terça-feira, outubro 30, 2012

Não poderia dar certo!

Desembarque de Cabral e asseclas
Em 1508 o Papa Julio II autorizou, quase obrigando, Michelangelo a pintar os afrescos do forro da Capela Sistina. O grande mestre evidentemente relutou o que pôde, por se considerar mais escultor que pintor. De qualquer modo ordens são ordens e o trabalho se iniciou no mesmo ano de 1508, completando-se a primeira metade em 1510 e finalmente concluído em 1512. Por essa época, Roma era a capital do mundo, e a Europa vivia o esplendor das suas pompas e circunstâncias. O Brasil, tadinho, tinha então apenas 12 aninhos de idade e nós, botocudos e tupiniquins, andávamos pelados, pelas praias, freqüentávamos a Mata Atlântica ainda intacta, felizes da vida na maior vagabundagem, caçando e pescando. Felicidade total sem essa politicagem, sem esses políticos, apedeutas e venais da República, que tanto nos infernizam a vida nos dias de hoje. Oh, os bons tempos!

Dessa época, conta Millôr Fernandes, edificante historinha mais ou menos assim:

No dia 22 de abril de 1500, três meses depois do carnaval, tarde modorrenta de escaldante verão, o morubixaba da Tribo dos Paranacuiú-nã-nã, tomava um deforete à beira mar, recostado a uma enorme pedra, enquanto coçava uma frieira no dedo mindinho do pé esquerdo. Após traçar um peixinho assado na brasa, regado à uma boa cachacinha feita da fermentação de mandioca, tomou o silvícola-mor o maior susto. Teve, como num desvario fantasmagórico, sua atenção voltada para a frota de Cabral que desembarcava, bem alí na sua frente, homens, cavalos, munição, armas e víveres. Gente muito estranha aquela. Todos vestidos - roupa pesadíssima - dos pés à cabeça. Uma loucura para o nosso clima tropical. O Chefe balançou a cabeça, estalou os lábios em sinal do mais profundo desagrado e melancolicamente comentou lá com seus botões, se botões ele os tivesse. "Isso não vai dar certo!”
   
Evidentemente não deu!

Nenhum comentário: