quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Lembranças de meu “Cinema Paradiso”


 José Virgolino de Alencar

“Cinema Paradiso” é um filme dos anos 80, do diretor italiano Giuseppe Tornatore, que conta a história da amizade de um menino de um pequeno vilarejo com o projecionista do modesto cinema do local. O filme mostra a trajetória de Salvatore di Vitto, apelidado de Toto, uma criança típica dos burgos interioranos de qualquer parte do mundo, sua infância difícil, seus problemas da adolescência, a fase adulta, a descoberta do amor e da vida.

Um exército de Totos pode ser formado no mundo, constituído de crianças que, mesmo em meio às dificuldades da vida, encontram no cinema, ainda que modestíssimo, um divertimento que lhes preenche uma faceta agradável de seu viver.

Quem, como eu, tem origem assemelhada com a de Toto não esquece o seu ‘cinema paradiso”, a sala humilde, de projetor mambembado, imagem desfocada, porém fascinante e mágica para crianças adstritas àquele limitado horizonte.

Em Piancó, onde nasci, nos anos 50, nem tinha prédio para exibição de filmes. Meu “cinema paradiso” era o pátio da matriz, onde um herói cinéfilo vinha, em uma marinete, da vizinha cidade de Patos com a película, o projetor e a tela, passando filmes de graça e eu nem lembro quem era o mecenas patrocinador de uma diversão que muda de lugar, avança tecnologicamente, sem nunca deixar de exercer o fascínio sobre as pessoas em todos os quadrantes do planeta.

No “cinema paradiso” de Piancó, exibia-se os faroestes de Hopalong Cassidy, Roy Rogers, Rocky Lane, Gary Cooper e tantos outros heróis do western, como também as aventuras de Tarzan. Um filme, entretanto, era exibido repetidamente e fazia enorme sucesso. Era a história de Santa Maria Goretti, uma virgem atacada e morta a facadas por um louco homicida, que a gente assistia tantas vezes passasse. A fita se quebrava, a projeção paralisava, mas a criançada esperava sem cansar o recomeço do filme e a repetição dos defeitos.

Não havia pipocas, nem coca-cola, nem qualquer aperitivo. Os cowboys, os bandidos, o doidinho amigo do mocinho, a mocinha vestida dos pés ao pescoço, tudo isso causava um frisson na garotada, que curtia à beça.

Ao lado das peladas de futebol, do banho no rio, do pulo na cerca dos roçados para uma inocente roubada de frutas, era o cinema a diversão a completar um dia de brincadeiras, simples, recatadas, puras mesmo, se comparadas com a agitação de nossos dias, de galeras e ondas pesadas começando já na pré-adolescência.

Não quero que os tempos retrocedam, que recusemos o progresso, a modernidade tecnológica, os equipamentos digitalizados que são verdadeiros brinquedos a fascinar crianças e até adultos. Desejar que as reminiscências daquela época, de felicidade até inexplicada, sejam revividas na atualidade virtual será mera retórica ou erudição intelectualienada, é até querer inverter a ordem inexorável da roda do tempo.

Entretanto, a memória do que está gravado em nossa mente, em nosso HD cerebral, conquanto esteja sempre piscando na tela do monitor que as lembranças se encarregam de exibir imagens passadas, não deixa de induzir a um retorno nostálgico da época da infância. Como memória, os fatos registrados estarão nos acompanhando e proporcionando momentos de boas reminiscências.

É assim que, reiterada e renitentemente, me batem as lembranças de meu “cinema paradiso”.

2 comentários:

Hugão disse...

Amigo Virdolino
Também fui um "Totó" e o meu Cinema Paradiso era o Cine Jaguaribe, perto da minha casa. Belas evocações. Grato. Hugo

Jorge Zaupa disse...

Sou um apaixonadíssimo por bons filmes. Para mim o filme CINEMA PARADISO foi o que mais marcou minha vida. Pela amizade dos personagens,
pela determinação, pela emoção que o filme transmite, pela simplicidade, pelas lembranças dos 'cinemas paradisos' do passado. Parabéns pelo texto.