segunda-feira, outubro 29, 2012

APAGÃO

Girley Brazileiro

...e quando a noite chegava meu avô mandava um encarregado ligar o motor gerador de energia e as luzes brilhavam dentro de casa. O ploc-ploc do motor, no fundo da propriedade, dava um “fundo sonoro” rotineiro que somente silenciava às dez da noite, quando, segundo os costumes locais, era hora de dormir. Era uma rotina de vida bem comum da minha infância (ôxente, neste caso, faz muito tempo não!), em Fazenda Nova (180km. distante do Recife), e que, de modo geral, se repetia nas comunidades interioranas do Nordeste. Aliás, do Brasil. À medida que nos afastávamos do Recife a energia elétrica ia rareando e entravamos nas brenhas, onde gozei férias deliciosas. Mesmo assim, sem energia elétrica contínua, vivia-se feliz e tranquilamente Lembro a graça que era ouvir rádio ligado a uma bateria de automóvel e a geladeira alimentada por querosene.

 Prá que mais? Quando o motor era desligado e o breu se instalava, acendíamos candeeiros ou velas e corríamos para cama. Felizes, que só! A chegada da energia gerada pela Hidroelétrica de Paulo Afonso, para acender e mover o Nordeste se constituiu no maior acontecimento da segunda metade do século passado. O mundo se transformou e ninguém pode mais dispensar a eletricidade. Na quinta feira passada, quando um apagão afetou metade do Brasil, incluindo o Nordeste, (vide mapa lá em baixo) relembrei com um quê de saudade, aqueles dias da infância, misturado a um estado de perplexidade. Como não tenho candeeiros nem esses modernos focos de luz à bateria, recorri a uma vela tirada de uma decoração da casa. Quando a energia caiu, pouco antes da meia-noite, eu estava a caminho do aeroporto para levar meus filhos para um embarque. No meio da escuridão vi-me ameaçado pela insegurança que reina no Recife. É nessas horas que os malandros caem em campo. A sorte foi que os semáforos funcionaram muito bem alimentados por baterias duráveis. O aeroporto se constituiu numa ilha iluminada graças a um gerador próprio. Ainda bem, porque as aeronaves que se dirigiam ao Recife tinham como aterrissar. Na estação de passageiros, porém, o clima era de desordem. Uma fila descomunal de pessoas que aguardavam a volta da energia para pagar o estacionamento ensaiava um tumulto e dava o tom do desmantelo. Diante do tumulto a saída foi liberada e naquela noite – enquanto durou o apagão – ninguém pagou estacionamento. A empresa tomou prejuízo enorme. Veja, a seguir, o panorama do Recife na noite fatídica. Ainda bem que era noite de lua.


O exemplo do estacionamento do aeroporto é insignificante se comparado a outros serviços prejudicados e espalhados pela Região. Quantos bares e restaurantes fecharam antes da hora e tomaram prejuízo? Quantas cirurgias, inclusive as de emergência, deixaram de ser feitas. Mortes podem ocorrer numa hora dessas. Quantas indústrias pararam suas produções e foram obrigadas a rodar jornadas extras. Quanto isto e quanto aquilo? Veja o mapa da escuridão, a seguir.


 Num mundo movido pela força elétrica, o Brasil parece não ter ciência dessa referência e terminou relegando a segundo plano o trato adequado ao seu sistema de geração de energia. Faltou planejamento, faltam investimentos, falta manutenção das redes e do sistema nacional de interligação. É o que se comenta. Hoje, até mesmo o Governo espera placidamente que ocorra um apagão a qualquer momento e qualquer lugar do país. Haja irresponsabilidade... Semana passada, por exemplo, fiquei pasmo ao ouvir falar de que o final da novela da TV (Avenida Brasil) poderia provocar um apagão dada a demanda de energia que provocaria. Achei aquilo incrível. Montou-se uma prontidão e o problema não ocorreu. No caso do apagão de 5ª. Feira, “foi uma coisa improvável” afirmou o Ministro das Minas e Energia. Como improvável? Que tropeço desse cidadão! Depois, constatou-se que foi um curto circuito num ramal entre o Maranhão e Tocantins. Um curto por falta, seguramente, de manutenção! Mas, já falaram em boicote armado pela oposição. Vejam só, já querem politizar o problema. D. Dilma foi Ministra da pasta e deve estar “comendo um galo” porque não foi previdente. Te vira presidenta! Dê duro nessa frente. Agora, que dá medo disso ocorrer em tempo de Copa do Mundo ou Olimpíada, isso dá... As cassandras, aliás, estão soltas torcendo por isso! Deus nos livre dessa vergonha.

http://gbrazileiro.blogspot.com.br/

2 comentários:

Hugo Caldas disse...

Girley
Delicicoso texto. Ousei postar no meu Blog. Grato. Clicaar em: http://hugocaldas.blogspot.com.br/2012/10/apagao.html]]

Hugão

yanmaneee disse...

louboutin shoes uk
ferragamo belt
nike air max 270
off white
paul george shoes
coach outlet store online
curry 6
ferragamo belts
supreme t shirt
adidas ultra