segunda-feira, julho 30, 2012

A DIFÍCIL VIAGEM DE SI A SI MESMO


José Virgolino de Alencar

Diz Drummond que "o homem enfrenta a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo”.

Completo eu: o homem tem enorme dificuldade de encontrar seus bons sentimentos e o auto-entendimento exatamente dentro de si mesmo. Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Contudo, a criatura afastou-se do Criador, deu um retoque em si mesmo e hoje ele(o homem) não tem mais nada a ver com o projeto original.

Não chego ao surrado conceito de que “é melhor um cão amigo do que um amigo cão” para se referir ao homem pouco amigo. Um pitbul, por exemplo, nunca será amigo de ninguém, nem do próprio dono. ... Por outro lado, o homem, ainda que mau, sempre terá alguém de quem ele seja amigo.
Mas, convenhamos, o homem cada vez mais se distancia do sentimento da fé, a base sobre a qual Deus projetou o ser que Ele desejava representá-lo na Terra.

Como a esperança é a última que morre e para que não nos enterremos no pessimismo, vamos dar um crédito ao homem do futuro. Podemos ser utópicos e sonhadores. O sonho não faz mal.

Contudo, atingir o ideal, a perfeição, não é fácil. Assim, como o ideal é pouco possível, temos que, pragmaticamente, transformar o possível no ideal a ser atingido.

Parece paradoxal, ter um ideal e não lutar convictamente por ele, acomodando-se no possível. É que a realidade rima com idealidade, mas, como as paralelas, nunca se encontram ou, na teoria matemática, encontram-se no infinito onde nossa mente não alcança.

A realidade não aceita o ideal. Não há outro caminho. Temos que ser mais realista do que idealista, desde que não se aliene princípios, formados sob a égide da ética e da moral, moral aqui entendida não como falso moralismo, mas como norma comportamental compatível com a harmonia social.

Pode não ser o melhor caminho, entretanto é o caminho pelo túnel onde no seu fim podemos ver luz, a luz da fé, crendo que a força espíritual dirige e domina a matéria.

Repetindo Drummond e embora concordando que é difícil e dangerosíssima a viagem do homem de si a si mesmo, acho entretanto que essa dificuldade pode ser transposta, não é fato inexoravelmente incontornável. Pode, pelo menos, vestir-se com o manto do aperfeiçoamento, inda que não atingindo a perfeição. Perfeito, só Deus, diz o vulgo popular.

Vamos, então, nos esforçar, nos auto-entender, para fazer a dificultosa viagem de si a si mesmo. Fazer disso uma expedição ao próprio íntimo, tentando descobrir-se. Talvez assim descubramos e possamos entender nosso semelhante.

Nenhum comentário: