quarta-feira, junho 27, 2012

Tiro&Queda 27.6.12 quarta-feira

Eduardo Almeida Reis
   
Maneiras de assistir – Se o cavalheiro está muito alegre, a melhor maneira de assistir ao noticiário da tevê é pela óptica do humour inglês. Foi assim na noite em que falaram dos ilustres ex-deputados de Brasília, DF, Brunelli e Eurides. Dona Eurides teria sido condenada a devolver R$ 3,5 milhões: os R$ 620 mil recebidos no Mensalão do DEM, a R$ 20 mil por mês, mais multas e outros castigos, e ainda pode ficar privada, coitada, de se candidatar durante alguns anos. Claro que não vai devolver um tostão. E o doutor Brunelli foi aquele que inventou a oração (ou a dança?) da corrupção, mas foi solto depois de cinco dias e diz, através de um advogado, que vai provar sua inocência.

O humour começou pela pudicícia da operação policial: Caixa de Pandora. A mitologia grega diz que Pandora, “a que tudo dá”, “a que possui tudo” foi a primeira mulher criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu de roubar do Olimpo o segredo do fogo para dar aos homens.

Ocorre que o nome clássico é B. de Pandora, em que B. vem do latim bùxis,ìdis  “espécie de recipiente, caixa”, através do fr. boîte  “caixa”, mas é tabuísmo no Brasil para “vulva” e todo mundo escreve com “bu”, quando o certo pede “bo”.

Astronômicas – Nunca vi nem tive notícia de evento mais idiota do que o trânsito de Vênus. Ainda bem que vai levar 125 anos para se repetir, quando já não devo estar por aqui. Pode ser muito importante para os astrônomos, mas para nós, leigos no assunto, até as brigas do Vaticano são muito mais saborosas.

Que interesse tem alguém, neste século 21, de ser eleito papa? Deve ser função terrível, muito exposta e ainda com risco de vida, como tivemos prova no atentado contra João Paulo II.

Visitar Cuba... Ora, visitar Cuba sem ser para conhecer os fabricantes de charutos e tomar banhos na praia de Varadero, sei não. Bom mesmo, na hierarquia católica, é fazer carreira no Paraguai, como atestam os vários filhos produzidos pelo bispo Fernando Armindo Lugo de Méndez, risonho ex-presidente do país vizinho.

Renascimento? – Quando a gente menos espera, há boa notícia. Vejamos: dia 25 de junho, programa Estúdio.i, canal GloboNews com a ótima (em todos os sentidos) Maria Beltrão. Dos quatro entrevistados, três usavam sapatos de couro.

Gaveta – Muito raramente recorro à gaveta, textos que escrevi há séculos e tenho encadernados nas estantes ou nos arquivados no computador. Consulto os arquivos, via “localizar”, para copiar certos pormenores que estudei em priscas eras, como, por exemplo, o número de vezes que uma chimpanzé transa por dia com seus ilustres companheiros de grupo.

Tenho, contudo, uma gaveta mais ou menos atual, textos que lá vou compondo e arquivando numa pasta informática para soltar em Tiro&Queda ou na Pena Capital do Correio Braziliense, nas emergências de falta de assunto.

Sei que a conversa da atualidade da crônica é meio forçada, porque, a partir de um acontecimento qualquer, um crime, uma tragédia, um concurso de beleza, o fato ocorreu e qualquer coisa que se escreva é sobre o “passado”. Aí, temos o fato “atual” durante alguns dias, para cair no esquecimento duas semanas mais tarde.

Componho estas bem-traçadas depois de visitar a gaveta escrita em 2011 e não publicada pelo atropelo de acontecimentos mais recentes à época. Fico triste ao constatar que teriam hora e vez, mas ficaram guardados, atropelados pelos fatos e perderam atualidade.

Alcivando – Anteontem, tomei um táxi dirigido pelo excelente Alcivando. Como seu nome é incomum, lembrei-me de outra corrida que fiz com ele ano passado. Quando acaba, descobri que o patrício é leitor do Estado de Minas, conhece o philosopho do Taj e é fã da coluna do Jaeci. Chegando a casa, fui ao Google e descobri que seu nome vem do grego e significa “aquele com espírito forte”. Fica o registro.

O mundo é uma bola –  27 de junho de 1929: em Nova York, primeira demonstração da tevê em cores nos Laboratórios Bell. Em 1967, instalação do primeiro caixa automático em Enfield, Londres. Ainda não tingia as notas de cor-de-rosa, para permitir que os bancos centrais caíssem no ridículo de invalidar as notas pintadas, para depois dizer que são válidas. Em contrapartida, permitiram que Minas Gerais, na primeira metade do ano de 2012, tivesse a invejável média de quase uma caixa eletrônica estourada por dia, enquanto o país (país?) se orgulha do 4º lugar no ranking de acidentes do trabalho em todo o planeta.

Hoje é o Dia Nacional do Vôlei, o Dia Nacional do Progresso e, no Amazonas, o Dia do Mestiço. Por que só no Amazonas?


Ruminanças – “Quem não escreve por dinheiro, não é digno da profissão” (Ivan Lessa, 1934-2012).
              

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