quinta-feira, dezembro 27, 2012

Agonia e morte de uma praça


Palmarí H de Lucena


Marco zero da Praça João Pessoa. Caminhávamos sem pressa, um peregrino dando voltas em torno da Caaba da sua juventude. Lembranças dos tempos de quando  este era o chão comum da cidade. Cerimônias cívicas celebrando a vida, os feitos e a morte do filho ilustre. Desfiles patrióticos, ciclistas quebrando recordes de resistência, festas improvisadas sendo anunciadas, romances começando ou terminando. Tudo acontecia sob a mira dos três poderes que a cercavam. Misto de tabaco e a fragrância doce da grama recém cortada permeavam o ar.

Tudo havia mudado. A lumpenização dos lugares públicos do centro da cidade mostrava suas garras implacáveis.  Mundo informal crescendo e prosperando à revelia da formalidade dos três pilares da nossa democracia. Lavadores e guardadores de carro; ambulantes vendendo tabaco, comida e toda quinquilharia que pudesse estimular os transeuntes e habituées a contribuir para a economia de sua sobrevivência. Pequenos grupos, afins ou em facções adversárias, discutiam ou antecipavam os últimos acontecimentos políticos, sempre emoldurados em interesses pessoais. Todos se diziam certos, todos estavam errados. Os vencedores reais estavam em seus gabinetes.

Decadência, desordem e vandalismo. Grama queimada pela falta d’água, pisoteada indiscriminadamente ou maculada por sacos de plástico e migalhas de parcas refeições;  bancos de madeira quebrados ou em condições precárias; carros de ambulantes seguindo grupos de turistas; árvores mal cuidadas oferecendo refúgio a sapateiros e outros trabalhadores informais.  


Mulher sentada confortavelmente em banco próximo ao tribunal, observando nossos movimentos com discreta atenção. Vestida modestamente, talvez uma funcionária em hora do descanso. Atraiu nossa atenção com um movimento súbito de mão, queria saber se éramos turistas ou trabalhávamos em uma repartição. Fotografando os problemas da praça, afirmamos. Pareceu decepcionada. Estava no seu lugar de trabalho, era uma trabalhadora do sexo. Homens casados na hora do almoço, seus melhores clientes. Sexo a preços módicos. Rápido, eficaz, discreto. Melhor valor pelo dinheiro. Poder público distante e impotente propiciava condições ideais para a sobrevivência do seu oficio na nossa praça.

Para ver galeria de fotos clicar em: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10200224622197718.2202067.1217328505&type=1


Palmari de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores palmari@gmail.com

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