segunda-feira, julho 23, 2012

Pergunta


 Eduardo Almeida Reis
    

Tanto quanto se possa pesquisar, a corrupção existe desde sempre. Deve ter sido facilitada a partir do reino da Lídia, quando começaram a cunhar moedas ali pelo século VII a.C. Vosso philosopho tinha tudo mastigadinho no saudoso XP, com o nome do rei, da mulher que tomou de outro rei, a  localização da Lídia e outras informações da melhor supimpitude. Com o novo Windows 7 estou apanhando à beça e à bessa. Se não aprender a lidar com essa josta, volto à máquina de escrever IBM 82-C e seja o que os deuses quiserem. A IBM está de enfeite na sala e fica me espiando como idosa esposa abandonada pelo marreco que aderiu ao computador.

Considerando que ouro, prata, pérolas & cia. existiam “em antes” da cunhagem das primeiras moedas, parece claro que a corrupção já existia. E veio vindo por aí até chegar aos espantosos níveis atuais, sobretudo e principalmente no Piscinão de Ramos. Não a tolice eleitoreira inventada pelo prefeito César Maia no bairro carioca de Ramos, mas no Piscinão que tem hino, bandeira e, pasme o leitor, Constituição.

Mulher e procuradora de Martim Afonso de Souza, Ana Pimentel foi quem trouxe os primeiros gados para o Brasil, daí a admiração que sempre tive por ela apesar das pernas e dos sovacos peludos, do cheiro e dos piolhos que deveria ter. Seu marido e senhor andava pela Índia a serviço de Portugal, onde roubou adoidado e citou em carta alguns dos seus ganhos extras. Martim nasceu em Vila Viçosa, c. 1499-1500, e foi a óbito em Lisboa em 1571. Gosto muito dessa conversa de ir a óbito em vez de morrer.

Vejo agora que o historiador Marco Morel lançou o livro Corrupção, Mostra a Sua Cara, narrando casos históricos de desvios de dinheiro público. Tomé de Souza (1503-1579), governador-geral do Brasil – primogênito de João de Souza, que seguiu vida eclesiástica, abade de Rates, sete léguas acima do Porto, onde viveu com bastante dissolução, porque teve mais de dez filhos com Mécia Rodrigues de Farias, senhora nobre dos Farias de Barcelos –  teria introduzido no Brasil o termo “governo das boquinhas” e a boquinha veio por aí (e por aqui...) até 2012.

Releva notar que Tomé foi o primeiro titular da comenda da Ordem de Cristo, o que só faz confirmar o que lhes tenho dito vezes sem conto: desconfiem dos amedalhados. Morei séculos em Juiz de Fora, MG, e nunca soube de um bandido regional que não tivesse a medalha da Inconfidência outorgada de montão e a mancheias por todos os governos de Minas.

O título destas bem-traçadas é “Pergunta”, como se vê aí em cima. Daí a pergunta que faço ao caro e preclaro leitor: pelo fato de a corrupção ter existido desde sempre, devemos permitir que continue? Não creio. Tanto quanto se saiba, a poliomielite sempre existiu e foi erradicada no Brasil graças às vacinas do Dr. Salk e do Dr. Sabin.

Se os pesquisadores conseguiram produzir vacina contra a infecção causada pelo enterovírus com genoma de RNA simples (unicatenar) de sentido positivo em três sorotipos, distintos imunologicamente, mas idênticos nas manifestações (fonte: Wikipédia), deve ser possível produzir vacina contra a ladroeira. Enquanto não for produzida, cadeia nos corruptos, neles todos, sem exceção de um único.

Alfim e ao cabo, temos 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Basta reservar um milhão de quilômetros quadrados para os gatunos, que ainda sobram 7,5 milhões para os poucos que vamos ficar de fora. Será país de bom tamanho.

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