quarta-feira, março 27, 2013

A tragédia da incompetência

Ruth de Aquino
 
Não importa mais o total de mortos na “tragédia” da serra do Rio de Janeiro. Não é insensibilidade. Numa semana de histórias lacrimejantes, de perdas e heróis, não basta lamentar o destino de milhares de famílias à beira de abismos.

Não posso comemorar que milhões ou bilhões serão gastos para recuperar encostas e reassentar desabrigados. Engrossar correntes de solidariedade não resolve. Porque não acredito mais. A sociedade não acredita mais.

No bolso de quem vão parar as verbas liberadas após enchentes, diante do rosto compungido das autoridades? O prefeito de Teresópolis foi cassado por desvio.

Quantos outros não roubaram dos que nada têm, dos que perderam tudo? Eu queria ver o governador do Rio de Janeiro e os prefeitos do Rio, de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo submetidos a multa e julgamento. Por omissão e negligência criminosas.

Não há prestação de contas detalhada, não há transparência no gasto das verbas de emergência. Não há pressa. Uma hora a casa cai.

 


O que aconteceu na serra fluminense é um escândalo muito maior que o da boate Kiss em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, embora o número de mortos seja inferior.

Na hora do aguaceiro, não há portas de saída para quem vive em barraco em área de risco, não há bombeiro que dê jeito. Há sorte ou azar. Os sinalizadores da natureza matam crianças, velhos, fortes, fracos.

O fogo da boate Kiss provocou maior repercussão pelo inusitado e por suas centenas de vítimas jovens de classe média e alta. As enchentes do verão são tão previsíveis que provocaram calos em nossa consciência.

Somos obrigados a ouvir a presidente Dilma Rousseff dizer, em Roma, que não houve falha no sistema de prevenção instalado em 2011 em Petrópolis? Isso é pecado, presidente. Somos obrigados a ouvir Dilma se indignar e pedir “medidas drásticas” para remoções em locais de risco?

Quem é a responsável máxima pela política de habitação no Brasil? Quem tenta mudar, na planilha, nosso índice de desenvolvimento humano?
 

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