoso e gostoso. C de cuidado para não engravidar a namorada, na hipótese cada vez mais improvável de o namoro ser entre pessoas de sexos diferentes. D de dentição, quanto mais bonita, melhor. Dentaduras são toleráveis, desde que não fiquem no copo à noite. E de entusiasmo normal em todos os namoros, sob pena de o arranjo não ter qualquer futuro. F de filhos previstos na letra C retro. G de galinha: cuidado! H de halitose, uma das piores pragas dos namoros. I de intenção, que deve ser a melhor possível. J do jiló a ser evitado: não é chique gostar de jiló. K de kW, símbolo do quilowatt economizado ao namorar no escurinho. L de lavar sem exagero: lavou demais, tem gosto de cotovelo. M de motel, que não existia antigamente. N de não, de vez em quando indispensável. O de ósculo, beijo sempre necessário. P de pelinhos. Há que desconfiar da namorada muito depilada. Q de quarto. R do repeteco próprio da idade. S de sofá da sala, quando não tem ninguém por perto. T de traição com a melhor amiga dela, coisa que acontece, e de tênis, que os namorados de hoje não dispensam. U de upgrade, atualização de namorado. V de vários namoros antes de encontrar a paixão da vida, que deve durar de seis meses a dois anos. X das empresas do Eike, que amor sincero custa caro. Y de yakisoba, macarrão com verduras: tem namorado que gosta de macarrão. W de walkman incompatível com o namoro, que exige as orelhinhas dela e dele sem fones, para que sejam amorosamente mordiscadas. Z do zigue-zague próprio da vida.

Infidelidade – Só quem já foi casado com bela mulher, que tinha a mania de telefonar para as pizzarias encomendando pizza de aliche, abominável anchova preparada na salmoura para conserva, pode entender o gesto da senhora Elize Ramos de Araújo Kitano Matsunaga, 38, quando matou e esquartejou seu marido e senhor, o executivo Marcos Kitano Matsunaga, 42, herdeiro do Grupo Yoki. Neto de japoneses, o executivo deve ter encomendado pizza de peixe e faca amolada todo japonês tem para fazer sushi.

Não creio que o motivo do crime, como se houvesse “motivo” para certos crimes, tenha sido o fato de Marcos trair Elize. Fosse verdadeira a tese do adultério, seria tempo de o nosso Haroldo comprar 10 mil alqueirões às margens da estrada que vai de Belo Horizonte para Montes Claros, instalando neles mais um de sua imensa cadeia de cemitérios. Como sabe o leitor, cada alqueirão tem 440 x 440 metros, ou 19,36 hectares.

A infidelidade matrimonial, manutenção de ligações amorosas com outra pessoa diferente daquela com quem se está comprometido, é fruto inconho do casamento belo-horizontino, e inconho, sabemos todos, é fruto que nasce pegado a outro. Houaiss pisou na bola ao escrever "acoplado", galicismo imperdoável. Vem do francês accoupler "reunir em pares (cães)", quando falamos de pares humanos e o verbo pegar é puro latim. Entrou em nosso idioma do século 14, enquanto acoplar data de 1950.

O megacemitério passaria pelo distrito que leva o nome de um mineiro notabilizado no Rio pelo grito "Guaraná para dois!", no Hotel Leblon, antes de tomar uma surra de sua imensa mulher. Cavalheiro franzino, estava com a namorada no hotel, que não tinha interfone para a copa. O hóspede apertava o botão da campainha e o garçom batia na porta do quarto, para tomar o pedido. Acontece que não foi o garçom, mas a legítima esposa que bateu na porta para ouvir o pedido de guaraná. Forçou a imensa porta, velha de mais de 50 anos, e só faltou matar seu maridinho.

De lá para cá são raros, raríssimos os maridos mineiros que não pulam a cerca matrimonial. Conheci um, meu sócio na empreiteirinha juiz-forana. Hoje, em BH, conheço dois. Os demais estão sujeitos ao exemplo exemplar de Elize R. de Araújo Kitano Matsunaga, para alegria do Haroldo. 

O mundo é uma bola – 23 de junho de 1532: Henrique VIII de Inglaterra e Francisco I de França assinam secretamente (coisa feia) um tratado contra o imperador Carlos I, da Espanha. Em 1794,  Catarina, a Grande, da Rússia, permite que os judeus possam morar em Kiev. Em 1828, o rei Miguel I, de Portugal, usurpa a coroa de sua sobrinha, a rainha Maria II, dando início às Guerras Liberais em que acabaria tomando uma coça do nosso Pedro I, Pedro IV de Portugal. O usurpador era tão ignorante que se assinava Migel.

Hoje é o Dia Nacional do Desporto.

Ruminanças – “Bolsa, ela muda o look da roupa. Você pode colocar um basiquinho, muda a bolsa, fica linda!” (estilista na tevê).

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