quinta-feira, maio 23, 2013

Dr. Rui. Coturnos e borzeguins

josémariaLealpaes
 
Aqueles eram anos sinistros, lá fora. Lá dentro, porém, nas redações do Estadão e do Jornal da Tarde, o JT, respirávamos o ar de ser o que por longos anos deixaríamos de viver: livres. Éramos, nos textos, a resistência contra a  tirania das balas e baionetas. A luta contra um dos cruéis abortos da ditadura: a censura. Coturnos e borzeguins não nos calaram entre as paredes onde ganhávamos o pão.

Os censores sentavam rente às impressoras. A exceção não nos intimidava. Censuravam páginas para o consumo das ruas. Da porta da Rua Major Quedinho para fora. Dr. Rui não permitiu a mordaça em nosso habitat. Se discordar dele era possível, respeitá-lo era preciso pelo que significava para o jornalismo. Significou.

Vi. Vivi. Aprendi. Pude refletir – naquelas duas redações - sobre  o nexo democracia-liberdade de expressão. Sobre honra, dignidade e coragem, que tornam o jornalismo mais que fascínio profissional: olhos e ouvidos da sociedade viva. Voz dos vivos. Dos mortos, por vezes, também. Os tiranetes do petismo, que insistem na tentativa de  sufocar revistas, jornais e jornalistas livres com marcos regulatórios, haverão de comemorar a morte de um combatente da liberdade de imprensa.

Ilusão desses déspotas embrutecidos pela corrupção, pelos desmandos do poder. Enquanto, no Brasil, houver única redação livre, lá estará o espírito do dr. Rui e de sua jovem, inovadora equipe do JT dos anos 1970. Anônimo, a ela pertenci.

Nenhum comentário: