segunda-feira, maio 27, 2013

Engrenagem da inflação

Ipojuca Pontes
 
Os economistas, eternos devotos de uma ciência sombria, ensinam que a inflação é excesso de papel moeda para uma escassez de mercadorias, mesmo que as mercadorias sejam produzidas em ritmo frenético. Alimentada não por acaso pelo governo, a inflação deve ser considerada, sempre, como  uma forma indireta de tributação a incidir sobre a indefesa população.
   
Mas Ludwig von Mises, economista da Escola Austríaca, sem propriamente contestar, desconfiava da teoria de que a diminuição proposital do poder aquisitivo da unidade monetária tenha tido papel decisivo na evolução da história. Para ele, inflação e deflação são faces da manipulação dos governos, em geral socialistas, para ferrar a patuléia ignara.
    
Na verdade, ao adotar políticas econômicas inflacionárias ou deflacionárias, a máquina do governo, longe de atender o bem-estar geral, está apenas atendendo interesses de grupos privilegiados ou da própria máquina oficial. Segundo Mises, a expansão da base monetária sempre resulta em investimentos desbaratados e na exacerbação do consumo – o que torna a nação, como um todo, mais pobre: “Uma inflação continuada acaba provocando a alta desastrosa de preços e a completa ruína do sistema monetário”. Para ele, se o mal causado pela deflação é considerável, o da inflação é maior – e só empanturra as burras do Tesouro.



     Na teoria, embora o governo tenha fixado a meta inflacionária em 4.5%, na prática a inflação anual brasileira tem variado em torno da marca de 6% - o que significa dizer, na soma dos últimos quatro anos, uma inflação acumulada em cerca 24% - um rombo (roubo) indigesto na vida econômica do espoliado cidadão-contribuinte.
    
Eis os dados: em 2012, a inflação da China foi de 2,4%; nos Estados Unidos ela atingiu 1,5%; a do Chile ficou em 1%. Com a inflação mundial em baixa, até mesmo um burocrata do Banco Central, Luiz Awazu, apareceu para dizer que a inflação do Brasil é “elevada, difusa e persistente”. Nesta reta, um representante da Força Sindical, aliada do governo, pediu a volta da indexação salarial com negociações de dissídios coletivos a cada três meses - o mesmo que acionar, a médio prazo, o velho gatilho da hiperinflação. Deus do Céu!
    
De fato, a maré inflacionária regurgita. Os produtos industriais estão sendo reajustados numa média de 20%. O setor de serviços bate os 8,30%. No cotidiano, a hora do estacionamento aumentou 65% e guardar o carro custa mais que o salário do motorista. O preço das passagens aéreas subiu 132%. Por outro lado, qualquer birosca metida a besta está cobrando R$ 400 por refeição. Como dizem os malandrins do governo, é mais barato viver em New York ou Paris do que no Rio de Janeiro.
    
Detalhe: para manter o consumo em alta, que rende em impostos R$ bilhões aos abarrotados cofres públicos, o golpe do poder petista é incentivar o consumo pela  manutenção artificiosa do crédito fácil. Com isso, os estrategistas de Brasília estouram os orçamentos domésticos, oficializam o calote, mas enfiam uma fortuna no estomago do ogro. Por exemplo: na venda de um carro popular de R$ 33 mil, o fisco engole em tributos 39% do seu valor.  
    
A propósito de impostos, de acordo com dados do IBGE, o PIB brasileiro em 2012 rondou a casa dos R$ 4.403 trilhões. Desse considerável ervanário produzido por empresários e trabalhadores, a canalha oficial se apropriou de cerca de dois trilhões de reais. A pergunta que se faz é a seguinte: para onde vai essa grana fabulosa? 
    
Resposta: entre outras mazelas, para manter a gigantesca militância do PT pendurada nos polpudos salários dos 39 ministérios e empresas públicas; financiar obras faraônicas tipo Transposição das Águas do São Francisco, um caudaloso hidronegócio orçado pelo governo Lula em R$ 4.6 bilhões, mas que, se acaso concluído, em 2025, ultrapassará a casa dos R$ 30 bilhões; distribuir a bilionária grana do BNDES com empresários inadimplentes do porte de Eike Batista, grande doador de grana para as campanhas do PT; manter acesa, com gordas gratificações, a revanche da mentirosa “Comissão da Verdade”,  inventiva na criação de mártires e pródiga na doação de ricas indenizações para terroristas em geral, a começar por Dilma; estimular com bilionárias verbas publicitárias a ética relativista da grande imprensa, em especial a mídia televisiva de maior audiência; cooptar e manter no cabresto a chamada classe artística, sempre sedenta de dinheiro subsidiado, em especial o pessoal do insaciável “cinema da retomada”, capitaneado por Don Barretão e o bem-falante Cacá Diegues, um quadro corporativo empenhadíssimo na arte de tomar recurso público a fundo perdido.  
     
Como o espaço findou, deixo a cargo do  leitor a tarefa de anotar demais rombos e fraudes cometidos contra o Erário, a começar pelos “malfeitos” de Rosemary Noronha, a amiga íntima de Lula acusada de tráfico de influência, corrupção e formação de quadrilha. 
    
Até.

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