sábado, abril 20, 2013

Greves & Greves!


 Não sei porque cargas d'água, hoje amanheci lembrando um pitoresco episódio acontecido na cidade de Chicago onde me encontrava a serviço do Gigante Adormecido, em setembro de 1981. Participava, como gerente de um consórcio de calçados da cidade de Timbaúba, em uma das edições da Brazil-Expo, conceituada Feira de produtos deste país Pindorama.

Certa manhã tomava o desjejum em frente a um aparelho de televisão, assistindo ao noticiário do "Good Morning, America" (aqui em Pindorama copiamos tudo muito bem direitinho) quando tive a atenção voltada para uma notícia no mínimo preocupante, senão inacreditável. "Greve dos Transportes de Chicago".

- "Ah, essa eu quero ver, para crer"! Disse ao pessoal que estava me esperando para irmos juntos ao trabalho no McCormick Place, o belo centro de convenções de lá.

Eles foram de Van e eu decidi esperar um ônibus. Quando o tal ônibus chegou, notei que estava tudo na maior normalidade exceto que o motorista exibia uma pequena faixa preta no braço direito onde se lia a palavra "Strike" em amarelo, ou seja, "Greve". O ônibus praticamente lotado, o que significa que não há gente em pé. Dois ou três assentos desocupados. Lá não existe a figura do cobrador e você paga a sua passagem colocando o dinheiro em uma caixa de acrílico bem ao lado do motorista, ao mesmo tempo em que retira o troco. Estranho, não? Por sorte havia um lugar vago por perto e eu aproveitei para entabular uma conversa e me inteirar da razão de tão inusitada greve de transportes quando todos os ônibus estavam nas suas respectivas linhas funcionando normalmente.

Não era nenhuma novidade a presença de brasileiros na cidade visto a realização da Brazil-Expo. O motorista logo divisou a bandeirinha brasileira que eu sempre levava na lapela e se dignou a me contar tudo:

- "Para você contar lá na sua terra quando voltar ao Brasil". A primeira coisa já me deixou desnorteado.

- "A nossa greve não é contra o povo e sim contra a empresa." Você por acaso viu algum dinheiro na caixa das passagens? Pois é. As pessoas estão usando o ônibus mas não estão pagando um centavo. Os custos e o desgaste estão sendo os mesmos mas não está entrando dinheiro algum “. A empresa não vai agüentar muito tempo, disse-me ele.

Na realidade no dia seguinte a greve havia terminado, salvaram-se tudo e todos, ninguém furou pneus e não houve quebra-quebra. Nenhum ônibus incendiado. Estranho não?

Ainda temos muito o que aprender. Um povo que não sabe ou não quer se organizar em fila a fim de realizar um ato tão banal como embarcar em um ônibus! Um povo que esvazia pneus quebra janelas e até incendeia o seu precário meio de transporte! Um povo que ama e idolatra um time de futebol mas não tem a mínima noção de organização a não ser para ir aos estádios ou dançar até cair durante o carnaval... É, ainda temos que aprender muito nesta evolução. HC

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